sexta-feira, 17 de julho de 2015

René Simões denuncia. Dirigentes queriam escalar o Botafogo. Por isso foi mandado embora. Deixando o clube em primeiro lugar na Série B. Esse é o futebol brasileiro...

René Simões denuncia. Dirigentes queriam escalar o Botafogo. Por isso foi mandado embora. Deixando o clube em primeiro lugar na Série B. Esse é o futebol brasileiro...




Para quem duvida como as coisas acontecem no futebol brasileiro. René Simões assumiu o Botafogo só com duas missões. Classificar o time para a Série A. E classificar a equipe entre os quatro no Carioca. Apenas isso. Ele ouviu dos dirigentes que não teriam como pagar muito. A dívida do Botafogo é a maior do Brasil. Já são R$ 845 milhões. Ele aceitou o salário de R$ 70 mil mensais. Um dos menores do país. A torcida e a diretoria estavam conformados. Acreditavam em campanhas medianas. E até aceitariam. Pelo menos eram o que disseram a René. Mas veio o Campeonato Carioca. O clube conseguiu se superar e chegou à decisão do título. O que incendiou o ambiente. Todos passaram a acreditar e cobrar o título. Mas o Vasco conseguiu ser campeão. Por irônico, seria melhor se o Botafogo não tivesse chegado. Veio a Série B. Mesmo com um time limitado, o time é o líder da competição. Está em primeiro lugar. Mas a Copa do Brasil também seria disputada ao mesmo tempo. A equipe passou pelo Botafogo da Paraíba e Capivariano. Chegou o Figueirense. Antes da Copa América, o time conseguiu excelente resultado. Empatou em 2 a 2 em Santa Catarina. No jogo da volta, no Rio, criou inúmeras chances. Chutou bola na trave. Poderia empatar em 0 a 0, 1 a 1. Mas tomou um gol aos 46 minutos do segundo tempo. De letra de Marcão. O time estava eliminado em pleno Engenhão. Dirigentes ensandecidos. O pior deles, o vice de futebol, Antonio Carlos Mantuano, tentou agredir o técnico do Figueirense, Argel. Foi contido por seguranças, em uma cena lamentável.

Depois a raiva foi ser descontada em René Simões, o técnico. Baratinho, fácil de mandar embora. E assim aconteceu. Com o Botafogo em primeiro lugar da Série B. Seria uma maneira de acalmar os torcedores. E a imprensa. Repassar a culpa e ponto final. Só que René Simões fez questão de enviar uma carta aberta de despedida. E o experiente treinador de 63 anos mostra outros absurdos. Entre eles, dirigentes que desejavam escalar um jogador ou outro. E tiveram seus interesses contrariados. Este seria o verdadeiro motivo de sua demissão. Nada mais deve causar espanto neste futebol brasileiro. Abaixo a inacreditável carta de René Simões. O homem que foi contratado para colocar o clube pelo menos entre os quatro do Carioca. Fez o clube, o segundo. E, a prioridade, fazer o clube um dos quatro primeiros Série B. A quarta colocação seria mais do que aceitável. É mandado embora liderando a competição.

"Caro torcedor alvinegro, Costumo dizer que o treinador só tem uma certeza – a incerteza de seu cargo. Ontem isso ficou comprovado na prática. Tenho optado em minha carreira em não me pronunciar nesses momentos, pois não gosto de aumentar especulações. Porém, minha passagem pelo Botafogo, assim como minha saída, foi diferente de muito o que já vivi, e quis dividir isso com vocês. Peço licença aos jogadores, aos quais disse ontem que não iria falar nada. Entrei no Botafogo com duas missões dadas pela Diretoria – ficar entre os primeiros quatro times do Carioca e subir para a Série A. Saio com a conquista da Taça Guanabara, o vice-campeonato Carioca e a liderança da Série B. Sim, estávamos passando por um momento difícil, com resultados atípicos para o padrão que foi estabelecido durante a minha passagem. Padrão esse que estava muito além do que qualquer um poderia imaginar no início do ano. Em junho, avisei à Diretoria que passaríamos por um período difícil. Exatamente como aconteceu com o Corinthians e pelo mesmo motivo: desmontagem do grupo inicial. Dito e feito.

Para você, torcedor apaixonado (mesmo que conhecedor de futebol), às vezes é difícil entender por que um treinador insiste em um jogador ou outro, mas a verdade é que a saída do Mattos, Jobson, Gilberto e Bill afetaram o time. Um jogador não precisa fazer gol ou ser o melhor em campo para ter um efeito importante nos outros 10. As lideranças fazem diferença. Não costumo me despedir dos jogadores ao ser mandado embora e fazer entrevistas coletivas. Ontem, pela primeira vez, me despedi deles. Precisava fazer isso, pois o grupo, apesar do que alguns dizem, estava muito unido. Costumo brincar que um treinador tem 11 jogadores que gostam muito dele, 7 que gostam dele e outros tantos que querem que ele seja mandado embora. Nenhum jogador que se preze gosta de ficar fora, mas a sintonia do grupo estava muito boa. Ouso até dizer que foi o grupo mais coeso e profissional com o qual já trabalhei. Além do mais, não escondo de ninguém que quem escala, tira ou põe sou eu. Para alguns, isso pode ser considerado intransigência, mas escuto apenas a Comissão Técnica e mais ninguém, assumindo 100% de responsabilidade na função para a qual fui contratado. Isso aborreceu alguns, que me chamavam de dono da verdade. Soube, através da mídia, que o estopim da decisão para minha saída foi a entrevista na qual elogiei a equipe apesar da derrota. Você torcedor, que acompanha cada passo do time, sabe que em todas as entrevistas desde o começo do Carioca comentei performance, independente de resultado. E em inúmeras vezes disse que achei que o time foi mal apesar da vitória, pois me baseio em indicadores, números e estatísticas para passar a minha análise do jogo. Não poderia ser diferente no jogo contra o Figueirense. Jogamos o primeiro tempo muito bem sim, como fazíamos no Carioca. Com a saída do Elvis e do Otavio, caímos no segundo tempo e não mantivemos o mesmo nível. Isso jogando contra um time de Série A, numa competição que não estava nos planos de meta para 2015, e na qual, infelizmente, perdemos o primeiro jogo na competição, e no nosso estádio, aos 47 minutos do segundo tempo. Fiquei zangado com a derrota, mas resignado em poder focar no Brasileiro, pois estávamos todos confiantes de que o trabalho tinha qualidade suficiente para contornar esse momento difícil. Afinal, alguém esperava que o ano do Botafogo fosse fácil?

Minha surpresa foi apenas ao ver que, ao contrário de algumas mensagens internas que recebi em momentos de vitórias, todo o caminho difícil não seria mais trilhado junto. Prefiro ficar com a lembrança das mensagens mais verdadeiras, que recebi ontem. Geralmente quando se está "por baixo" o telefone raramente toca, e receber tantas mensagens e telefonemas de apoio me deixou muito feliz. Quero agradecer a todos que o fizeram. Saio de cabeça erguida como sempre. Saio com a sensação de ter cumprido tudo aquilo que me foi estabelecido, e com a certeza de que o tempo que gastei me reciclando e me atualizando antes de voltar a atuar como técnico de futebol me fez muito bem, e que tenho uma comissão técnica muito competente. Aos funcionários, jogadores e torcedores do Botafogo, agradeço pelo tempo que passei no clube, do qual sempre terei boas lembranças. Obrigado René Simões" É bom o novo treinador ler com atenção a carta de René. E se preparar. Talvez tenha de fazer uma pergunta singela aos dirigentes. "Qual é o time que eles querem ver escalado?" Assim é o futebol brasileiro...




Fonte: Esportes R7
Autor: cosmermoli
Publicado em: 17 Jul 2015 16:50:12

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