sábado, 9 de abril de 2016

"Deve ter sido coisa de criança, uma escapada, uma excursão do Santos." Demorou, mas Pelé falou o que pensa sobre Sandra. A filha que teve com uma empregada doméstica e que reconheceu na justiça. E que morreu de câncer, sem ter a visita do pai...

"Deve ter sido coisa de criança, uma escapada, uma excursão do Santos." Demorou, mas Pelé falou o que pensa sobre Sandra. A filha que teve com uma empregada doméstica e que reconheceu na justiça. E que morreu de câncer, sem ter a visita do pai...




"Eu não tinha certeza se era minha filha ou não naquela época. Essa menina de Santos, que faleceu, eu não tinha conhecimento. Ela apareceu na casa da minha irmã, dizendo que a mãe dela tinha dito que ela era minha filha. "Era Sandra o nome dela. E, então, pensei: com 22 anos ela aparece para dizer que é minha filha? Eu acho que quando ela nasceu, a mãe tinha que ter me falado. Por isso que exigi o DNA. Ela apareceu e a mãe não apareceu? Foi essa a discussão. Então fiz o exame e deu positivo. "Nunca soube do paradeiro da mãe. Deve ter sido coisa de criança, uma escapada, uma excursão do Santos (risos)." Algum outro caso recente? Não. Que eu saiba, não [risadas]. Vamos esperar mais 25 anos para ver se aparece alguma outra aí (risos)." Enquanto todo o Brasil discutia a declaração de Pelé que foi vítima de erro médico, a entrevista dada à Folha teve esse outro trecho importante. E que poucos prestaram atenção. Camila Mattoso, Juca Kfouri e Naief Haddad preferiram dar destaque à operação "mal sucedida" no quadril. E que ele teve de corrigir nos Estados Unidos. Deixaram de lado o desprezo com que o melhor jogador de todos os tempos dedicou à Sandra Regina Machado Felinto. Depois de seis anos de processo, com direito a 13 apelações e exames de DNA obrigatório pela justiça, ela passou a se chamar Sandra Regina Machado do Nascimento Felinto.

O que ele chamou de "uma escapada, uma excursão do Santos", foi na verdade um caso com a Anísia Machado, modesta empregada doméstica que morava no Guarujá. Quanto à tentativa de reconhecimento, Pelé deu a sua. Não custa saber a de Sandra. Ela a escreveu no seu livro "A Filha que o Rei não Quis". "Quando contava com mais ou menos sete anos de idade, minha mãe me deu ciência de que era filha de Pelé. Para mim, não fez diferença saber que era filha do Pelé. O que importava mesmo era saber eu tinha um pai! Os valores da criança não são os mesmo de um adulto. Não importa para a criança se seu pai é rico ou pobre, mas que seu pai é seu pai. Os valores criados pela sociedade não interfere jamais nos valores intrínsecos da vida natural. Pergunte a uma criança filhas de pai pobres se ela gostaria de trocar seus pais por pais ricos. A resposta seria sempre: Não! Mas com o passar dos anos, fui me interessando por meu pai. Queria um dia poder me aproximar dele, dizer-lhe que era sua filha e receber suas calorosas boas-vindas. Queria poder abraçá-lo. Queria muito poder, como tantos outros seres humanos, ter o gosto de chamá-lo de pai! Meus sonhos cresciam nessa direção era impelida pelo que há de mais justo na face da terra. Algumas pessoas diziam que só movi uma ação contra ele por se tratar de Pelé. Ora, a ação judicial só aconteceu por força da recusa da parte dele em querer me receber, e ainda por uma recomendação feita por ele mesmo: “Se ela diz que é minha filha, então manda pro pau”. Sendo ou não uma pessoa importante, é direito inquestionável de qualquer filho neste mundo ir atrás de seu pai. Por outro lado, ser Pelé – e não apenas o cidadão Edson Arantes do Nascimento – acabou sempre atrapalhando essa aproximação. Se ele não fosse o rei do futebol, será que já não teria conseguido aproximar-me dele?(...) É bem mais fácil para mim reviver hoje estas memórias; afinal, sou uma pessoa adulta, de sentimentos mais cristalizados pelo tempo, mais sei quanto me foi duro ter passado por aqueles momentos, quando ainda estava vivendo meu tempo de transição como adolescente, de formação do meu caráter. Estas lembranças me sensibilizam em relação a tantas crianças carentes de seus pais, de amor, de afeto, de atenção. Crianças filhas do desprezo que, na sua necessidade de dependência plena da figura forte e amparadora dos pais, vivem ao léu, esperando que alguma migalha caia da mesa de quem tem pão, e até quando não se vêem obrigadas a conseguir esse pedaço de pão na “marra”.

Uma das maiores dificuldades eu sentia, à medida que ia me tornando mocinha, era apresentar minha identidade. Eu procurava respostas com evasivas toda vez que perguntavam pelo nome de meu pai ou então respondia, constrangida: “não tenho pai”, já em situação menos formais, era comum dizer: “meus pais são separados”. Era uma situação de muito desconforto para uma adolescente que a cada dia ganhava consciência do seu caráter cristão. A mentira não podia caminha junto com minha fé. Omitir o nome do meu pai sufocava-me. Por outro lado, dizer que era filha de Pelé podia causar-me alguns constrangimentos, sobretudo o de ser desacreditada e passar por pretensiosa. Diva, em cuja casa eu fora morar, tomou conhecimento da minha paternidade quando eu ainda era jovem. Conhecendo intimamente as condições de vida que me cercavam, interessou-se por saber tudo o que pudesse sobre minha história e, a exemplo do que fizera Maria José, Diva insistia para que eu procurasse meu pai. Mas como? Em conversa com minha mãe, Diva insistiu com ela quanto à importância dessa procura. Foi quando minha mãe teve a idéia de lhe escrever uma carta. Diva gostou da idéia e incluiu uma foto de minha mãe, ainda que seu rosto já estivesse bem diferente de quando meu pai a conhecera. Mas a carta, cuja cópia infelizmente foi perdida, nunca resultou em qualquer tipo de resposta. Resolvi tomar uma outra iniciativa: telefonar para casa de meu pai no Guarujá. Fui atendida educadamente pela governanta. Apresentei-me como filha de Pelé. A governanta então prometeu fazer contato com ele e dar uma resposta. Ao ligar novamente, recebi o seguinte recado: “Manda ela procurar os direitos dela. Inclusive, eu pago o advogado para ela”. Julguei que meu pai pudesse dar uma resposta diferente. Por que não me chamar para um diálogo a respeito do assunto? Além do mais, a forma como respondeu pareceu-me debochada.



Mais uma vez, minha mãe pediu que eu me afastasse de tal procura, por considerá-la inútil. Mas agora eu estava resoluta e ofendida. A sugestão de meu pai devia ser levada a sério. Eu iria então buscar os meus direitos! Mesmo depois de haver entrado na justiça para reivindicar minha causa, continuei mantendo a esperança de que o processo não precisaria completar toda a sua jornada para que meu pai se voltasse para mim. Em meio às inúmeras tentativas de alcançar meu pai, escrevi o seguinte artigo na seção “Ponto de vista” da revista Veja de 20 de Maio de 1992, intitulada “Pelé é meu pai”: “Eu sou filha de Édson Arantes do Nascimento, o Pelé. Acredito que está chegando ao fim a luta para que meu pai me reconheça. Graças à ciência, já está provado que sou sua filha. A justiça, acredito, está prestes a reconhecer essa verdade, apesar de os advogados de meu pai terem pedido a troca do juiz, que, segundo eles, seria suspeito para julgar o caso. Mas não é necessário o exame de DNA ou a decisão do juiz para que eu tenha essa certeza. Para mim, que esses anos todos tenho tentado encontrá-lo, há muito tempo que não existe qualquer sombra de dúvida, e os exames só fizeram confirmar o que eu já sabia. Pelé é meu pai e vai me reconhecer. Se a ciência não for o bastante, e a própria justiça me falhar, ainda assim ele fará o reconhecimento. Mesmo que procure se enganar, no fundo do coração ele me reconhecerá(...)"
Reconheceu. justiça. E só. Quando Sandra adoeceu, teve câncer nos seios e estava no leito de morte, Pelé não apareceu. Chegaram flores em nome de Pelé Empreendimentos. Elas foram recusadas. Sandra faleceu em 2006. Deixou dois filhos. Pelé não quis saber dos netos. Foi processado para ajudar a custear a educação de Octávio e Gabriel. Paga a cada um deles, R$ 4.746,00. Em 2002, assumiu outra filha fora do casamento. Flávia Cristina Kurtz nasceu em Porto Alegre. O reconhecimento foi sem traumas. Sua fortuna pessoal é um segredo. São dezenas de empreendimentos. Publicações apontaram desde 278 milhões de dólares, cerca de R$ 998 milhões, até simples 40 milhões de dólares, cerca de R$ 143 milhões. Aos 75 anos, seu faturamento segue sendo milionário. Na Copa de 2014, segundo a revista norte-americana People With Money, ganhou R$ 58 milhões com propagandas da P&G, Volkswagen, Emirates, Subway e Coca-Cola. Ele já ofereceu sua imagem para o Mundial de 2022 do Catar.
Pelé tem dois processos contra o Santos, clube que o lançou para o futebol. São relacionados a ações de marketing. Chegam a R$ 2,7 milhões.

Ele colocou seu acervo pessoal para leilão. São 2.413 itens. Entre eles, o próprio menisco. Estão avaliados em R$ 28 milhões.

O Museu Pelé, que custou R$ 50 milhões, parte com dinheiro público, foi um fracasso de público. Foi oferecido ao Santos para que administrasse. Só que a Legend 10, empresa que cuida da imagem de Pelé, fez uma proposta que o clube assumisse o museu. Com uma diferença. As peças mostradas passariam a ser réplicas.

“A Legend 10 veio com uma conversa que nós não achamos correto. Eles queriam trocar as peças do Pelé por réplicas. Deixar expostas apenas réplicas e guardar as taças, a parte original do acervo. E aí não, né? Tem que ser tudo original, oras. De verdade.

“Nós não temos a menor vocação para mostrar cópia como sendo verdade. O que é verdade é verdade. Então, o Santos não aceita, em hipótese alguma, trabalhar com réplicas. Isso é um ponto que o Santos não abre mão, por respeito ao torcedor, ao turista, ao visitante", desabafou o presidente Modesto Roma à Gazeta de São Paulo.

Nessa hora dá para lembrar do título de um documentário de 1974.

Isso é Pelé...



Fonte: Esportes R7
Autor: cosmermoli
Publicado em: 09 Apr 2016 16:41:52

Nenhum comentário:

Postar um comentário