quarta-feira, 10 de agosto de 2016

A Olimpíada transformou o melhor jogador brasileiro de 2015 em vilão. Mas enfrenta as vaias, ainda anima Neymar e o resto do time. Discute tática com Micale. Renato Augusto é o verdadeiro capitão...

A Olimpíada transformou o melhor jogador brasileiro de 2015 em vilão. Mas enfrenta as vaias, ainda anima Neymar e o resto do time. Discute tática com Micale. Renato Augusto é o verdadeiro capitão...




Salvador... A cena foi discreta. Mas intensa. Eram 22h30 de ontem. Novotel, cinco estrelas, na capital baiana onde a Seleção Olímpica está concentrada. Em frente ao elevador social. Renato Augusto dá um abraço na sua esposa Fernanda. Os dois estão emocionados demais. O olhar de Fernanda é de tensão. O de Renato, tristeza. Lembra a despedida de um soldado indo para a guerra. Depois de quase um minuto, um beijo discreto. Ele entra no elevador sozinho. Fernanda se afasta, preocupada. O que deveria ser uma grande alegria, disputar a Olimpíada no Brasil, virou grande agonia para os jogadores da Seleção Brasileira. Renato Augusto se tornou o alvo mais evidente. Embora a estrela seja Neymar, nesta campanha vexatória de dois empates contra a África do Sul e Iraque, foi o meia de 28 anos é o jogador mais perseguido pela torcida. Em Brasília, a raiva ficou evidente assim que a bola chegava a seus pés. Vaias, palavrões. Não deve ser fácil para Fernanda ver o marido execrado. Renato Augusto paga o preço do improviso. O Brasil pode até massacrar a Dinamarca hoje à noite na Fonte Nova. Ganhar a medalha de ouro. Mas as marcas já ficaram para o meia. Ele nunca sofreu tamanha perseguição. Há oito meses ganhava, disparado, o prêmio de melhor do Brasileiro de 2015. Fernanda estava ao seu lado, orgulhosa, com o troféu.

Mas tem se comportado ao contrário de Neymar. Renato Augusto é o verdadeiro da capitão desta seleção montada às pressas, sem o menor critério. Entregue na mão de um treinador totalmente inexperiente sob a coordenação de Tite, que não quis assumi o cargo, depois da demissão de Dunga. "Eu não sou um homem de fugir das dificuldades. As enfrento. Havia uma expectativa muito grande em cima da Seleção Olímpica. Os torcedores foram para os jogos acreditando que veriam goleadas. Mas nós tivemos muito pouco tempo de preparação, com o time todo. Não é fácil montar uma equipe. Jogamos contra adversários entrosados, preparados. Isso faz grande diferença. "O normal seríamos vencer. Daí eu entendo as cobranças, as vaias. Os torcedores sempre escolhem alguém. Desta vez fui eu. E falo a verdade. Melhor me vaiar do que a carga cair em outra pessoa. Sou um vivido, encaro com normalidade. Consigo entender o que se passa. Mas não vou abaixar a cabeça. Fugir seria fácil. Mas essa atitude não combina comigo." Renato Augusto só não tem a faixa. Mas ele exerce a função de capitão da Seleção. É quem acalma os companheiros mais jovens. Estimula os mais abalados, como Gabriel Jesus. E tenta acabar com o ressentimento de Neymar, irritado com as críticas, cobranças e também vaias. Diante da inexperiência assumida de Micale, Renato Augusto se tornou peça fundamental na troca de ideias táticas sobre o time. Passam muito tempo em todos os treinamentos discutindo a melhor maneira de o Brasil jogar. Inclusive o 4-3-3, que está o sacrificando. Com a péssima escolha de apenas três jogadores no meio de campo. Tudo é caótico para ele. Neymar e Gabriel Jesus não voltam para recompor. Felipe Anderson só se preocupa com o ataque. Há o espaço enorme das intermediárias para ser vigiado por Renato Augusto.

Como o time tem o péssimo costume de trocar passes excessivos para o lado, o jogador ainda se sente na obrigação de subir ao ataque para bater a gol. Para piorar, contra o Iraque, aos 47 minutos, Willian cruzou e Renato Augusto, sem goleiro, chutou para fora. O lateral brasileiro ficou desesperado quando viu o erro do companheiro. "O que aconteceu foi que eu cheguei muito rápido para a bola. E ela veio um passo atrás. Tentei virar o corpo, mas não consegui. Toquei errado e a bola foi para fora. Foi ruim. Mas isso acontece. Já fiz vários gols mais difíceis. O lance não me abala." Mas as redes sociais não o perdoaram. Assim como a tevê. O lance foi repetido dezenas de vezes em programas esportivos que os jogadores assistem na concentração. A ironia de alguns apresentadores e comentaristas revoltaram alguns atletas. Isso já havia acontecido quando Gabriel Jesus acertou a trave contra a África do Sul. Mas Renato Augusto não quer comprar briga explícita com ninguém. Durante a "intervenção branca" ontem de Tite, recebeu apoio do treinador da Seleção principal, ontem à tarde. O ex-técnico corintiano é responsabilizado por sua convocação, depois do corte de Douglas Costa. Tite sabe que Renato Augusto rende tudo que pode atuando como meia. Não como segundo volante, totalmente sacrificado, nas intermediárias. Esse é um erro grave no sistema escolhido por Micale.

Não seria de espantar se o Brasil hoje entrasse na Fonte Nova no 4-4-2. Com direito a mudança nos "conceitos" de Micale. É uma questão de necessidade. Isso traria muito mais conforto para o time. A simples saída de Gabriel Jesus, a entrada de Wallace no lugar do suspenso Thiago Maia. Acompanhado de Rodrigo Dourado. Seria excelente para Renato Augusto. "Eu estou acostumado a um toque de bola mais cadenciado. Os garotos, não. Preferem um ritmo mais acelerado. De primeira. Eu até tentei me adaptar, mas o gramado do Mané Garrincha não permitiu. Havia muita areia. Tinha de dominar a bola e depois passá-la. Isso dava tempo para os nossos adversários montarem sua defesa. E o gramado também atrapalhava na hora de chutar para o gol." O jogador faz questão de destacar que jogar na China não o afeta. "Fiz todos os testes dos meus companheiros. Os resultados são ótimos. Estou no mesmo nível físico. Não há nada me atrapalhando, não."

Renato Augusto está contaminado como seus companheiros. Está visivelmente tenso e magoado com o tratamento que está recebendo. Não foi por acaso que Micale antecipou. Seus atletas deveria se preparar para as vaias, como se estivessem atuado fora de casa. "Mas não é fácil. Pensar que a Olimpíada está sendo disputada no meu país e eu tenho de aceitar as vaias e não incentivo dos brasileiros... É duro. Quem vai gostar de ser vaiado? Mas já passei por muitas dificuldades na minha vida. "Nosso time é forte, com muito jogadores talentosos, dedicados. Tem tudo para dar a volta por cima. E conquistar o ouro. As vaias vão acabar." É o que Fernanda deseja. O sofrimento está forte demais...



Fonte: Esportes R7
Autor: cosmermoli
Publicado em: 10 Aug 2016 12:25:13

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