quarta-feira, 21 de outubro de 2015

As denúncias de corrupção no São Paulo desviam a atenção. Banalizam a despedida de Rogério Ceni. O adeus do maior ídolo da história do Morumbi é frustrante. Como não deveria ser...

As denúncias de corrupção no São Paulo desviam a atenção. Banalizam a despedida de Rogério Ceni. O adeus do maior ídolo da história do Morumbi é frustrante. Como não deveria ser...




Silvio Caldas foi um dos maiores cantores do Brasil. Sua voz afinada, firme e mais a interpretação, digna de um grande ator, marcaram época. Principalmente entre as décadas de 40, 50 e 60. Seu maior sucesso foi a canção Chão de Estrelas, que escreveu com Orestes Barbosa. Um clássico. Silvio ficou marcado como o "cantor das despedidas". Entre 1970 e 1990, cansou de anunciar que faria sua "última turnê" pelo Brasil. Talvez tivesse mesmo a intenção de parar. Talvez fosse truque de empresário. Mas invariavelmente, nos anos seguintes estava se despedindo de novo. A situação se transformou em piada, que até mesmo ele ironizava. Quando realmente parou de cantar, não houve choque algum. Sua voz já não era mais a mesma, graças ao álcool e cigarro. Morreu em 1998.

Rogério Ceni é o maior ídolo da história do São Paulo Futebol Clube. É um fenômeno em todos os aspectos. Recordista do futebol mundial. Goleiro, marcou até agora 131 gols. 1234 partidas em 25 anos de São Paulo. 42 anos. Desde 2011, quando atingiu a meta de 100 gols e 1000 jogos pelo clube, sua despedida é assunto no Morumbi. Ele mesmo cultivou essa expectativa. "Se o time não voltar a ser vencedor, paro em dezembro de 2012. Jamais passaria de 2013 ou 14. O Juvenal vai chegar à Copa, eu provavelmente encerro minha carreira antes." Garantiu em janeiro de 2011. O clube ganhou a Sul-Americana, em uma briga até hoje muito mal explicada nos corredores do Morumbi, durante o intervalo. O time argentino não voltou para jogar o segundo tempo. E, sem saber, não dava só o título ao clube brasileiro. Mas esticava a carreira de Ceni. Mas em 2013 não houve conquistas, só decepções e Ceni deixou claro que a temporada seria a última. "Não queria ir embora daqui assim. A hora do último jogo da carreira está chegando. Esse deve ser meu último ano...esse será meu último ano, e não podia ir embora daqui assim." Ele deu essa declaração em abril de 2013, se referindo à falha contra o The Strongest na Libertadores. Após esta partida, a mulher de seu reserva, Denis, não se conteve. Colocou no seu facebook, sem rodeios. "Rogério Ceni falha no primeiro gol!!! Ele não dá chance nem para a mãe dele."

Carol Paes Matos se referia ao fato dele ter jogado machucado. E foi absolutamente infeliz ao mostrar sua indignação. Rogério perdeu a mãe, Hertha, em agosto de 1993, quando disputava o torneio Tereza Herrera, na Espanha. Denis repreendeu a esposa, pediu desculpas a Rogério. Mas Ceni seguiu atuando. Deixou a despedida para 2014. Seria o fim. De qualquer maneira. "Dessa vez eu vou parar no fim do ano mesmo. Será meu último ano como atleta profissional." O aviso foi feito no dia 3 de abril do ano passado. Ele estava abalado pela eliminação do Paulista diante da Penapolense. Mas a promessa outra vez não virou realidade. Por um motivo oficial. O São Paulo havia se classificado para a Libertadores de 2015. E o outro extraoficial. A revelação que tem um filho fora do casamento. O exemplo de jogador e marido, pai de duas filhas, ficou abalado. Ao ponto que acabou se separando. Apesar de sempre tentar passar a imagem de homem centrado, forte psicologicamente, a separação, com a revelação de um filho fora do casamento, e o final de carreira ao mesmo tempo seria demais. E ele decidiu ficar até o final da Libertadores. Renovou até o dia 5 de agosto. Até a patrocinadora Penalty, que havia feito a "última" camisa de Ceni, passou vexame. Mas no dia 5 de junho, a "novidade". Rogério Ceni ficaria até dezembro deste ano. O último contrato.

A prorrogação foi ideia do ex-presidente Carlos Miguel Aidar. Ele foi convencido pelo ex-vice de marketing, Douglas Schwartzmann. O São Paulo deveria faturar em cima do fim da carreira do seu maior ídolo. Seriam inúmeras ações envolvendo o jogador. Seis meses para cobrar caro dos fãs de Ceni. A ideia era aproveitar cada um dos 18 jogos que restavam de Rogério no Morumbi. Fazer uma contagem regressiva que o Brasil inteiro acompanharia. Colocar torcedores acompanhando o time nas últimas viagens do goleiro. Organizar partidas e mais partidas no Morumbi com Ceni em campo. Relógios de Ceni, camisas, bonés, chuteiras, calções, agasalhos luvas, cds, dvds, revistas, livros. Tudo seria vendido a peso de ouro. Alguns amistosos deveriam acontecer nas grandes cidades do país. Um tour de adeus. O grand finale seria a partida de despedida. R$ 1 milhão já estava reservado para os jogadores do Liverpool, que decidiram o Mundial de 2005. A expectativa de Aidar era o clube faturar pelo menos R$ 4 milhões com o adeus no Morumbi. Em janeiro ou fevereiro de 2016. Mas as denúncias de corrupção ao ex-presidente e ao vice de marketing acabaram a magnitude dos planos. A despedida de Rogério Ceni virou a última das prioridades. O principal agora no Morumbi é a disputa política, com o presidente interino, Carlos Augusto Barros e Silva, se manter no poder. Tentar abortar candidaturas da oposição. Já conseguiu a do ex-presidente e desafeto de Ceni, Paulo Amaral. Além disso, há a esperança da classificação para a Libertadores de 2016. O clube começa hoje a disputa com o Santos pela semifinal da Copa do Brasil, título inédito para o São Paulo e, evidente, para Rogério Ceni. O time joga hoje no Morumbi. Se os comandados de Doriva vencerem, haverá outro jogo em casa, a final. Serão dois. No Brasileiro, restam Sport, Atlético Mineiro e Figueirense. Na melhor das hipóteses, mais cinco partidas para Ceni atuar diante dos torcedores. E outras seis fora. Inclusive a última, diante do Goiás, a derradeira do Brasileiro, dia 6 de dezembro.

Dos 65.666 ingressos colocados à venda para o clássico contra o Santos, na importantíssima semifinal, cerca de 20 mil haviam sido vendidos até ontem à noite. Uma prova da descrença da torcida e da falta de foco no próximo adeus de Rogério Ceni. O fraco futebol do time é o que prevalece, o assunto mais forte. Vários foram os fatores que fizeram o ídolo são paulino adiar sua despedida. Nunca falou por falar. Teve dores terríveis em 2012, 2013 e 2014 para seguir jogando. Este ano está melhor fisicamente, aos 42 anos, do que nos três anos passados. Desejava mesmo parar. Aceitou várias vezes o pedido dos dirigentes para prosseguir. Mas agora jura que é para valer. As poucas pessoas que são próximas dele garantem que está saturado. Quer fazer outra coisa da vida em 2016. Estudar, viajar, descansar. Decidir entre ser treinador ou dirigente. Cada dia muda de ideia. A única convicção é que a carreira de futebol acabará. Vaidoso, quer ter como último prazer a classificação para a Libertadores. O ideal seria sendo campeão pela última vez. Vencendo a Copa do Brasil. Por isso está falando mais do que Doriva com seus companheiros. Quer que eles dêem um último presente, o "título que falta" na carreira de 25 anos. A conquista do Brasileiro já é impossível. O G4 também está complicado.
Mas algo pelo menos é certo. Sua despedida está sendo muito diferente do que imaginava. Sem parar o Brasil, sem badalação. A renúncia forçada de Aidar, as terríveis denúncias de Ataíde Gil Guerreiro e os seguidos fracassos do time tiraram o brilho. Assim também como suas várias promessas de término de carreira que não se concretizaram. O goleiro falou antes de saber o que faria de verdade. A carreira do maior ídolo do São Paulo não tem nada a ver com um dos maiores cantores da história do Brasil. Nunca usou o seu adeus para se promover. Pelo contrário, só mostrou a falta total de convicção, planejamento de vida. O que ambos têm em comum são os adeus que não se concretizaram. Um assunto tão delicado quanto o término da trajetória profissional precisava ser levado mais a sério. Faltam apenas 46 dias para que pendure as luvas definitivamente. Tudo foi muito mal conduzido. O adeus de Rogério Ceni caminha a banalidade. Como não deveria ser...




Fonte: Esportes R7
Autor: cosmermoli
Publicado em: 21 Oct 2015 11:19:30

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