A história do São Paulo Futebol Clube amanheceu manchada. Nunca na história do clube um presidente e um vice de futebol tiveram atitudes tão constrangedoras que tivessem de ser expulsos do Conselho Deliberativo. Acusações de tentativa de assassinato, oferta de divisão de comissão, namorada representando o clube na tentativa de vender jogador para a Europa, pagamento de R$ 8 milhões para advogado, uso de paraíso fiscal no pagamento de comissão na chegada da nova fabricante de material esportivo. Carlos Miguel Aidar e Ataíde Gil Guerrero conseguiram mais.A humilhação do São Paulo Futebol Clube seguirá. O Ministério Público analisará cada acusação. Principalmente as envolvendo dinheiro, comissão, envio e chegada de dinheiro do Exterior. Aidar foi presidente do São Paulo por três gestões. É filho do falecido e cultuado ex-presidente Henri Aidar, presidente entre 1972 a 1978. Carlos Miguel foi o mandatário entre 1984 e 1988. Era considerado um exemplo como administrador. Chegou ao cargo em 2014, levado pelas mãos do ex-presidente Juvenal Juvêncio. Juvenal enfrentava um fatal processo de câncer de próstata. Saiu várias vezes do hospital para mostrar seu apoio a Carlos Miguel. O primeiro ato de Aidar foi se voltar contra Juvenal. O tirou do comando do Centro de Treinamento de Cotia e expôs o atraso de sua administração. O ex-presidente se considerou traído e arrependido. Morreu um ano depois da eleição sem nunca mais falar com seu protegido. Os conselheiros do São Paulo ficaram chocados com os fatos expostos pelo presidente de Comitê de Ética, Ópice Blum. Ele detalhou os vários episódios que recomendavam a pena máxima, a expulsão da dupla que mandava no clube. Foram horas constrangedoras. A começar pelo episódio Maidana. O jogador tinha 19 anos. O atleta seria liberado do Criciúma no final de 2015. Mesmo assim, empresários resolveram pagar R$ 400 mil para o time de Santa Catarina, em setembro do ano passado. E registraram o jogador no Monte Cristo, clube da Terceira Divisão de Goiás. Dois dias depois, esses agentes donos da empresa Itaquerão Soccer, repassaram o zagueiro por R$ 2 milhões ao São Paulo. Em uma das transações mais estranhas da história do futebol brasileiro.
"O caso representa tudo o que a Fifa e a CBF tentam evitar no futebol. Ficou nítido que se tinha um objetivo em questão. Vislumbrou-se a parte financeira, pois o atleta seria liberado ao final do ano. Não tem mais inocente no futebol. Todos são sabedores das regras", disse o procurador geral do STJD, Willian Figueiredo. O São Paulo perdeu dinheiro. Pagou R$ 2 milhões por um atleta que valia R$ 400 mil dois dias antes. Foi citada também a chegada da Under Armour no lugar da Pênalti, como fornecedora de material. Se fosse a Puma a empresa a chegar, a comissão seria da namorada de Aidar, Cinira Maturana. Mas como foi a Under Armour, os R$ 18 milhões seriam pagos Jack Banafsheha, dono da Far East, empresa que fica no paraíso fiscal de Hong Kong. A pressão dos conselheiros era imensa. Quando Aidar, mandou avisar, Jack havia decidido abrir mão dos R$ 18 milhões da comissão. Ficaram como um presente ao clube. A maioria dos conselheiros não acreditou em tal doação. E tudo ficou ainda pior para Aidar. Se não ganhou porcentagem alguma, Cinira teve a inusitada honra de representar o São Paulo na reunião com o Atlético de Madrid, e que tratava da negociação de Rodrigo Caio. Atitude absurda, descabida. Na reunião de ontem, foi citada as negociações de Aidar, denunciadas por Ataíde Gil Guerreiro. E divulgadas, de forma exclusiva. Em um e-mail tudo é colocado de forma decisiva, vergonhosa. Ou o presidente renunciava ou Ataíde mostraria tudo o que acontecia ao Conselho Deliberativo. O e-mail não deixa dúvida sobre o que acontecia no Morumbi.
"Carlos Miguel: A sua conduta na Presidência do SPFC não tem a postura que eu esperava de um líder. Todas as vezes que você assumiu a responsabilidade pela negociação de atleta, isolando a área de futebol, ficava uma suspeita de algo errado, foi assim no Douglas, Wesley, Denilson, acreditando em você não investiguei a fundo. Agora porém você exagerou na contratação do Yago, não tem como justificar, os fatos foram grosseiros, prova do sentido de impunidade. Tudo isto ficaria sem comprovação, mas quando você me ofereceu repartir a comissão na contratação do Gustavo da Portuguesa, primeiro a sós e depois na frente da Cinira, vi que vocês dois estavam realmente lesando os interesses do clube. Para tratar com desleais só mesmo usando das mesmas armas. Fui sábado com um gravador e consegui que você me dissesse em sequência, tudo limpamente gravado:
1- Descrevesse como você receberia o dinheiro da comissão na contratação do atleta e você ainda destaca que me entregaria em dinheiro circulante e nenhum de nos correria qualquer risco. 2- Mais grave ainda, quando lhe mostrei os dados sobre um possível contrato entre a TML e a Under Armour, você com a maior “cara de pau” diz que de fato tentou a comissão indevida mas que o contrato não foi assinado, logo você confessa corrupção que apenas não se consumou contra sua vontade. 3- Quando abordei a Far East, você negou que participa mas denunciou como cabeça de uma operação fraudulenta o Douglas.
4- Você menciona em detalhes que o Douglas perdeu a noção do perigo e pede comissão em todas as operações. Carlos Miguel, não quero ver o SPFC envolvido em mais escândalos, mas não pode continuar sendo presidido por você com todas os problemas que você confessa na gravação com a maior simplicidade, como se seus atos fossem lícitos e normais. O Antônio Cláudio me aconselhou a não entregar as provas para a CPI do Futebol, mas que as libere ao presidente do Conselho Deliberativo. O escândalo será iminente e prejudicará o SPFC, a sua imagem pessoal e será devastador também ao seu escritório de advocacia. Não esqueça que a CPI Futebol tem poderes para confirmar se a Under Armour Brasil pagou a TML e como a sede da empresa mãe fica nos Estados Unidos, poderá implicar em problemas graves para a multinacional. Me parece quem em face dos fatos só resta a você renunciar. Só quero que o SPFC seja decente, imagem que você maculou e se continuar a frente do clube a cada dia será pior, o que você fala do Douglas na gravação vale para você : “perdeu o temor da impunidade”. O Antônio Cláudio está copiado, por ser nosso amigo comum, sério e interessado no saneamento da administração do SPFC. ATAÍDE GIL GUERREIRO" O presidente de Comissão de Ética, Ópice Blum, enfatizou o que houve depois. Com Ataíde agarrando pelo pescoço Carlos Miguel Aidar, no hotel Radisson, diante de conselheiros. Para Ópice foi tentativa de assassinato. Depois de chamar o ex-presidente de "bandido" e "mau caráter", o ex-vice de futebol disse. "Peguei o teu pescoço e tinha vontade de te matar. Não sou sem vergonha que nem você."
Depois, Ataíde confirmou que Aidar contratou os serviços do advogado José Roberto Cortez. E, em vez de cobrar R$ 100 mil por seus serviços, como fazia em outros clubes, decidiu cobrar R$ 8 milhões. Quantia que Aidar aceitou pagar. Diante de tantas acusações, os conselheiros não tiveram dúvidas. Expulsaram Aidar. 142 foram favoráveis e 36 contrários. E também Ataíde. 120 a 56. Os dois não são mais conselheiros vitalícios, não podem ser candidatos a presidente, nem votar. Por enquanto continuam sócios do clube, mas deverá haver outro julgamento. E ambos devem ser banidos. Ataíde garante que não recorrerá da sentença. Aidar vai pensar. Fora tudo isso, o Ministério Público já investiga os dois. Demorou, mas o clube está virando a página. Uma das mais negras de sua história. Que os conselheiros sejam mais ativos no futuro. Não sejam omissos, aduladores. Não busquem cargos, viagens, selfies com jogadores. Cumpram sua obrigação.
Fiscalizem, cobrem, indaguem, questionem...
O homem que comandar o glorioso São Paulo Futebol Clube...
Fonte: Esportes R7
Autor: cosmermoli
Publicado em: 26 Apr 2016 12:04:19
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