quinta-feira, 4 de agosto de 2016

Com toda mordomia em relação ao time de Marta, o Brasil de Neymar estreia na Olimpíada, contra a África do Sul. Para tentar resgatar a magoada e descrente torcida...

Com toda mordomia em relação ao time de Marta, o Brasil de Neymar estreia na Olimpíada, contra a África do Sul. Para tentar resgatar a magoada e descrente torcida...




Brasília... "Ahhhhh, a Marta é melhor que Neymaaaarrr!" O coro da torcida no Engenhão, durante a vitória da seleção feminina diante da China por 3 a 0, reflete aqui, na capital do Brasil. E demonstra a insatisfação da população com a Seleção. E com o seu principal representante. Absolutamente pressionado, o Brasil começa hoje, às 16 horas, no Mané Garrincha, a disputa da inédita medalha de ouro olímpica. O fracasso da Copa do Mundo, de dois anos atrás, ainda está presente. A desilusão ainda está misturada com a vergonha, a raiva pelos 7 a 1 para a Alemanha. Até porque depois daquela goleada, o time de Felipão veio exatamente para Brasília. E levou outra sova histórica. 3 a 0 para a Holanda, ficou com a medíocre quarta colocação em uma Copa realizada em casa, com todo o apoio de sua torcida. "O apoio não pode virar pressão. Essa é a minha grande preocupação", desabafa Rogério Micale. Ele é o treinador da Seleção Olímpica. Herdou o cargo há menos de dois meses. O cargo seria de Dunga, mas acabou demitido depois de fracassar nas Copas América do Chile e dos Estados Unidos. A Comissão Técnica tenta se defender antecipadamente. Das 23 disputas do futebol masculino na Olimpíada, apenas três países que sediaram a competição saíram campeões. A Grã Bretanha, a Bélgica e a Espanha. Países tradicionais no futebol como a Itália, a Alemanha, a França, duas vezes, e a Rússia não venceram em casa. Nas últimas cinco disputas, treinadores consagrados fracassaram. Carlos Alberto Silva, Zagallo, Luxemburgo, Dunga e Mano Menezes. Todos com passagem pela Seleção Brasileira principal. "De todo o grupo que está aqui disputando a Olimpíada, o desconhecido sou eu", Micale, diz a verdade, brincando. Com 17 anos de carreira voltada aos times de base, o baiano sabe que não é uma figura popular. E nem valorizada. Ganha menos do que todos os 18 jogadores convocados, mesmo os reservas. Mario Rogério Reis Micale sabe que sua vida já mudou. Deixou o ostracismo reservado aos treinadores de base. Ganhou os holofotes e um time caríssimo, só o ataque vale mais de um bilhão de reais. Gabriel, Gabriel Jesus e Neymar. E a obrigação de não apenas disputar a Olimpíada, mas vencer. Desde o dia 18 de julho, até hoje, dia da estreia contra a África do Sul, foram 15 treinamentos. Duas folgas. Uma vitória por 2 a 0 no único amistoso desses jogadores antes da Olimpíada. Um corte de um dos maiores líderes do elenco. Sob o comando de um treinador promissor, mas inexperiente.

Há 18 dias, Micale sequer conhecia pessoalmente Neymar, Renato Augusto, Marquinhos, Fernando Prass e Weverton. Ou seja, uma preparação amadora, à altura da CBF. Mas a cobrança será imensa. O futebol ainda é a paixão maior da população. Será o esporte que terá mais público nesta Olimpíada. São previstos mais de 50 mil torcedores no Mané Garrincha, o está mais superfaturado da Copa do Mundo, que custou R$ 1,9 bilhão de dinheiro público. Os administradores do elefante branco mostram incompetência até para deixar o gramado decente. Mesmo com pouquíssimo jogos no estádio. O descaso é inacreditável. E a Olimpíada é disputada em rodada dupla. Antes da partida do Brasil, dinamarqueses e iraquianos estarão correndo sobre o piso irregular. O que deixará pior para o jogo das 16 horas. Nas arquibancadas, o apoio será muito diferente do que foi dado em 2014. Há muita desconfiança e impaciência em relação a tudo envolvendo a Seleção Brasileira. Não houve fãs histéricos à porta do luxuoso hotel Windsor Brasília. Haverá a torcida, mas não a devoção. Os vexames foram pesados demais.

Micale, sob a supervisão de Tite, montou time absolutamente ofensivo. A proposta é ousada e até insana. Principalmente para uma equipe que acabou de se conhecer. A aposta é que a fragilidade dos adversários proporcione a chance da consagração, da medalha dourada, com direito a muitos gols. Para calar as críticas dos jornalistas e animar os desacreditados brasileiros. Há um clima de revanchismo dos jogadores no ar. Principalmente de Neymar. Ele não é mais aquele garoto alegre, humilde. Se tornou uma celebridade. O terceiro jogador do mundo. Estrela mundial do Barcelona. É pai. Sofreu acusações sérias de sonegação de impostos no Brasil e na Espanha. Foi personagem vexatório na Copa América do Chile, em 2015. Perdeu a inocência. E grande parte da admiração que deveria ter a maior estrela do futebol brasileiro. Por estar sozinho em uma geração mediana, ele se impõe. Terá tudo o que queria. Será o capitão, camisa 10, baterá todos os pênaltis e faltas que quiser. Tudo para que coloque seu potencial a favor do time.

Durante toda a preparação para a estreia de hoje, foi com Neymar que Micale conversou. Os detalhes do esquema tático, da aposta arriscada no 4-3-3. Teve o apoio total do principal jogador nascido neste país desta geração. E Neymar vai atuar como gosta, como está acostumado no Barcelona. Do meio para a esquerda, o espaço é todo seu. O único pedido de Micale, feito como todo cuidado, é que Neymar não queira dar seu show particular. Faça como no Barcelona. Alterne dribles com passes, infiltrações, triangulações. Desoriente a marcação adversária. Contra o Japão, ele seguiu o combinado durante os primeiros 45 minutos. E foi muito produtivo. Já no segundo tempo, prendeu a bola, quis dar seu show, marcar seus gols. E repetiu o fraco desempenho com a camisa da Seleção nos últimos tempos.

A Seleção terá um adversário fraco hoje em Brasília. Owen da Gama já adiantou que deverá montar seu time defensivamente. Povoar o meio de campo, como fizeram os japoneses. E sonhar com gols em bolas paradas ou contragolpes. Só que há uma diferença importantíssima entre Japão e África do Sul. A força física nas disputas de bola. Os sul-africanos são violentos. Para escapar da retranca e da violência do adversário e ainda conquistar a torcida, Micale treinou muito a marcação na saída de bola. Seu sonho é o Brasil marcar um gol antes dos primeiros quinze minutos. Até para diminuir a tensão que já começa a dominar o ambiente. No amistoso que disputaram em março, o sub-23 do Brasil venceu por 3 a 1 os sul-africanos. Tecnicamente não foi tão difícil.
Vale a pena destrinchar o time de Micale. A defesa tem Weverton, goleiro recém-chegado com o corte de Fernando Prass, sem o menor entrosamento com os defensores. Mas está em ótima forma. E deverá atuar quase como um líbero, com a marcação alta. Zeca, lateral esquerdo do Santos, estará improvisado na direita. Por fala de outros jogadores com idade para atuar na posição. Marquinhos e Rodrigo Caio formam uma ótima dupla, mas também apenas 18 dias de convivência. Douglas Santos é um lateral ofensivo e que será escudeiro de Neymar, precisa de cobertura. Thiago Maia, Renato Augusto e Felipe Anderson. Micale não estava brincando quando falou que escalaria meias e não volantes. Meio de campo leve e extremamente ofensivo. A prioridade é nutrir Gabriel, Gabriel Jesus e Neymar. Está clara a proposta do Brasil. Diante da suposta fragilidade dos adversários, não só ganhar, mas encantar na conquista da medalha de ouro. Está certo que a fragilidade das demais seleções estimula. Mas a preparação, é preciso repetir, foi improvisada, amadora. O Brasil colocará em campo um time desentrosado. Montado às pressas. Não adianta ter os melhores jogadores. O conjunto, o futebol coletivo traz as vitórias. Alemanha e Portugal deram os exemplos mais recentes. Quanto à comparação com o futebol feminino, chega a ser covardia. O time verdadeiro da CBF se preparou na ultrapassada, mas confortável Granja Comary. Está circulando em hotéis cinco estrelas. Com toda mordomia. Premiação de 100 mil dólares, R$ 327 mil, pela medalha de ouro. As meninas ficaram em Itu, depois na lastimável Vila Olímpica. E têm como promessa R$ 35 mil para cada uma se conseguirem o ouro. Quase dez vezes menos. Fica difícil saber de tanta diferença de tratamento. E não cobrar um desempenho à altura da Seleção Masculina de futebol. O time de Neymar.

O apoio vai virar pressão, Micale.

Ninguém se esqueceu da Copa, mas também de Londres...



Fonte: Esportes R7
Autor: cosmermoli
Publicado em: 04 Aug 2016 09:02:57

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