quinta-feira, 21 de abril de 2016

O segredo que Tite aprendeu na Europa. O respeito, a integração verdadeira entre os titulares e reservas do Corinthians. Nunca o elenco esteve tão forte. E sem vaidade...

O segredo que Tite aprendeu na Europa. O respeito, a integração verdadeira entre os titulares e reservas do Corinthians. Nunca o elenco esteve tão forte. E sem vaidade...




Um dos maiores desafios de um técnico é manter o bom ambiente em um clube. Ainda mais com essa geração mimada. Assessores de imprensa, agentes, empresários, pais, amigos, namoradas, esposas, amantes. Todo esse batalhão garantindo que cada jogador é o melhor do mundo. Se por acaso é reserva, o clichê é considerar o treinador o rei da injustiça, homem que escala apenas pelo nome, atende a outros interesses. E não apenas o futebol. Ser titular significa muito mais dinheiro que o reserva. Ainda mais em clube grande. A rede de intrigas é imensa e costuma sugar os treinadores mais fracos, tantos são os interesses. Daí a alegria imensa de Tite ontem na impiedosa goleada do Corinthians diante do Cobresal, por 6 a 0. Edílson, Vilson, Balbuena, Guilherme Arana, Willians, Romero, Rodriguinho, Maycon, Marlone e Luciano, Cristian e Alan Mineiro. Doze reservas entraram em campo.

E foram além do excelente futebol, da dedicação, do empenho, da entrega. A felicidade de serem úteis só foi superada pela sentimento de integração ao grupo. Todos estão no mesmo barco. Sem pose de injustiçado, sem amargor, sem queixa. Isso é algo raríssimo. "Todos aproveitaram a oportunidade. Que bom! Meu maior orgulho é poder dar atenção e respeito a quem não está jogando, e quando há a oportunidade eles arrebentam. É muito fácil motivar quem já está jogando. Quando a equipe que não está começando tem um desempenho assim, o técnico vai dormir com uma felicidade danada", disse Tite. 2014, o tal ano sabático que passou esperando pela Seleção Brasileira, foi fundamental para abrir essa mentalidade do treinador. Ele entendeu o princípio básico dos grandes clubes europeus. Os que têm dinheiro para contratar uma legião estrangeira. Muitas vezes trazendo atletas que não precisavam, mas apenas para permitir que o rival não tivesse uma peça específica. E os elencos ficam inchados. Muitas vezes estrelas de outros países, não conseguem nem frequentar o banco, de tantas opções.

O que Real Madrid, Barcelona, Bayern adotam? A resposta na ponta da língua é o revezamento. Mas não é. A base da integração, do respeito está firme postura do clube, com contratos específicos que deixam claro regras de convivência. Sendo titular ou reserva. Com direito a multas pesadíssimas. Os ataques de estrelismo são tratados com toda severidade. Balottelli é um exemplo de quem se perdeu. Cristiano Ronaldo recentemente sugeriu que precisava de melhor companhia no Real Madrid. Teve de se retratar. Neymar está pagando os pecados por suas farras desenfreadas no Barcelona. O lado do clube está explicado. Mas Tite se fixou na forte liderança dos treinadores. A dedicação aos reservas tanto quanto os titulares. Lógico que os melhores jogam, são mais orientados. Só que os reservas acompanham tudo. E nos treinamentos, são colocados entre os titulares quando menos esperam. Todos acabam se sentindo parte do grupo. Não são deixados de lado, como acontece com frequência em clubes brasileiros. Discriminados. Tite fazia isso. No Grêmio tinha os seus prediletos, apelidados pela diretoria de "suas ovelhinhas". No Corinthians, repetiu o erro, com o time campeão da Libertadores e do Mundial. Os jogadores envelhecidos, com esquema repetido, não conseguiram responder. Fracassaram em 2013, enquanto o treinador mal deu chance aos reservas. Acabou dispensado do Corinthians.

Enxergou seu grande erro com os reservas em 2014. E voltou com nova mentalidade no Corinthians. Começou no ano passado. A goleada dos reservas diante do São Paulo por 6 a 1, em dezembro, foi uma mostra. Mas o auge está atingindo agora. "Eu fico falando para vocês (jornalistas) que consideram reserva e titular... Eu prefiro falar em equipe de trabalho, jogadores que entraram, tiveram 15, 16 jogos. Que vocês coloquem dessa forma, eu respeito, mas o grupo está crescendo, independentemente de nomes." É isso. O Corinthians continua com seus titulares absolutos. Os que entrarão contra o Audax neste sábado, na semifinal do Paulista. E eles sabem, porque já ouviram diversas vezes, que o treinador não vai tolerar reclamação, chutes em garrafas d"água, ao serem substituídos. Isso é uma questão de respeito que Tite não abre mão. E Willians sentiu na pele o quanto é difícil se controlas. Acostumado a ser titular por onde passou, ele é reserva no Corinthians. E alucinado por jogar. Tanto que ao perceber que seria substituído ontem, não se conteve. Fechou a cara. E deixou claro que não gostou da decisão de Tite. Foi devidamente enquadrado. Percebeu a besteira que fez. É assim, com a rédea curta, que Tite mantém o que é possível ter de harmonia no Corinthians.

Essa interação entre titulares e reservas se torna fundamental no calendário caótico do futebol brasileiro. Por isso havia dirigente ontem no Itaquerão garantindo que o jogo de ontem foi o arranque. Para a briga pela conquista do Paulista e do início da fase dos mata-matas na Libertadores. Contra o Audax na semifinal do Estadual ou provavelmente diante do Nacional, pelas oitavas da Libertadores, Tite sabe ter mais do que um time. Não só um grupo forte. Muito mais importante. Jogadores unidos, sem discriminação. Os titulares sabem que são titulares. Os reservas tem convicção que são reservas. Mas fazem o que é muito difícil no futebol deste país. Se respeitam. E são respeitados. Porque têm um comandante...




Fonte: Esportes R7
Autor: cosmermoli
Publicado em: 21 Apr 2016 10:34:49

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