Foi brutal, chocante, inesperado. Mas o nocaute que o UFC precisava. O mundo se preparava para mais uma luta de Ronda Rousey. Invicta no MMA, linda, figura cada vez mais frequente nas publicidades, capas de revistas e filmes, se tornou a principal estrela do evento de Dana White e dos Irmãos Fertitta. De acordo com a revista People With Money, o seu patrimônio já passou dos 245 milhões de dólares, cerca de R$ 936 milhões. Contratos com indústria de cosmético, dona de rede de restaurantes, vodca, perfume. Filmes em Hollywood. Convites e mais convites para participar dos programas de televisão mais importantes dos Estados Unidos. As duas últimas lutas de Ronda haviam chocado o mundo. Quebrara seguidamente o recorde dos nocautes mais rápidos na disputa de cinturão do UFC. Levou 14 segundos para encaixar sua tradicional chave de braço em Cat Zingan. Antes havia gasto 16 segundos com Alexis Davis. Ela havia precisado de apenas 25 minutos e 36 segundos para vencer todos os seus 12 combates como profissional na carreira. Com Jon Jones usuário assumido de cocaína, Anderson Silva suspenso por doping, aposentadoria de George Saint-Pierre, inúmeros campeões sem carisma, o UFC precisava de Ronda. Ela era uma bênção. Mas suas lutas estavam ficando previsíveis. Como a de Mike Tyson no seu auge. Dana White precisava de rivais mais difíceis para Ronda. E lógico que grande parte dos jornalistas que cobre MMA, principalmente os brasileiros, sonhavam com o confronto com Cristiane Justino Venancio, Cris Cyborg. A brasileira é um talento. Mas é peso pena, 65,8. Teria de perder peso para enfrentar Ronda valendo o cinturão dos galos, até 61,2 quilos. Depois de finalmente se acertar com o UFC era o que estava, aos poucos, preparando para fazer. A luta parecia inevitável. Apesar da repulsa que a campeã dizia sentir da desafiante. A brasileira foi pega no doping em 2012. Havia acabado de derrotar a japonesa Hiroko Yamanaka quando defendia seu título dos penas no Strikeforce. Pegou um ano de suspensão. Ficou 16 meses sem lutar. "Entrar no MMA usando drogas para melhorar o desempenho é o equivalente a entrar com uma arma. O que vai arruinar o esporte e todo o trabalho que nós temos feito por tanto tempo, é alguém morrer lá dentro e a outra pessoa testar positivo para esteróides. Aí nós teremos o nosso primeiro homicídio em MMA. "Alguém já pensou nisso? Alguém já pensou que isso é mais importante do que números em uma merda de card? Essa garota está apenas pensando em seus ganhos a curto prazo, ela não está pensando no esporte como todo, em cada mulher que vai vir depois dela para sempre. Fazer as pessoas acharem que ela é a melhor do mundo , quando ela não passa de um projeto de química?" Ronda deixou claro que não desejava enfrentá-la. Mas era o Dana White projetava até a luta de ontem.
Porque os americanos também queriam ver o combate dentre Ronda e Holly Holm. 34 anos, linda, filha do pastor evangélico, Roger Holm. No começo, a luta era um caminho para emagrecer. Mas a aptidão, o dom, a aptidão tornou tudo sério. Roger foi treinador de Holly na sua longa trajetória no boxe e kickboxing. Foram 18 títulos em três categorias diferentes. Também assediada, pela beleza, para trabalhar em Hollywood. Não parecia ser páreo para a ex-judoca olímpica Ronda. Tanto que a luta foi confirmada na Austrália. Os grandes desafios, Dana reserva para Las Vegas, enquanto o UFC não consegue entrar em Nova York. Holly não impressionou ninguém na sua entrada no MMA. Fez sete lutas, venceu seis por nocaute e uma por decisão dos jurados. Nada demais. O que atraia era seu currículo, os títulos que trazia na bagagem. Deveria servir de "escada" para a luta entre Ronda e Cyborg. Na casa de apostas, era uma assumida zebra. Quem apostasse nela um dólar, ganharia 12,5 caso ela vencesse. E foi o que aconteceu de maneira brutal, chocante. Holly foi eficiente. Usou o que tinha de melhor sua envergadura. O alcance dos seus braços e pés é dez centímetros maior do que o de Ronda: 1m78 contra 1m68. A altura da desafiante é 1m73 e da campeã, 1m70. A diferença está no tipo longilíneo e o atarracado. Qualquer pessoa com a mínima noção de luta sabia que Ronda deveria ter o máximo cuidado com a distância. Ela estaria sempre em desvantagem. A situação era longe de ser novidade. Já enfrentou lutadores com maior envergadura que. E teve calma, estratégia para entrar no seu campo de ação. E usar seu talento enorme na imobilização. Só que o ego dominou Ronda. Ela não teve o menor cuidado. Parecia que estava em um dos seus filmes de ação. Onde os golpes que toma são de mentira. Só que ontem no octógono, os socos e pontapés foram reais. Quanto mais Holly esmurrava e distribuía cotoveladas no seu rosto, mais Ronda ficava irritava. E seguia em frente apanhando, sem se preocupar com a guarda. Holly é ágil, seus golpes são devastadores. Mas o que Ronda fez foi não aceitar que precisava se preocupar com a adversária. Sua arrogância já a havia dominado na pesagem. Agiu de maneira histérica quando a rival a tocou. Muita gente acreditou que fosse jogo de cena. Infelizmente para a campeã, não era. Ela estava acreditando ser acima do bem e do mal, tal a veneração. Não só do público. Mas da cúpula do UFC, dos produtores de cinema, da imprensa. "Perder é algo que não existe para mim. Vou encerrar minha carreira invicta", garantiu em recente entrevista no Brasil, no canal Combate. Tentando mostrar confiança, desprezou todas as futuras adversárias. Essa arrogância costuma custar caro.
Talvez seja assim nos filmes, mas na vida real perder é sempre uma possibilidade para qualquer atleta. E foi o que aconteceu. Ronda no início do combate, até conseguiu levar Holly para o chão. Seria mais uma exibição do seu jiu-jítsu. Mas ela estava muito treinada, conseguiu se livrar. O público e Ronda acreditaram que, na próxima vez, não escaparia. Pura ilusão. Afobada, Ronda quis forçar a situação. E tomou mais socos e pontapés. Sobreviveu ao primeiro round. No segundo, não mudou sua maneira de agir. E pagou com o cinturão. Continuou lutando com o ego. Tomou um direto que a deixou tonta. Quando percebeu que deveria parar a trocação, tentou agarrar a oponente. Holly a empurrou. Ronda ficou de costas para ela. Quando se virava para encarar a desafiante, tomou um chute alto espetacular. Ela desmoronava diante das câmeras. Holly para confirmar a vitória ainda acertou alguns socos com ela caída. Herb Dean percebeu que a campeã não levantaria. E confirmou que o cinturão feminino dos galos tem uma nova campeã. Assim que foi nocauteada, foi cercada pelo pessoal médico. As câmeras do UFC tiraram o close da lutadora. Não havia interesse em mostrar sua boca e nariz ensanguentados. O rosto inchado foi focalizado o mais rápido possível. Era preservado o mito. Enquanto Ronda era levada para o hospital, por uma questão de precaução, Dana White não perdia tempo. Deixava claro que havia acontecido o melhor para o UFC. E já garantia a revanche entre as duas. O mais rápido que as lutadoras puderem. Se Ronda vencer, haverá uma trilogia.
O mundo voltou seus olhos para o UFC. Todos querem saber hoje da surra que a "imbatível" Ronda tomou. Holly venceu de forma espetacular. Não colecionou tantos títulos por acaso. Mas a luta de ontem foi uma exaltação à humildade, aos princípios básicos do esporte, da luta. Todo adversário merece respeito. Foi o que faltou para Ronda. Jornalistas especializados garantem que a ex-campeã já não usava sparrings de verdade. Não queria simular lutas para valer. Não se arriscar a tomar socos e pontapés que pudessem atingir seu lindo rosto. O que é uma insanidade. Maior demostração de como o ego pode sabotar uma lutadora. A vida não é um filme de ação. Hollywood é Hollywood. Octógono é octógono. Ronda se lembrou disso da pior maneira possível...
Fonte: Esportes R7
Autor: cosmermoli
Publicado em: 15 Nov 2015 10:35:39
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