São Paulo... Há duas zonas mistas na Olimpíada. Uma acontece no gramado. Os jornalistas de tevê pedem para os voluntários trazer os jogadores que querem entrevistar. Neymar foi unanimidade ontem. Mesmo após a vitória sobre a Colômbia, ele não quis falar. Aliás, ele não falou sequer uma vez logo após o jogo. Estratégia das 29 pessoas que o assessoram, mais a assessoria da CBF. Para que não dê qualquer declaração com a emoção à flor da pele. A mesma tática não vale para os outros jogadores do time olímpico. Depois de não dar entrevista no campo, há a zona mista após o banho, adrenalina baixa. Mais de 50 jornalistas o esperavam. Afinal, havia feito o seu primeiro gol na Olimpíada. Tinha sido o grande protagonista, o maestro da Seleção no decisivo jogo contra os colombianos. Além dos jornalistas, havia Vesgo do Pânico. Ávido para fazer graça com Neymar. O jogador passou direto pelos repórteres. Não adiantou nenhuma tevê ou rádio implorar por uma palavra. Portais e jornais ele naturalmente evita. Passou pelo corredor de jornalistas sorrindo e dando tchau. Só Vesgo reagiu. "Puta marra, hein Neymar? Não vai falar?" Neymar olhou, reconheceu o dono da voz. E sorriu. Respondeu. "Não é marra, não." E saiu sorrindo. Outra vez o capitão da Seleção Olímpica não se dignava a dizer uma palavra sobre um jogo fundamental. O motivo não era simples e pura "marra". Neymar sabia o que havia feito. Além do gol, do bom futebol, dos dribles, da coragem de enfrentar os truculentos colombianos. Ele havia novamente perdido o controle. E aos 41 minutos do primeiro tempo, deu um pontapé sem bola em Roá. Por trás. O motivo? A Colômbia não respeitou o fair play e não devolveu a bola à Seleção Brasileira. Como capitão, Neymar considerou uma desfeita. E decidiu fazer justiça com os próprios pés. Ele não é acostumado a fazer faltas. Deu um pontapé descabido. Que merecia o vermelho direto. Se o juiz turco Cuneyt Çakir não tivesse se acovardado. Neymar não nasceu ontem. Sabia que seria metralhado de perguntas sobre sua atitude como capitão. Ao contrário do que acontecia com Romário, Ronaldo, Pelé, Gerson, Tostão, Jairzinho, Rivaldo, ele não quis assumir publicamente o que fez. Se calar e dar tchau ironicamente foi sua saída. O camisa 10, capitão, senhor de todas as faltas, escanteios e pênaltis tem todo o respaldo para tomar atitudes deploráveis como a de ontem. Micale não quer que nada perturbe seu principal jogador. Se o juiz não expulsou pelo pontapé por trás em Roá, não seria a imprensa brasileira e estrangeira que iria perturbar Neymar.
Além de Micale, os próprios companheiro de time dão resguarda a Neymar. "O Neymar não precisa ser cobrado, censurado pelo pontapé. Como capitão, ele marcou a nossa posição. Não iríamos ficar tomando chutes e entradas maldosas. Se é para jogar bola, a gente joga. Se é para porrada, não damos para trás, não. O lance do Neymar foi fundamental. Depois do que ele fez, os colombianos baixaram a bola. O juiz não iria expulsar porque ele tomou pancada demais. Foi tudo certo", analisou Wallace. Os jogadores são maliciosos, espertos. Entenderam o que acontecia. A Colômbia realmente fazia um rodízio de pancadas. Havia a orientação nítida para dar pancadas no brasileiro. Principalmente no tornozelo direito, que estaria inchado depois da partida contra a Dinamarca. "O Neymar reagiu porque tinha de reagir. Os colombianos estavam entrando duro. Ele tomou pancadas e mais pancadas. O juiz nada fez. Foi para os dois lados. O Neymar não merecia ser expulso. O amarelo ficou de bom tamanho", defendia Rodrigo Caio. Todas explicações que caberiam a Neymar. Mas ele está adotando, por conta própria, a mesma atitude do Barcelona. No seu clube, quanto mais estrela menos fala. Em 2015, Messi deu apenas duas coletivas. No ano todo. Isso é absolutamente normal. Rafinha, também jogador do time catalão, ainda não abriu a boca para os jornalistas. Desde que a Seleção Olímpica se juntou, no dia 18 de julho. Neymar impõe um padrão novo na Seleção. O de estrela midiática no Barcelona. Não se importa se é algo inaceitável para o capitão que veste a camisa verde e amarela. Nunca na história houve alguém que fosse tão individualista. Se colocasse acima do bem e do mal. Há a certeza que, se o Brasil conseguir o ouro olímpico, ele será o primeiro a comemorar com a torcida, sempre ótimas fotos para a Nike e seus demais patrocinadores. E também vai falar. Vai querer eternizar sua palavras como capitão e grande jogador do time, que realmente é. Mas se vier novo fracasso, a tendência é se calar. Algo que está se tornando mais do que constrangedor. Para todos. Seus companheiros se dispõem a dar explicações aos 220 milhões de brasileiros. Na vitória ou na derrota. Essa situação já foi exposta. Porque não é nova. Neymar tomou essa atitude de se calar, diante de dificuldades por duas vezes. Foi assim depois do 0 a 0 contra o Iraque, quando foi vaiado pela torcida em Brasília. E ontem, depois de fazer tudo o que Micale havia prometido que Neymar não faria. Ao contrário, o considerava amadurecido para ser capitão da Seleção. A reação irritada dos jornalistas será amenizada. A assessoria de imprensa da CBF encontrou uma maneira. Vai levar os jogadores para um passeio na Vila Olímpica. Com certeza serão forçados encontros. Principalmente envolvendo Neymar. Por exemplo, fotos dele com Marta são mais do que previstas. Para mostrar que as duas estrelas, os capitães da Seleção Masculina e Feminina estão juntos, brigando pela medalha de ouro. Só que cada um tem seu estilo. Marta humilde, chorando, desesperada. Neymar, pensando nele, se calando diante de dificuldades. E dando tchauzinho. Não para jornalistas. Mas a milhões de brasileiros que querem ouvir sua voz. Só que a assessoria da CBF está preparando uma compensação. Uma bela foto entre Neymar e Marta. E assim, a vida segue...
Fonte: Esportes R7
Autor: cosmermoli
Publicado em: 14 Aug 2016 12:11:14
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