segunda-feira, 16 de novembro de 2015

A arrancada empolgante do Cruzeiro. Da ameaça de rebaixamento à briga pela Libertadores de 2016. Reviravolta graças ao 'novo humilde' do futebol brasileiro: Mano Menezes...

A arrancada empolgante do Cruzeiro. Da ameaça de rebaixamento à briga pela Libertadores de 2016. Reviravolta graças ao 'novo humilde' do futebol brasileiro: Mano Menezes...




O Cruzeiro tinha uma vitória em dez partidas. Havia acabado de ser eliminado da Copa do Brasil pelo Palmeiras. Perdia em casa para o Santos. Tinha 22 pontos em 22 jogos no Brasileiro. Estava a três pontos da zona do rebaixamento. A segunda divisão era uma possibilidade real para o clube que venceu os últimos dois campeonatos nacionais. A torcida implorava, a imprensa local finalmente se convencia que o treinador era uma caricatura do que havia sido e a diretoria finalmente tomou coragem e mandou embora o ultrapassado Vanderlei Luxemburgo. A dispensa aconteceu no dia 31 de agosto. No dia seguinte, Mano Menezes foi contratado. Luiz Antônio Venker Menezes teve a chance de assumir o Cruzeiro sete anos atrás. No mesmo dia almoçou com Andrés Sanchez e jantou com Zezé Perrella. Além de não ter pago a conta em nenhuma dessas refeições, o técnico escolheu reestruturar o Corinthians na Segunda Divisão. O tempo passou, Mano agiu como todos sofressem de amnésia crônica. E disse que estava realizando um "sonho" trabalhar na Toca da Raposa. Mano Menezes chegou com o ego muito ferido. Foi dispensado da Seleção Brasileira quando tinha a certeza que a dirigiria na Copa do Mundo e depois trabalharia na Europa. Foi um fracasso no Flamengo. Voltou para o Corinthians com a certeza que ficaria pelo menos quatro anos. Ficou apenas um. Entrou em curso de imersão em inglês. Tinha convicção que seria chamado para trabalhar nos Estados Unidos. Não foi. Aí surgiu o Cruzeiro. O egocêntrico treinador precisava de um grande trabalho. Ele perdeu muito espaço na mídia e conceito entre os dirigentes. Além da necessidade em rever conceitos táticos, tinha de melhorar psicologicamente. Ceder em relação à hierarquia. Um dos fatores que sempre prejudicaram o técnico foi o distanciamento exagerado dos atletas. Finalmente ele entendeu que faltava algo essencial para qualquer parceria: cumplicidade.

No Cruzeiro, fez questão de valorizar os atletas e ter várias conversas com o elenco. Ressaltou o que Luxemburgo havia arrasado: a autoestima dos atletas. O treinador que foi para o exílio na Segunda Divisão Chinesa, fez de tudo para tentar sobreviver no cargo. Principalmente humilhar os jogadores. Dizer para os jornalistas que em 2016, a diretoria prometia um elenco forte. Isso soava como veneno aos atletas. Mano não é idiota. Sabe que o Cruzeiro trocou qualidade do time bicampeão do país por dinheiro. Nem de longe poderia pensar no 4-2-3-1 de Marcelo Oliveira. E optou pelo mesmo esquema de Vanderlei Luxemburgo. O 4-1-4-1. Mostrou na prática que o igual pode ser muito diferente. Mano não quis apenas a pose "modernista" que Vanderlei tentou mostrar. Com Mano o Cruzeiro ficou realmente compactado, tanto para atacar como para defender. O treinador voltou a explorar algo que aprendeu muito bem. A velocidade contragolpes. Seu time prefere ser atacado do que atacar. O resgate de Willian, maior desperdício de Luxemburgo, é um grande resumo desta objetividade. Sem ser brilhante, a movimentação do velocista sem posição fixa no ataque desmonta defesas e abre espaço importante aos meias. As duas linhas de marcação quando o time perde a bola são executadas com reverência, obediência difícil de conseguir nos times brasileiros. Mano percebeu que Luxemburgo também errava em relação a Henrique e Willians. Havia inversão. O que tinha mais visão de jogo estava pela lateral na segunda linha de marcação. E o mais ofensivo estava centralizado, atrás. Essa troca foi importantíssima.

Assim como a redescoberta que o time poderia triangular pelas laterais. Ceará e Fabrício têm neurônios suficientes para concatenar jogadas com Willians e Marcos Vinícius. Os contragolpes em velocidade do Cruzeiro passaram a ser dos mais efetivos no futebol brasileiro. Assim como o poder de recomposição. Não é nada fácil atacar esse Cruzeiro que era tão frágil nas mãos de Luxemburgo. O preenchimento de espaço é algo que entusiasma. A doação dos atletas tem tudo a ver com orientação, treino e afinidade com o técnico. A recuperação dos mesmos jogadores no Brasileiro faz pensar. E valorizar a presença de um treinador atual e entender o porquê de um ultrapassado não funcionar. Como o que acontece com Leandro Damião. Mano tirou o peso da obrigação de ser o artilheiro da equipe. E até sua posição de titular. Mas quando está em campo, é uma peça em prol do conjunto, o time não precisa jogar para que ele marque gols, postura absurda que era repetida no Cruzeiro. Os números deste Cruzeiro de Mano são impressionantes. São 13 jogos com o treinador. Sete vitórias. Cinco empates e apenas uma derrota. 26 pontos conquistados. Oitava colocação. São 51 pontos. A três do quarto colocado. O sonho de classificação para a Libertadores, que parecia impossível no início do Brasileiro, é real. Nem Gilvan Tavares esperava essa reação. Só sonhava com a tranquilidade. A certeza de que o time não seria rebaixado. Mas a realidade mudou.

Desta vez o fator a ser valorizado é o do treinador. Os jogadores seguiram o mesmo. Foram redistribuídos em campo. Valorizados. Treinados de verdade. Ganharam força física, velocidade. O time melhorou passe, lançamento, chute. E consciência tática. Méritos ao treinador que era considerado um dos mais antipáticos e prepotentes do país. Pelos próprios jogadores que trabalharam com ele. Nos clubes e na Seleção. O sofrimento parece ter feito bem a Mano Menezes. Em vez de pose e estudar fonoaudiologia, foi buscar conteúdo. O Cruzeiro aprendeu também que dez anos muda demais um treinador. Luxemburgo não é nem sombra do treinador que foi. A torcida cruzeirense está mais do que empolgada. Faltam três rodadas e a Libertadores é uma possibilidade. Mais do que isso. Há a certeza de que, com a camisa azul celeste, há um time. Moderno, competitivo, vibrante. Não um triste amontoado de jogadores. Isso é mérito de Mano Menezes. Um homem que redescobriu algo fundamental. O poder da humildade, da cumplicidade com os jogadores. O sofrimento, as decepções ensinam...





Fonte: Esportes R7
Autor: cosmermoli
Publicado em: 16 Nov 2015 11:33:22

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