"A revelação é assombrosa. Permite qualquer interpretação. Até as feitas pelos pais de Kevin Beltrán. E pela Polícia Boliviana. A Gaviões da Fiel recebeu presente de uma faculdade da Zona Leste. Um membro da torcida organizada poderá cursar de graça o 3º Grau. Pode ser o curso que desejar. A revelação é assombrosa. Permite qualquer interpretação. Até as feitas pelos pais de Kevin Beltrán. E pela Polícia Boliviana. A Gaviões da Fiel recebeu presente de uma faculdade da Zona Leste. Um membro da torcida organizada poderá cursar de graça o 3º Grau. Pode ser o curso que desejar. O máximo que pode pegar de punição são três anos na Fundação Casa. Com a tutela da mãe. Com bom comportamento poderá estudar e trabalhar. Ter uma vida normal. Se tivesse confessado na Bolívia, poderá pegar até 30 anos de cadeia. A maioridade criminal no país andino começa aos 16 anos. A defesa dos 12 membros de organizadas presos decidiu. Não quis juntar a confissão de H.A.M. como prova. Isso porque as autoridades bolivianas avisaram. A confissão só seria levada em consideração feita lá. Onde H.A.M. poderia já sair preso. O menor "arrependido" não aceitou viajar até a Bolívia. A revelação que a Gaviões deu bolsa integral ao menor prejudicará os presos. Deixa claro uma relação próxima demais entre a organizada e H.A.M. Tudo fica muito pior quando é analisada a declaração do advogado Ricardo Cabral. Ele defende a Gaviões e apresentou H.A.M como culpado. E jurou que a torcida o puniria. "O menor vai receber uma punição da Gaviões da Fiel. Por ter levado os sinalizadores sem o consentimento da direção da torcida."
Que punição é essa? Uma bolsa integral para a faculdade? A situação é surreal. E terá repercussão profunda. Não só na confissão da morte de Kevin. H.A.M. afirmou ter levado todos os sinalizadores da Gaviões em Oruro.
A polícia pegou dois acusados com uma sacola com seis deles.
E com as mãos sujas de pólvora.
H.A.M. se apresou em dizer que eram dele.
E que teria deixado a sacola quando viu que atingiu o garoto boliviano.
Como a polícia de Oruro pode acreditar?
Um menor sem condições financeiras assumir um crime?
Em um pais onde a punição será irrelevante diante do que poderia acontecer na Bolívia?
E agora a notícia que esse garoto pobre ganhou uma bolsa de estudos integral para a faculdade.
Presente da maior torcida organizada do Corinthians?
A mesma que tem nove membros presos pelo assassinato de Kevin?
Que estranha coincidência é essa?"
Essa matéria foi publicada no dia 7 de março de 2013.
Neste dia 16 de abril de 2016, as letras já viraram nome e sobrenome Helder Alves Martins. Ele está de novo nas manchetes. A primeira vez foi quando alcançou a maioridade. Não quis a faculdade. Preferiu um cargo no setor de bandeiras da Gaviões da Fiel. Nada ficou provado contra ele. Acabou impune pela morte do garoto Kelvin Spada. Os torcedores detidos em Oruro foram liberados. E ninguém foi condenado pelo assassinato do menino de 14 anos.
E ontem Helder voltou ao noticiário. Detido. Acusado de estar envolvido na briga com membros da torcida organizada palmeirense. Conflito que resultou na morte de José Sinval de Carvalho, com um tiro na cabeça. Um senhor que só estava andando do outro lado da rua, na hora da briga.
Sendo revanche política ou não, finalmente a Polícia Civil de São Paulo tomou coragem. E decidiu desvendar o que há de verdade por trás da fachada das torcidas organizadas. O secretário de Segurança Público, Alexandre de Moraes, é responsável pela operação. Feita com a autorização expressa do governador Geraldo Alckmin.
Foram mais de 200 soldados civis distribuídos em 100 viaturas. Todos partiram para a operação Cartão Vermelho. Nada menos do que 32 mandados de busca e apreensão. Nas sedes da Camisa 12, Gaviões da Fiel, Pavilhão 9; Mancha Alvi Verde; e Independente. E também nas casas dos principais comandantes destas torcidas. Foram 26 detidos de forma temporária, por cinco dias, e 19 de forma preventiva.
Há décadas que a sociedade brasileira se revolta com a crescente violência das organizadas. De brigas comuns, passaram a tocaias marcadas pela Internet. A "mão limpa" passou a facas, cabos de enxadas, revólveres. "O importante não era mais se impor diante da outra torcida. Mas matar o rival. Ficou tudo fora de controle. Porque as grandes organizadas possuem sub sedes independentes. Como controlar ao que vão fazer milhares de pessoas?", me pergunta, nervoso, um ex-dirigente importante de uma organizada.
Desde 2010, 113 pessoas foram mortas em brigas de torcida. Houve de tudo. Linchamento, apedrejamento, fuzilamento, esmagamento com barras de ferro. Até dois vasos sanitários, arrancados do estádio Arruda, em Recife, viraram armas mortais.
Pesquisas apontam que o Brasil está sempre entre os primeiros no mundo por mortes envolvendo futebol. A principal motivadora é a impunidade. Cerca de 3% dos envolvidos em conflitos são punidos. 97% escapam ilesos das barbaridades que cometem. Nos últimos anos, a Secretaria de Segurança Pública anunciou que o tráfico se aproximou das organizadas. Carregamentos foram interceptados perto de sedes e houve até uma chacina por este motivo na Pavilhão 9, em 2015. Oito pessoas deitaram e foram executadas com tiros na nuca.
A própria Policia Civil aponta envolvimento das principais facções criminosas em algumas organizadas. PCC e Comando Vermelho, principalmente.
Tudo isso afasta o torcedor comum dos jogos. O Instituto Stochos realizou pesquisa científica em 2015. E ficou comprovado o que todos sabem. A violência nos estádios, na ida e na volta, é a principal responsável pelo afastamento das famílias do futebol. Para 84,2% o problema são as torcidas organizadas.
Tudo isso está acontecendo logo após as torcidas começarem a levar faixas contra a Globo, contra a CBF, FPF e, principalmente, contra o ex-promotor Fernando Capez. Ele é o presidente da Assembléia Legislativa de São Paulo, deputado do PSDB. E que está sendo acusado de participar de um esquema de propina envolvendo merenda escolar.
Seria uma reação contra o endurecimento do controle das organizadas. Com orientação de Capez. E apoio da emissora que controla o futebol neste país.
Os advogados das organizadas, sim elas mantêm escritórios respeitáveis de advocacia, garantem que tudo é uma ação política. E que as detenções são ilegais.
A operação Cartão Vermelho aconteceu exatamente um dia antes do início das quartas de final do Campeonato Paulista. Hoje acontecem dois jogos. Corinthians e Red Bull Brasil, no Itaquerão. E Santos contra o São Bento na Vila Belmiro. O São Paulo enfrentará o Audax, amanhã, em Osasco. E o Palmeiras pega o São Bernardo, na segunda.
O problema maior poderia acontecer a partir das semifinais, no próximo final de semana. Quando clubes grandes devem se enfrentar. Por determinação da Secretaria de Segurança Pública, os jogos terão torcida única nos estádios de São Paulo. Até o final do ano. O que está longe de ser a garantia de paz. Tocaias em estações de metrô e trem são cada vez mais rotineiras.
Críticas podem ser feitas sobre a ação dos policiais civis. Sobre a artificial investigação. Mas não há dúvida que finalmente as organizadas de São Paulo passarão por uma peneira.
A Constituição brasileira prevê o direito às entidades privadas.
O que impede a pura extinção e proibição dar torcidas.
Mas os criminosos infiltrados a Constituição não serve de escudo.
De uma maneira torta ou não, a Polícia Civil começou a agir.
Separar o joio do trigo.
E uma reformulação na legislação, muito mais dura.
O fim da impunidade.
É tudo o que a população deste país implora há décadas...
Fonte: Esportes R7
Autor: cosmermoli
Publicado em: 16 Apr 2016 10:40:16
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