quinta-feira, 18 de agosto de 2016

O ressentido Micale sabe. Acabou o teatro. Só haverá um jogo de verdade nesta Olimpíada. Brasil e a enfraquecida Alemanha. A medalha de ouro nunca esteve tão fácil. É obrigatória. Para a encenação de reconstrução do futebol brasileiro...

O ressentido Micale sabe. Acabou o teatro. Só haverá um jogo de verdade nesta Olimpíada. Brasil e a enfraquecida Alemanha. A medalha de ouro nunca esteve tão fácil. É obrigatória. Para a encenação de reconstrução do futebol brasileiro...




Rio de Janeiro... Rogério Micale sabe que cumpriu a sua obrigação. Em uma Olimpíada disputada no Brasil, tendo como único adversário razoável a Colômbia, era certeza disputar o ouro. As péssimas seleções da África do Sul, Iraque, Dinamarca e Honduras não podem ser levadas a sério. A Seleção decidirá o ouro, exigência do presidente Marco Polo del Nero. Ou seja, o inexperiente Micale já conseguiu, no mínimo, a prata. Atingiu o patamar mais alto que o Brasil conseguiu em todas as Olimpíadas que disputou. Mas isso não basta para um técnico emergente. Ele não é Zagallo, Luxemburgo, Dunga ou Mano Menezes que fracassaram na busca do ouro e sobreviveram. O baiano disfarça. Mas sonha. Sua carreira poderá dar um salto fundamental, passar a ser levado em conta por times grandes, ter o salário de R$ 25 mil multiplicado por, pelo menos, dez. Terá condições de dar um padrão completamente diferente para a família. Ou ficar trabalhando no ostracismo da base. Sem pressão. Usando sua lousa. Aplicando conceitos que misturam o melhor de Guardiola, Ancelotti e Klopp. Sem ser importunado, questionado. Com os garotos, sem a cobertura da imprensa, não precisará mostrar seu ressentimento crônico, que leva para o lado pessoal as cobranças de desorganização da CBF. Mostrando mágoa de quem não está acostumado a ser cobrado. Todo seu discurso de que está resgatando o verdadeiro futebol brasileiro, ofensivo, bonito, lindo, termina quando tudo é analisado com a cabeça fria. Sem ufanismo para ter audiência na tevê, ter acessos em portais, vender jornal. Micale nunca falará em voz alta. Mas ele sabe. A Olimpíada de 2016 tem, de verdade, dois times. Duas seleções. A do Brasil. E a Alemanha de Horst Hrubesch. Foi um torneio marcado. Das 16 equipes, 14 foram meras figurantes. Até o confronto marcado para o domingo, no Maracanã. O técnico brasileiro tem o discurso preparado para a vitória, o do primeiro passo na reconquista do respeito do mundo ao futebol pentacampeão do mundo. A valorização do talento dos nossos jogadores. A reverência a Neymar, que será, de acordo com ele, o melhor do planeta.

Nunca citará o caos que foi a preparação da equipe, com 15 dias para disputar a Olimpíada. Nem a emoção de dar a mão pela primeira vez a Neymar, Renato Augusto, Fernando Prass, Weverton. Só os conhecia da televisão e em fotos. Os teve de encaixar e formar uma equipe. Com a colaboração da fragilidade dos adversários e do respeito exagerado à camiseta amarela, a Neymar. Não o do Brasil, mas o do Barcelona. Aliás, Micale foi esperto. Se colocou como um protetor de seu principal jogador. O defendeu com unhas e dentes. Mesmo por atitudes inacreditáveis como virar a noite em uma festança em Goiânia e levar outros jogadores às vésperas da Olimpíada começar. Mesmo estando abaixo fisicamente. Ou como dar um pontapé por trás em Roa da Colômbia, não sendo expulso pela covardia do juiz. E ainda, mesmo sabendo que Neymar não é um líder, lhe deu a braçadeira de capitão da Seleção. Ou seja, o tratou, mesmo com 24 anos, como um menino mimado. Micale só assumiu sua dependência do jogador do Barcelona de maneira mais lamentável. Péssimo exemplo de quem se assume como um orientador, um formador de garotos. Triste exemplo. Se agir assim em uma equipe profissional será engolido pelos jogadores. Pelos dirigentes. Pela imprensa. Nesta Olimpíada dá certo pela cegueira coletiva das vitórias. Da necessidade do fim dos fracassos do futebol. Só por isso. A eventual conquista do ouro olímpico, título inédito, é uma obrigação para o esporte principal deste país. E que teve mais apoio entre todas as modalidades. Nunca o time de Micale teve menos de 40 mil torcedores o apoiando em campo. Chegou a ter perto de 70 mil em Brasília. Foi a única equipe a ficar o tempo todo longe da Vila Olímpica. Só hotéis luxuosos, de cinco estrelas. Visitou por marketing os parcos alojamentos onde ficam instalados os atletas brasileiros. A diferença de premiação é absurda. Del Nero oferece o dinheiro que a CBF economizou em Londres, há quatro anos. 100 mil dólares para cada jogador. R$ 321 mil. As meninas do Brasil receberiam R$ 35 mil cada, caso viesse o ouro. R$ 17,5 mil ofertados pelo COB e mais R$ 17,5 mil da CBF. Só que nenhuma parte desses reais chegará aos seus bolsos.

Del Nero gostou da ideia do presidiário Marin. É ouro ou nada. Para as mulheres, com o fracasso diante da Suécia, nenhuma premiação. Mesmo se vier o bronze. Aos homens, o critério será repetido. R$ 321 mil pelo ouro. E nada pela prata. Micale é esperto. Já começou a divulgar que a Seleção Alemã tem um trabalho de anos. O que é verdade. Horst Hrubesch desenvolveu o 4-1-4-1 que Joachim Low aprova e quer que use. Para que o jovem atleta não tenha o menor problema de adaptação caso tenha de servir o time principal. O treinador de 65 anos está desde 2000 nas categorias de base da seleção alemã. E optou por trazer ao Brasil apenas jovens promessas. Deixou de lado jogadores com menos de 23 anos que já estão consagrados, como Jonathan Tah, Joshua Kimmich, Julian Weigl, Emre Can, Julian Draxler e Leroy Sané que disputaram a Euro, com Low. Não bastassem essas ausências, Mahmoud Dahou do Borusia Mönchengladbach e Niklas Stark do Hertha Berlim ficaram de fora para disputar a fase preliminar da Champions League e da Liga Europa. A Alemanha abriu mão de estrelas com mais de 23 anos. Ninguém que se compare a Neymar. Vieram os irmãos gêmeos Bender. Lars é volante do Bayer Leverkusen e Sven, zagueiro e volante do Borussia Dortmund. Ambos, com 27 anos. Nils Petersen é o terceiro acima da idade limite. Também com 27 anos foi vice artilheiro da Segunda Divisão alemã, pelo Freiburg.

Como é fácil perceber, não há a mesma neura pela medalha de ouro. Porque a Alemanha já a conquistou, ainda como Alemanha Oriental, em 1976, em Montreal. "Lógico que queremos ser campeões. Mas o nosso objetivo principal é colocar jovens jogadores em uma disputa importante. Buscar experiência. Prepará-los para atuar no selecionado principal. "Esse time não tem absolutamente nada a ver com o 7 a 1. Aquilo aconteceu com a Alemanha principal, com jogadores maduros em uma Copa do Mundo. Nós temos uma equipe jovem, com atletas ainda em formação. Nós queremos ganhar, repito. Mas nosso objetivo aqui na Olimpíada é formar atletas para o futuro", assegura Hrubesch. O técnico não ilude ninguém. Sabe que enfrentou adversários fracos como Ilhas Fiji e o improvisado Portugal. Vitórias por 10 a 0 e 4 a 0. Empatou na fase de classificação com o México 2 a 2 e Coréia do Sul, 3 a 3. Venceu ontem a forte Nigéria por 2 a 0. A Alemanha tem grande poder de marcação. Compactação, recomposição. Libera seus laterais com consciência. Sua saída de bola é rápida, objetiva. O time é um rascunho da equipe campeã de Low em 2014.

Não há grandes destaques individuais. A força está no conjunto. Poderia estar muito mais forte, se tivesse os atletas da Eurocopa, três estrelas do time principal. Mas ninguém se queixa. Nem dá desculpa antecipada. Nada mudará na Alemanha se levar o ouro ou a prata. No Brasil, não. Micale sabe que a prata seria tratada como um fracasso. Com dinheiro, torcida, Maracanã, o ouro é obrigação.

Ainda mais com um time que veste a camisa branca da Alemanha.

O cenário estará pronto no sábado para uma festa.

Discurso preparado por assessores, desabafo...

E choro do capitão Neymar.

Televisões acompanharão o jogo com famílias de jogadores.

As lágrimas de alegria valerão pontos importantes no Ibope.

Pose que o 7 a 1 faz parte do passado.

Não há espaço para outro fracasso.

Se ele vier, Micale que se prepare.

Vai mostrar sua lousa para garotos pela vida toda...



Fonte: Esportes R7
Autor: cosmermoli
Publicado em: 18 Aug 2016 11:26:55

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