segunda-feira, 13 de julho de 2015

Revoltada com o Real Madrid, Mari Carmen desanca o Porto. Envergonhada, se desculpa. Lurdes enfrenta a polícia pelo seu rebento, embriagado e escondido. Seus filhos Casillas e Jobson são tão diferentes. Mas elas, iguais. São mães...

Revoltada com o Real Madrid, Mari Carmen desanca o Porto. Envergonhada, se desculpa. Lurdes enfrenta a polícia pelo seu rebento, embriagado e escondido. Seus filhos Casillas e Jobson são tão diferentes. Mas elas, iguais. São mães...




“O Porto? Por amor de Deus. Quando saiu a notícia de que estava a procurar casa em Roma telefonei e perguntei ‘o que vai fazer? Não vai’. Agora imaginem para o Porto. É uma equipe da Terceira Divisão para alguém da categoria do Iker. Um campeão do mundo não pode acabar no Porto. Podia ter acabado onde quisesse, e não me importava que tivesse ido para o Barcelona." "O que fizeram com o meu filho foi um absurdo. Invadiram a nossa casa colocando a mão na cara dele. Quebraram o nariz dele e o deixaram com diversos hematomas pelo corpo. O Jobson errou ao ter bebido e dirigido, mas nada justifica o que fizeram. Machucaram a minha outra filha e o meu pai, de 76 anos." Mari Carmen Fernandéz e Lurdes de Oliveira. As duas têm em comum o desespero. O motivo são seus filhos. Por eles são capazes de tudo. Principalmente enfrentar, de sua maneira, o mundo. Mari se acostumou com Iker sendo o orgulho da família. Nasceu nas categorias de base do Real Madrid. Muito talentoso e de ótima índole, logo ganhou espaço. Conquistou tudo o que era possível no clube e na Seleção. Ganhou, como capitão, a Copa do Mundo de 2010. Duas Eurocopas. Mundial sub-20. Campeonatos Europeus sub-15 e sub-17. Foi o goleiro mais jovem do mundo a participar de uma Champions League. E foi campeão, com 19 anos. Ainda venceu mais duas Champions, dois Mundiais de Clubes, cinco Campeonatos Espanhóis. Mais inúmeros prêmios individuais. Foram nove anos nas categorias de base e mais 16 como profissional. Dos 34 anos que completou em maio, 25 anos passou no Real Madrid. Só que Casillas cometeu um pecado mortal. Envelheceu. Não é mais o goleiro prodígio, de excepcionais reflexos. Sua explosão muscular não é mais a mesma. No clube e na seleção. Passou a ser contestado nos dois lugares. A torcida e a diretoria do clube sonham com De Gea do Manchester United. Iker sabia muito bem disso ao fazer seu discurso de despedida do Real Madrid. Chorando muito, ele falou. "Quero me dirigir a todos os madridistas. Após 25 anos defendendo o escudo da maior equipe do mundo, chega um dia difícil em minha vida esportiva: dizer adeus a uma instituição que me deu tudo. Aos nove anos, vesti pela primeira vez a camisa do Real Madrid e vi cumprido meu sonho. Durante todo esse tempo, sofremos, rimos, choramos, disfrutamos juntos. Senti-me abraçado e muito querido, tanto nos bons, quanto maus momentos." Foi com a emoção do seu filho milionário chorando que Mari Carmen transferiu a raiva pela saída do Real Madrid. E desancou o Porto, que não tinha nada a ver com a situação. Pelo contrário, ofereceu um contrato de dois anos, com a possibilidade de um terceiro, ao goleiro que está desacreditado na Espanha.

A cena muda radicalmente de lugar. Deixa de ser a luxuosa sala de coletivas do Real Madrid. Passa a ser a uma casa simples de Conceição do Araguaia. Policiais batem furiosamente na porta. Querem saber de Jobson. Bastava citar seu nome e o sorriso iluminava o rosto de Lurdes de Oliveira. O talento do seu filho com a bola nos pés iria mudar o destino da família humilde, da cidade pequena do sul do Pará. Ele mandava notícias de Brasílias, tinha vencido. Era jogador do Brasiliense. Tinha 19 anos.

Mas ele contava apenas metade da história. No gramado mostrava velocidade e faro de gols. Mas fora, só confusões, bebedeiras, farras, e fugas esporádicas para Conceição do Araguaia. Dizia que estava liberado pelo clube. Mas a verdade é que sentia saudades dos amigos, das pescarias, das conversas madrugadas a dentro. Foi emprestado para o Jeju United da Coreia do Sul. E quase "morreu de saudade" do Brasil, dos pais. Era um talento bruto, mas sem o menor trabalho psicológico. Não houve interesse em prepará-lo como atleta. Mesmo assim, foi parar no Botafogo. Houve uma festa inesquecível na casa de dona Lurdes com a transferência. Ele seria o Garrincha que daria certo. Seu bom futebol encaminhou sua ida para o Cruzeiro. Só que a transação foi cancelada. Exames antidoping ainda no Botafogo revelaram o uso de cocaína. Ele confessou ter usado pedras de crack. Dona Lurdes ficou envergonhada, mas deu todo o apoio ao filho. De acordo com ela foram as "más companhias" no Rio de Janeiro. Sua pena seria de dois anos. Mas foi reduzida para seis meses. O Botafogo resolveu assumir o jogador e o contratou por cinco anos. Nova festa em Conceição do Araguaia. Novas decepções. Jobson alternava ótimas partidas, com desempenhos bizarros. Suas farras noturnas não terminavam. Foi emprestado para o Atlético Mineiro, Bahia, Barueri, São Caetano.

Até que o Al-Ittihad da Arábia Saudita o levou emprestado por um ano, em 2013. Não se adapta às rígidas exigências morais. Acaba afastado do time. Briga com a diretoria. Seu passaporte foi retido. Não podia voltar ao Brasil. Foi quando surgiu a denúncia que ele havia se recusado a fazer exame antidoping. Ele negou, disse que era vingança dos dirigentes. O Botafogo o aceitou novamente. Tinha ainda um ano e meio de contrato. Em uma partida contra o Figueirense em novembro do ano passado, não obedeceu Vagner Mancini e desperdiçou um pênalti para o Botafogo. Cobrou mal demais e a bola foi alta, longe. O time catarinense venceu a partida. E os torcedores botafoguenses exigiam que a diretoria fizesse exame antidoping em Jobson. Desmoralização pública. Mas o pior viria. A Fifa decidiu suspendê-lo por quatro anos por ter fugido do exame antidoping quando atuava no Al-Ittihad. Seu contrato com o Botafogo acabou. Aos 27 anos, sua carreira parece que também. Há 11 dias, andava no seu carro em Conceição do Araguaia. Policiais tentaram parar o carro. Ele se recusou a parar. Perseguido pela polícia, foi para casa. Entrou correndo e se escondeu. Policiais batem furiosamente na porta. Querem saber de Jobson. Dona Lurdes abre e diz que ele não está. Enfrenta a truculência dos soldados, mas é empurrada para o lado. O avô de 76 anos tenta ajudar, mas também é empurrado. Assim como a tia do jogador. Ele é encontrado. Embaixo da cama, atrás do armário, no forro do teto. As versões são cada vez mais constrangedoras. Um soldado cortou a mão. Há que diga que foi mordido por Lurdes.

A polícia confirma a embriaguez. Jobson acaba detido dois dias na delegacia. Sua imagem sentado sem camisa, algemado, corre o Brasil. A família teve de fazer uma "vaquinha" para arrecadar R$ 7.780,00 o dinheiro da fiança. Jobson não tem mais contrato com qualquer clube. Não há mais fonte de renda. Ninguém sabe como estão suas condições financeiras. Há outro problema enorme. Ele foi acusado de agredir a esposa quando estava no São Caetano. O Botafogo é quem bancava seu advogado de defesa. O processo não se encerrou. "Temos a certeza que ele voltará a jogar. Não pensamos em outra coisa que não seja isso. O Jobson só sabe jogar futebol e foi Deus que o colocou nos campos", diz a esperançosa Lurdes. Quanto a Mari Carmen, ela fez questão de dar entrevista às rádios portuguesas. E admitiu que errou. "Estou muito agradecida ao Porto por ter acolhido meu filho. As minhas desculpas estão apresentadas, peço mil perdões, e espero que o meu filho possa triunfar tanto no Porto como no clube que até agora foi a sua casa. Quero a contratação do meu filho e espero que ele possa corresponder com o seu trabalho e dar muitos títulos a esse enorme clube que é o Porto", disse ontem. O goleiro se apresentará amanhã. Lurdes e Mari Carmen. Mulheres que são capazes de tudo por seus filhos. Tenham eles o potencial, o talento, o comportamento que tiverem. Elas os defenderão com unhas e dentes. Darão, se preciso, a vida por Casillas e Jobson. Embora tão diferentes, tão iguais. São mães...




Fonte: Esportes R7
Autor: cosmermoli
Publicado em: 13 Jul 2015 11:50:59

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