terça-feira, 16 de agosto de 2016

Lágrimas, frustração dominam o Maracanã. O sonho da medalha de ouro do Brasil de Marta morre nos pênaltis. A Suécia vence por 5 a 3. Agora, a amarga compensação de disputar o bronze...

Lágrimas, frustração dominam o Maracanã. O sonho da medalha de ouro do Brasil de Marta morre nos pênaltis. A Suécia vence por 5 a 3. Agora, a amarga compensação de disputar o bronze...




Rio de Janeiro. Maracanã... "Não se apresse em perdoar. A misericórdia também corrompe." A frase de Nelson Rodrigues marca o fim dos sonhos da Seleção Feminina de Futebol. O Brasil, que havia se exposto às penalidades contra a Austrália, não sobreviveu à nova decisão. Depois do péssimo empate em 0 a 0 contra a Suécia, nos 90 minutos e nos 30 de prorrogação, o castigo. Cristiane e Andressinha perderam suas cobranças. Facilitaram as defesas de Lindahl. De nada adiantou Bárbara espalmar a cobrança de Asllani. 4 a 3 para as suecas. Elas disputarão a desejada medalha de ouro. As brasileiras, lutarão apenas pelo bronze. No final, lágrimas, muitas lágrimas. Frustração nas arquibancadas. E a certeza de todo o sofrimento no Mineirão foi à toa. Nelson Rodrigues ficaria admirado. O Maracanã completamente remodelado. E lotado. 60 mil torcedores pagaram caro para torcer pelo futebol feminino brasileiro. Sim, mulheres, disputando a Olimpíada pela quinta vez. E o complexo de vira-lata havia mudado de sexo. Por duas vezes, o Brasil chegou à final, mas perdeu a medalha de ouro para as americana. O anjo pornográfico pernambucano ficaria de queixo caído. Quando era vivo, escritor e jornalista consagrado o futebol das moças era proibido. Hoje, não. A cinco vezes melhor do mundo, Marta é a grande estrela do time brasileiro. O técnico Vadão a usa como referência. Canhota, pela ponta direita. Contra as loiras e translúcidas suecas, nada do malemolente toque de bola carioca. Os deuses do futebol mudaram. Viraram números. A Suécia travada no 4-5-1. Acreditando em uma velha frase rodriguiana. "O brasileiro não está preparado para ser o maior do mundo em coisa nenhuma. Ser o maior do mundo em qualquer coisa, mesmo em cuspe à distância, implica uma grave, pesada e sufocante responsabilidade." Enquanto o Brasil tentava no 4-2-3-1 se impor. Iniciativa atualmente significa marcação por pressão. Tática brasileira que exigia muito das meninas. Até porque elas jogavam no horário infernal e insano das 13 horas. Com 28 graus com sensação de 31. Uma cretinice.

A emoção de estar no palco mundial do futebol parece ter mexido com os nervos das brasileiras. Maracanã lotado significava responsabilidade. Obrigação de dar espetáculo. Golear. Esta era a expectativa. Na fase de grupos, vitória por 5 a 1. Os brasileiros que lotavam as arquibancadas vieram para ter uma grande dose de felicidade. Se encher de ilusão por 90 minutos. Mas as suecas não estava dispostas a passar outra vez vergonha. E armaram uma retranca. Digna herdeira dos ferrolhos suíços, que Rodrigues tanto detestava. De nada adiantou Vadão avisar que a partida exigiria paciência, não perder a estratégia, organização. Não. O time confundia atuar em bloco, com encher a área com jogadoras esperando sobras de um cruzamento ou chute de Marta. Faltava consciência. Principalmente nos raros contragolpes suecos. A defesa brasileira atuava em linha, dando espaço para que, em lançamentos, Blackstenius chegasse na cara da goleira Bárbara. No primeiro tempo, o Brasil fustigou o quanto pôde. Os números orientariam o míope Nelson. 15 chutes a gols das brasileiras e dois das suecas. A posse de bola foi de 71% nacional. As europeias apelaram para quatro pontapés, contra nenhum das gentis meninas tupiniquins. Goleada nos escanteios. 6 a 2. Nelson não seria só levado pelas emoções. O frios números da estatística demonstravam o total domínio verde e amarelo. O 0 a 0 do primeiro tempo foi enorme injustiça. A impaciência já dominava o Maracanã. A torcida já pressionava desde os primeiros minutos do segundo tempo. Pedia por Cristiane, que vinha de lesão. Estava no banco de reservas de Vadão. Colocá-la seria arriscar perdê-la em uma eventual final. Marta seguia absolutamente fixa na ponta direita. Parecia colada na faixa que Garrincha ocupou. Com durex. O time obrigava a veterana Formiga tentar armar as jogadas ofensivas. Enfrentar o mar de pernas brancas. Bia, Debinha e Andressa Alves refletiam a afobação e irritação da mulher brasileira que não consegue o que quer. Faltava tranquilidade, objetividade. O jogo foi se tornando incrivelmente monótono. Sem imaginação, o Brasil tinha a bola, mas insistia em chuveirinhos, jogar a bola na área sueca, tentava fazer o gol de qualquer maneira. A frustração era descontada em divididas maldosas, pisões de propósito nos tornozelos das suecas. Feio demais. As suecas seguiam seu destino. Pecar? Não. Marcar. Com o passar do tempo, cada vez mais nervosismo. E nenhuma chance real de gol para o Brasil. A goleira Lindahl seguia tranquila. Até demais. E a torcida impaciente reclamava, se impacientava. Alguns até vaiavam. "A grande vaia é mil vezes mais forte, mais poderosa, mais nobre do que a grande apoteose. Os admiradores corrompem." A dependência de Marta era incrível. Superava até a masculina, refém de Neymar. A melhor jogadora brasileira estava cansada, improdutiva. Mesmo assim era incansavelmente procurada. E as suecas firmes, bem postadas. Só rebatendo a bola para longe de sua área. Como os três quilômetros de muralhas de Visby. O 0 a 0 nos 90 minutos foi ao mesmo tempo como nota dos dois times. Não adiantou apenas vontade sem o mínimo de consciência tática. E a covardia sueca era insuportável. Foi quando Vadão apelou ao que ele mesmo chamou na véspera, de último recurso. Cristiane. Ela teve fortes dores na coxa direita contra as próprias suecas na fase de classificação. Não jogou contra as sul-africanas. O planejamento era poupá-la para a provável final. Só que o Brasil precisava da maior artilheira do futebol na Olimpíada. Nenhuma mulher ou homem marcou 15 gols em 18 partidas olímpicas. Só que o Brasil estava cansado. Aliás, no Maracanã, todos estavam desgastados. As duas seleções e o público do péssimo futebol. Fazer imposto de renda seria muito mais emocionante do que assistir ao confronto. Masoquismo coletivo. As suecas insistiam em chutões e contragolpes que, sádicos, acabam nos pés de Schelin, que não tinha nada de ecológica. Cruel, preferia chutar a grama nos vários contragolpes que morreram nos seus pés. A prorrogação seguiu, arrastada, com o Brasil tendo a iniciativa. Mas sem a menor coordenação tática para atacar. Puro nervosismo e passes errados. E chegaram os pênaltis. Cristiane e Andressinha fizeram, com péssimas cobranças, Lindahl uma heroína. Bárbara pegou a cobrança de Asllani. A Suécia vai disputar o ouro. As brasileiras, a compensação do bronze. A frustração era tão grande aqui no Maracanã.

Poderia ser cortada com faca.

A medalha de ouro poderia dar uma guinada no esporte.

Trazer patrocínios.

Campeonatos organizados de forma decente pela CBF.

Agora, essas mulheres estão órfãs.

Mas o fracasso não tem pai e nem mãe.

Elas não mereciam tanto sofrimento...




Fonte: Esportes R7
Autor: cosmermoli
Publicado em: 16 Aug 2016 16:06:04

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