quarta-feira, 4 de novembro de 2015

Depois de 157 dias preso, Marin vai se arriscar a morrer na cadeia? Ou delatará seus parceiros corruptos? Esta é a dúvida na sua constrangedora chegada, extraditado, em Nova York...

Depois de 157 dias preso, Marin vai se arriscar a morrer na cadeia? Ou delatará seus parceiros corruptos? Esta é a dúvida na sua constrangedora chegada, extraditado, em Nova York...




A grande expectativa é o que 157 dias preso em uma cadeia na Suíça e a desmoralização, humilhação pública fizeram com um homem vaidoso e poderoso? Ex-governador de São Paulo. Ex-presidente da CBF, principal organizador da Copa do Mundo de 2014. E que foi obrigado a dar como garantia R$ 57 milhões por uma fiança que dá o direito de transformar seu apartamento maravilhoso em Nova York, na Trump Tower, na Quinta Avenida em vulgar prisão domiciliar, com uma tornozeleira eletrônica que o monitora 24 horas. Mais do que isso, como alguém com 83 encara a possibilidade de passar mais 20 anos preso nos Estados Unidos? As acusações: corrupção, lavagem de dinheiro, recebimento de propina de milhões de dólares em contratos de marketing relacionados à venda de direitos de TV da Copa América e da Copa do Brasil em suas edições de 2013 até 2022. Ele vai ser julgado pela firme justiça norte-americana. As provas são contundentes. Dados cruzados envolvendo empresas bancárias nos Estados Unidos, motivo que o fez se submeter à extradição da Suíça para Nova York. A condenação pode ser uma sentença de morte na cadeia. Só há uma maneira dele garantir a sobrevivência perto da família. Ter pena reduzida ou até não ficar preso. O caminho único é a delação privilegiada. Marin acusaria formalmente e, com provas, o envolvimento de outras pessoas neste processo de corrupção. A expectativa da justiça norte-americana é que suas palavras possam comprometer Ricardo Teixeira, seu antecessor. E, principalmente, Marco Polo del Nero, seu sucessor na CBF e grande parceiro durante os três anos em que foi presidente da entidade. Jota Hawilla, dono da Traffic, só não está preso por causa da delação premiada. Seu depoimento foi fundamental para a prisão de Marin. E fez o FBI entender o quanto era suja a relação de dirigentes da Fifa com transmissões esportivas e patrocínio. No mês passado, a justiça norte-americana acabou com o sigilo de suas declarações.

"Meu nome é José Hawilla. Desde aproximadamente 1980, eu comecei a desenvolver projetos de marketing esportivo por meio da minha companhia Traffic. Eu comprei os direitos de eventos de futebol e comecei a promovê-los de uma forma legítima pelo mundo. "Aproximadamente em 1991 quando eu fui renovar o contrato de um desses eventos, a Copa América, um dirigente associado com a Fifa, o organismo encarregado do futebol mundial e sua federação Conmebol, ele me pediu por propinas para ele assinar o contrato. Eu precisava daquele contrato porque eu já tinha tinha assumido futuros compromissos mesmo que eu não quisesse concordar em pagar para aquele dirigente. "Depois disso e até 2013, outros dirigentes de futebol vieram até mim e aqueles com quem me associei no negócio para pedir propinas para assinar ou renovar contratos. Eu concordei que pagamentos de propinas não revelados seriam feitos para dirigentes de futebol por contratos de direitos de marketing e outros para vários outros torneios e outros direitos associados ao futebol. "Eu concordei em fazer pagamentos de propinas e subornos que seriam escondidos por contratos da Copa América, da Copa Ouro, da Copa do Brasil e do (…) patrocinador do time brasileiro. "Eu usei as instituições financeiras e os mecanismos eletrônicos dos EUA para fazer alguns desses pagamentos de propina e subornos, assim como para fazer pagamentos legítimos relacionados a esses direitos, todos para promover esse esquema. "Eu deliberadamente e conscientemente concordei que membros de duas outras companhias similares que fizeram compromissos para pagar propinas em conexão com a Copa América que a Traffic contribuiria com esses pagamentos. As propinas não reveladas foram pagas a dirigentes que tinham posições de autoridade e confiança na Fifa e em outras duas das suas confederações, Concacaf e Conmebol, para assegurar direitos de marketing relacionados à Copa América. Eu concordei em usar e usei a conta da Traffic no banco nos EUA e os mecanismos eletrônicos dos EUA para reembolsar uma porção do pagamento das despesas feitas com outras empresas de marketing transferindo dinheiro para bancos em outros países. As transferências foram feitas de bancos de Nova York (...)"

Esses foram trechos do depoimento de Hawilla. Foi essa confissão e a garantia que devolverá US$ 151 milhões, R$ 569 milhões, que o deixam fora da cadeia. O seu depoimento incriminou Ricardo Teixeira, José Maria Marin. E se desconfia que Marco Polo del Nero. As investigações do FBI e do departamento de Justiça norte-americano seguiram e seguem com as investigações. Desde que Marin foi preso, Marco Polo del Nero voltou para o Brasil e, apesar de reuniões importantíssimas da Fifa, ele se recusou a deixar o país. A desconfiança é que ele teme ser envolvido nas investigações e correr o risco de ser extraditado para os Estados Unidos. Para esclarecer de vez a questão. O Brasil mantém sim um acordo de extradição com os Estados Unidos. Mas só criminosos estrangeiros podem ser mandados para lá. Nascidos no Brasil, jamais. A justiça norte-americana só aceitou estabelecer fiança depois que ouviu de Marin que ele colaborará com a justiça. Isso significa que ele deverá revelar detalhes do esquema de corrupção. E os indícios de quem ele poderá comprometer são claros. Está proibido de entrar em contato com Kleber Leite, ex-sócio de Jota Hawilla. Como também com Ricardo Teixeira, Marco Polo del Nero. Assim como qualquer membro da Traffic ou de outras empresas que negociavam com a CBF. Marco Polo del Nero, se for acusado por Marin, já sabe o que fazer. Em vez de ser obrigado a renunciar, ele deverá pedir licença para se defender. Acertou que seu substituto será o vice, ex-presidente da Federação Capixaba de Futebol, e deputado federal do PP, Marcus Vicente. Caso Marco Polo renunciasse, seu inimigo, Delfim Pádua Peixoto, ficaria no seu lugar. Um dos motivos da licença.

Mas tudo dependerá do que Marin fará nos Estados Unidos. Ele ontem se declarou inocente, postura costumeira para quem vai sair sob fiança. Mas há uma audiência importantíssima marcada para o dia 16 de dezembro. Até lá ele só poderá deixar seu apartamento para ir à igreja, advogado, médico e comprar comida. Sempre durante o dia. Desde que avise antecipadamente a justiça norte-americana. E, lógico, com a tornozeleira eletrônica. Marin terá 42 dias para decidir o que será melhor para sua vida. Delatar ou não as pessoas envolvidas no esquema de corrupção na CBF. Seu silêncio pode custar 20 anos preso e até a morte na cadeia. A delação premiada pode valer sua liberdade. Abatido, com cabelo sem corte, com dificuldade para andar, tenso, inseguro, envergonhado. Marin era ontem em Nova York um homem envelhecido, sem forças. Bem diferente do poderoso, vaidoso que adorava encarar as câmeras, os jornalistas. Ele nunca esteve tão acuado em toda sua vida. Há ou não motivos para outros envolvidos ficarem preocupados?




Fonte: Esportes R7
Autor: cosmermoli
Publicado em: 04 Nov 2015 04:54:39

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