segunda-feira, 29 de agosto de 2016

Leco se desmente. Nunca rompeu com a Independente. Confirma manter relacionamento com as organizadas que invadiram o CT do São Paulo. Por medo, os dirigentes dos grandes clubes se tornaram reféns de seus torcedores...

Leco se desmente. Nunca rompeu com a Independente. Confirma manter relacionamento com as organizadas que invadiram o CT do São Paulo. Por medo, os dirigentes dos grandes clubes se tornaram reféns de seus torcedores...




O Brasil é um pais com lei. Só que a lei não é cumprida. Um grande exemplo é o que está acontecendo nesta crise do São Paulo. Mesmo depois da deplorável invasão de 500 vândalos das organizadas no treinamento do time, com direito a agressões em Michel Bastos, Carlinhos e Wesley, o presidente Carlos Augusto Barros e Silva teve a coragem de fazer uma constrangedora revelação. "Eu não rompi com as organizadas. Nós modificamos a administração da relação com eles. As organizadas a maioria é feita de bons e grandes são paulinos, pelos quais temos profundo respeito. Uma ou outra figura, que se deixa influenciar por um comportamento tribal, não representa a maioria." Leco disse essas palavras ontem. Falou ao jornal Estado São Paulo. No dia 8 de julho, diante da confusão que os torcedores organizados aprontaram diante do Morumbi, inclusive com arrastões, a declaração do principal dirigente do São Paulo foi outra. Sócios-torcedores ameaçaram acabar com seus planos se o clube não rompesse com as uniformizadas. Só aí, Leco se manifestou. "O São Paulo formaliza que não vai manter qualquer tipo de relação com as torcidas organizadas. Em qualquer aspecto. Por fim, fará todos os esforços ao seu alcance, junto com as autoridades competentes, para assegurar que cenas lamentáveis como aquelas, não se repitam, em respeito à história do clube e à paixão dos torcedores." Qual Leco falou o que realmente acontece? O que prometeu romper com as organizadas? Ou o que garantiu que a relação continua?

Em nota oficial, no site da principal organizada, a Independente, há fortes indícios que a relação entre os torcedores e São Paulo nunca foi rompida. O que a maioria dos conselheiros do clube sempre acreditou. Vale a pena reproduzir a postura dos torcedores. "A Torcida Independente informa os fatos ocorridos, no sábado de treino do São Paulo FC, com a verdade: – O protesto já era de conhecimento da diretoria do SPFC, tivemos personalidades da mídia, blogueiros conhecidos nas redes sociais, todos divulgando; – Chegamos no CCT concentrados, encontramos o público que já estava no portão, Dragões da Real, torcedores comuns e sócios torcedores, que iriam ver o treino na data de hoje. Pra quem não sabe, nem nós sabíamos, torcedores tinham acesso ao treino. A pressão foi imediata, mas o acesso foi sem confronto; – Não tivemos resistência em nossa entrada. Deparemos com seguranças do São Paulo e policiais militares, na entrada do portão; – Seguimos até o campo. Soubemos de relatos de agressão e furto, mas cobramos junto das autoridades, as providências. Monitoramento existe, peguem os culpados. A Torcida Independente foi protestar, somente isso; – Conversamos com jogadores do time (nossas lideranças) e exigimos empenho, raça, compromisso e muito respeito com a camisa tricolor; – Saímos, assim como entramos, sem nenhum problema com a Polícia Militar ou com seguranças do clube. Concentração final ocorreu do lado de fora, onde distribuímos manifesto, ficamos com nossas faixas e bandeiras; – O apoio ao time nos 90 minutos segue. O protesto contra a diretoria também. – Acorda Leco, fora Ataíde, fora Gustavo!"

Significativa a última frase do comunicado oficial. "Fora Ataíde" (Ataíde Gil Guerreiro, expulso do Conselho Deliberativo e que renunciou ao cargo de diretor de relações institucionais) e "fora Gustavo" (Gustavo Vieira de Oliveira, diretor executivo de futebol). Quanto a Leco, foi um leve "acorda". No início do ano, em janeiro, Leco revelou para a "Folha de S.Paulo", que ajudava as torcidas organizadas com ingressos (1.500 para cada jogo no Morumbi e 500 para partidas fora de casa), além de dinheiro para o Carnaval. Nada menos do que R$ 150 mil para fantasias, carros alegóricos. Ou seja, o presidente do São Paulo primeiro confessou que dá recursos do clube para as organizadas. O dinheiro de 1.500 ingressos deixavam de entrar nos cofres por jogo no Morumbi. Mais cinco centenas em confronto fora. Lugares reservados juntinhos. A quantia que dava para carros alegóricos e fantasias, ninguém sabe. Mas saía do São Paulo. De repente, Leco garantiu publicamente que acabou qualquer tipo de relação, em julho. E ontem confirma que a parceria continua. A competente assessoria são paulina tentou consertar a declaração de Leco. E avisou que não há mais ingressos dados à organizada. Mas, por milagre, os membros da Independente conseguem sempre sentar um ao lado do outro. Seja no Morumbi ou em qualquer lugar do mundo.

O Brasil segue sendo o país de leis não cumpridas. No dia 18 de outubro de 2013, todos os grandes clubes paulistas assinaram um termo de ajustamento de conduta junto às suas torcidas organizadas. Isso de forma oficial, no Ministério Público. Corinthians, São Paulo, Palmeiras e Santos se prontificaram a ajudar na identificação dos vândalos infiltrados na torcida. Criar uma maneira de identificá-los e proibir a entrada nos seus estádios. E ainda não mais financiar as organizada. Não dar ingresso, ônibus, dinheiro, nada. Não manter qualquer vínculo. Só que o combinado não foi cumprido. Já houve chacina em organizada com torcedores envolvidos em tráfico, mortes em brigas, apreensão de toneladas de maconha em quadras, mortes em brigas, envolvimento de facções criminosas nas principais organizadas paulistas. E nada mudou. "Nós não temos qualquer relação com as organizadas", jura Paulo Nobre, o dirigente que garante ser a única exceção. Mas na nova arena palmeirense, a Mancha Verde tem sempre seu lugar reservado, como por milagre. No Santos, São Paulo e Corinthians, a relação com as organizadas segue discreta. Mas real. Nenhum dos quatro clubes criou o sistema de identificação dos vândalos nas suas organizadas, como prometido em 2013, no Ministério Público.

Em 2014, vândalos invadiram o CT do Corinthians. E as câmeras, como por milagre, se desligaram. Apesar de fotografados e filmados pela imprensa, nenhum dos centenas de "torcedores" que agrediram Guerrero e ameaçaram quebrar as pernas de Pato e Sheik foi preso. Na invasão de sábado no CCT da Barra Funda, ninguém também foi detido. Leco havia prometido que lutaria para punir os vândalos. Mas até agora nada aconteceu. Ou seja, o Ministério Público sabe. A parceria entre clubes e organizadas continua. Os dirigentes têm medo dos seus torcedores. Muitos sabem que, por exemplo, Alberto Dualib e Arnaldo Tirone, já foram caçados por corintianos e palmeirenses. Precisaram da polícia para não serem agredidos. Seus familiares foram ameaçados de morte.

Os próprios presidentes das organizadas confessam que nada podem fazer. Não têm como controlar milhares de membros de suas torcidas. Não há vontade política de alteração na legislação para responsabilizá-los pelos atos de vandalismo. E tudo segue como está.

Mas a pergunta que domina no Morumbi é insistente.

Qual a verdadeira relação de Leco com as organizadas?


Michel Bastos, Carlinhos e Wesley gostariam muito de saber.

Em todo caso, o trio já garantiu que não ficará no Morumbi em 2017.

Em janeiro, o próprio Leco talvez tenha dado a resposta.

"Não tem como não conviver com essas torcidas. São concessões que temos que fazer. Ajudar no carnaval e a entrar no estádio. Sempre foi assim e sempre vai ser. É uma prática, algo pequeno. O jogador faz gol e faz o sinal da Independente. Não faz para ser agradável, faz porque tem medo..."

Não são só os jogadores que têm medo das organizadas.

Os dirigentes tentam disfarçar.

Mas são reféns dos próprios torcedores...



Fonte: Esportes R7
Autor: cosmermoli
Publicado em: 29 Aug 2016 11:56:32

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