Salvador... Os questionamentos sobre seu comprometimento com a Seleção Brasileira deram certo. Seu pai e amigos o aconselharam. Não valeria a pena seguir com a pena com o rompimento com a imprensa brasileira. A sua vida seria um tormento toda a vez que voltasse para o país. A raiva, a mágoa, o rancor ainda estavam estampados no seu rosto. Nem mesmo a goleada diante da Dinamarca o estimulava. Ele ainda remoía as críticas. Estava ainda decidindo o que fazer. Tanto que foi o único que não deu entrevistas ainda dentro do gramado para as grandes emissoras brasileiras. Só na zona mista, onde o contato é direto, os jornalistas ficam cara a cara com ele, que Neymar decidiu falar. Iria expor a mágoa que o dominava. "Chateado a gente fica sim, principalmente quando não é uma crítica construtiva, e sim maldosa. Realmente eu fiquei muito chateado. Mas a gente sabe que faz parte, então eu peço aqui que nos apoiem, que se for para criticar, que seja construtivo." Neymar mistura tudo. De propósito ou não. O apoio o grupo de Micale sempre teve desde o início da Olimpíada. A torcida e a imprensa foram absolutamente compreensivas com o grupo que estava sendo formado. Só que o time foi muito mal contra a África do Sul. E muito pior diante do Iraque. Por seu potencial, Neymar será sempre a grande esperança quando o Brasil entrar em campo. Nos jogos que a Seleção sai vencedora, sua participação é absolutamente fundamental. Como ontem, quando atuou exatamente como Messi, no Barcelona. Exerce a função que Guardiola adorava colocar o argentino, a do falso centroavante. Neymar solto, flutuando na intermediária ofensiva confunde os zagueiros adversários, libera espaço para os companheiros de ataque. Como Gabriel, Gabriel Jesus e Luan.
O que o jogador de 24 anos precisa começar a entender que não é obrigatório o apoio, as palmas quando o time e ele estiverem mal. E que a função do capitão da Seleção Brasileira é muito importante. Ele representa a equipe. E deve sim satisfação a milhões de compatriotas quando o time não consegue render. Dar entrevista nas vitórias é fácil. Como ontem. O ídolo que tem potencial para se tornar precisa ter a força, a coragem para se explicar quando as coisas não dão certo. Colocar um fone no ouvido e fingir que não tem nada o que falar é infantilidade. Os tempos de menino vão ficando para trás. É pai. Caminha para os 25 anos. Dono de um patrimônio dos maiores entre os esportistas do planeta. É preciso assumir a lacuna de líder da Seleção. Só isso. Se não tem personalidade talhada para a liderança, não é pecado. Pelé também não tinha. Só é preciso assumir uma postura firme. As selfies estão cada vez mas vazias, sem sentido.
"Acabou de acontecer uma coisa assim com a lutadora de judô, a Rafaela Silva, que na Olimpíada passada perdeu e foi muito criticada. Falaram que ela era uma vergonha, hoje ela deu a volta por cima e saiu como heroína. Nós atletas sabemos que vivemos nesse mundo, em que você vai do céu ao inferno." Neymar segue sendo mal orientado. Nem ele ou Rafaela são "vergonha", nunca foram. Desde os tempos de menino prodígio, foi mimado. Seu talento só reservou afagos. A cobrança é inerente a quem se posiciona como camisa 10, capitão, senhor dos pênaltis e das faltas da Seleção pentacampeã do mundo. Ele como Rafaela são atletas de elite. E de quem se espera grandes resultados. Ainda mais quando há a disputa do futebol, esporte coletivo preferido deste país. Neymar é uma pessoa vaidosa. Soube que pessoas de todo o país, decepcionadas com o desempenho da Seleção, passaram a usar uma camisa de protesto. A 10 da Seleção, com seu nome riscado. E escrito o nome de Marta, já que a Nike não produz camisa da melhor jogadora do futebol do mundo.
Escolheu a melhor resposta. "É uma honra ser comparada a Marta. Ela é a melhor jogadora do mundo." Evitou confrontos, conflitos. Sabe muito bem que é muito mais um protesto do que uma comparação verdadeira. É revolta da população diante não só do futebol decepcionante. Mas da postura arrogante, egocêntrica, incompatível com o capitão da Seleção Brasileira. Neymar tem plena consciência de que o futebol feminino é absolutamente marginalizado. Não há incentivo e nem cobertura da grande imprensa. Marta atua na Suécia não só por dinheiro, mas por reconhecimento. Não dá para comparar a idolatria entre um e outro. Quanto ao jogo diante da Dinamarca, Neymar não se aprofundou. Não falou sobre tática, estratégia. Quis apenas mostrar que o time correu, disputou para valer o jogo. Como se não fosse algo mais do que obrigatório. Apenas destacou o domínio da ansiedade. "Estamos felizes pela partida de hoje. Empenho não faltou nas últimas partidas. Nos dedicamos ao máximo, e infelizmente o resultado não veio. Hoje nos empenhamos também da mesma forma, mas tivemos mais paciência com a bola e mais tranquilidade para o passe certo. Conseguimos construir o resultado, conseguimos os gols. As outras partidas não tínhamos conseguido fazer." Neymar não deu a entrevista com prazer na zona mista da Fonte Nova. Pelo contrário. Falava com mágoa, sem encarar ninguém. Permitia uma ou duas perguntas para um grupo de ávidos jornalistas. Deu 11 respostas. Perdeu exatos nove minutos de sua vida dando explicações para milhões de brasileiros. Saiu mancando, sem poder apoiar com firmeza seu pé direito no chão. Ele pisou no pé de um jogador dinamarquês e sofreu uma pequena torção. Deverá estar presente contra a Colômbia, sábado, no Itaquerão. Ele encarará a torcida mais exigente do país. Logo no primeiro jogo eliminatório da Olimpíada. Mas Neymar chegará mais leve. Sem tanta pressão. Não só pela vitória. Mas por começar a exercer sua missão como capitão. Sua obrigação é que siga se posicionando. Inclusive quando as coisas não dão certo. Guarde seus fones de ouvido. E "perca" nove minutos de sua vida...
Fonte: Esportes R7
Autor: cosmermoli
Publicado em: 11 Aug 2016 08:45:48
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