segunda-feira, 4 de abril de 2016

Até o Ministério Público admite. Os presidentes das organizadas perderam o controle sobre os torcedores. Membros de facções se infiltraram para brigar, traficar, matar. Estatística chocante: 3% dos homicídios envolvendo organizadas são solucionados...

Até o Ministério Público admite. Os presidentes das organizadas perderam o controle sobre os torcedores. Membros de facções se infiltraram para brigar, traficar, matar. Estatística chocante: 3% dos homicídios envolvendo organizadas são solucionados...




Nas recentes reuniões entre os chefes das torcidas organizadas de São Paulo, o Ministério Público tem ficado cada vez mais chocado. Os próprios presidente da Mancha Verde, Gaviões da Fiel e Independente admitiram. Não têm o controle algum sobre os seus membros. Os promotores públicos sabem que as tentativas de acordos coletivos nada valem. Por que os presidentes destas organizadas não têm como comandar dezenas de milhares de pessoas. Sub-sedes são fundadas constantemente. As subsedes têm vida própria. Os dados não são cruzados. Os presidentes não sabem o número exatos de membros. E muito menos quem são. Como irão para o estádio. Se desejam brigar, armar tocaias, caçar e massacrar torcedores adversários solitários, como se fossem ratos. Procuro informações sobre o comportamento dos torcedores. Falo com um dos homens que foi figura importante do Batalhão de Choque. Oficial que esteve na cúpula da organização do policiamento nos dias de jogos de São Paulo. Por anos. Viu a transformação dos então folclóricos torcedores em selvagens. Pede off, não quer seu nome divulgado para evitar problemas. Sob sigilo, esclarece escancara detalhes estarrecedores. "A sociedade se choca, se revolta quando pessoas são mortas por membros das organizadas. Mas não enxerga o que acontece há anos. A selvageria cresceu com a impunidade. Criminosos de facções criminosas perceberam. A reunião de milhares de jovens traz várias vantagens. A primeira delas é poder agir de maneira anônima. Ninguém sabe quem é ninguém. Documentos não são checados. Desde que a pessoa se disponha a pagar a mensalidade é bem-vinda. "A droga é o mal que domina a sociedade como um todo. Milhares de jovens, inúmeros deles revoltados, desempregados, mal amados, largados, são atraentes para qualquer traficante. A bebida é algo corriqueiro. Só que na intimidade dos ônibus, nas longas viagens, maconha e cocaína são algo fáceis de arrumar. Não é por acaso que carregamentos de drogas já foram apreendidos em frente de sedes das mais diversas torcidas. E torcedores influentes nas organizadas são presos com cocaína e maconha para traficar. "Os membros mais violentos das organizadas sabem há muito tempo. Não vale a pena brigar nos estádios e nos seus arredores. Lá centenas de policiais que poderiam estar cuidando da segurança da cidade, estão para vigiar as torcidas. Proteger o patrimônio de entidades particulares, os estádios dos clubes. Cumprem seus papéis. E cada vez menos torcedores se machucam ou morrem nas arenas. Para não desmoralizar de vez os governantes. Pura hipocrisia porque todos sabem que é no trajeto até o estádio que os conflitos acontecem. Brigas sangrentas na periferia são sinônimo de impunidade.

"Antes de falar das batalhas em estações de trem e de metrô, quero falar sobre os soldados que vão trabalhar nos finais de semanas nos estádios. Eles são obrigados a trocar folgas por horas extras, precisam ser alimentados, transportados, geram custos. Oneram o estado. Tudo isso para proteger eventos privados, com arrecadações milionárias. O ideal seria os clubes bancarem seguranças próprios. Ou pagar, e muito bem, pelos profissionais de segurança e trânsito que são deslocados só para cuidar da organização de jogos. "O que acontece nos conflitos fugiu de qualquer controle. Vou falar o óbvio que todo mundo sabe. Mas ninguém age. As brigas são marcadas pela Internet. Vândalos percebem que são os torcedores mais radicais. E formam grupos de guerrilha. Porretes, socos ingleses e rojões são escondidos nos ônibus ou em carros que acompanham o comboio. O que já era absurdo, ficou pior com o uso cada vez mais comum de facas e revólveres. "É uma sucessão de vinganças. Criminosos infiltrados em torcida que tem um membro morto se organizam. E articulam o troco. Olho por olho, dente por dente. Não há perdão. Ninguém quer ficar em desvantagem nesta disputa mórbida, cruel. Não revidar significa ser inferior. E essa rotina de agressões não para. Os jornais noticiam com destaque quando alguém é morto. Mas dezenas são feridos e gravemente nos conflitos. E não viram notícia, já que a violência está banalizada na sociedade.

"Seria necessário um trabalho sério e integrado de inteligência. A Polícia Civil fazer um trabalho de infiltração em todas as organizadas. Buscar suas subsedes. Infiltrar agentes para identificar e desarticular os verdadeiros chefes de quadrilhas que se instalaram nas torcidas. E que, muitas vezes, os presidentes não têm a menor ideia de quem são. Como alguém com sede na Água Branca vai controlar milhares de pessoas em Guarulhos, Campo Limpo, Guaianazes? Ou então no centro da Cidade, pode saber o que é organizado em Mauá? Ou ainda sedes na Barra Funda, tomar conta de Osasco, Santos? Impossível. "A legislação brasileira é permissiva demais. Os policiais cansam de prender vândalos em brigas. Levam para a delegacia. E no dia seguinte são soltos. Na semana seguinte estão nos estádios. E ainda tiram sarro dos soldados. É uma pouca vergonha. Também não tenho como concordar com a PM tendo de conduzir as torcidas para os estádios. Se protege quem precisa de proteção. Não o contrário. Milhares de torcedores, xingando, ameaçando o cidadão comum pelas ruas. E os policiais servindo de babá. Isso não tem cabimento. Eles deveriam ser tratados como qualquer cidadão. Se aprontarem, são presos. E ponto final. Mas aqui é o inverso. Se protege os possíveis agressores.

"O problema é que a legislação para ser mudada depende dos políticos. Ninguém quer ficar contra as organizadas. Seria comprar guerra com milhões de corintianos, palmeirenses, são paulinos, santistas. E isso pode custar eleição, mandatos. Por isso está tudo na mesma. Os mortos vão se acumulando. Virando estatística. A polícia faz o que está ao seu alcance. E é muito pouco. "Por isso recomendo aos meus amigos e familiares, se possível, evitem jogos de futebol. Não há segurança no trajeto de ida e volta. Jamais comprem camisas, chaveiros, ou algo parecido ligados a qualquer equipe. Tudo é desculpa para agressões gratuitas e até mortes. O velho truque de colocar a camisa do clube embaixo da camiseta pode custar caro. E evitar tomar trem, metrô e ônibus que passem por estádios em dias de jogos. Uma blusa de cor errada pode ter consequências graves. "Tudo isso não é alarmismo. Mas a realidade. Com a desculpa do futebol, muitos criminosos das facções mais violentas do país estão formando quadrilhas, traficando, agredindo, matando. Só não ver quem não quer. E o pior: finge que não vê." Desde 2010 até 2016, 113 mortes foram registradas ligadas ao futebol neste país. Relacionadas às organizadas. Outras tantas podem ter ocorrido e fugido das estatísticas. Um senhor de 60 anos estava na estação São Miguel Paulista. Foi tomar um trem. Na hora em que organizadas do Corinthians e Palmeiras se encontraram. Eram 10h20. Na briga generalizada de paus, pedras, rojões e revólveres... Dois tiros atingiram esse idoso, com aparentes 60 anos. Caiu morto na calçada. Não há a menor ideia quem deu os disparos.

Pelo jeito, os criminosos podem respirar aliviados. No Brasil, apenas 8% dos homicídios são esclarecidos. Os que têm ligação com as torcidas organizadas, chegam apenas a 3%. É ou não é uma maravilha? Este país é um paraíso para assassinos. Em todas as áreas. Principalmente no futebol...




Fonte: Esportes R7
Autor: cosmermoli
Publicado em: 04 Apr 2016 14:30:32

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