terça-feira, 23 de agosto de 2016

R$ 38 milhões de prejuízo. Esse o preço da mentira de Ryan Lochte. A 'falsa blitz' custou os patrocinadores e a idolatria ao nadador. Nunca algo parecido aconteceria no Rio. Não durante a Olimpíada. Agora...

R$ 38 milhões de prejuízo. Esse o preço da mentira de Ryan Lochte. A 'falsa blitz' custou os patrocinadores e a idolatria ao nadador. Nunca algo parecido aconteceria no Rio. Não durante a Olimpíada. Agora...




Rio de Janeiro... O motorista do táxi passa pelas miseráveis ruas da periferia da zona Norte do judiado Rio de Janeiro. Vejo carros de polícia colocados estrategicamente espalhados pela região. Estamos na avenida Leopoldo Bulhões. Nome imponente, homenagem a um ex-prefeito de Petrópolis. Mas seu nome na capita carioca provoca tremores. A avenida é conhecida como Faixa de Gaza, por sua violência. Tiroteios entre quadrilhas de traficantes rivais são comuns. Mas nesta Olimpíada se mostrava calma. Se podia ouvir passarinhos. Andar com a cabeça erguida, sem medo de bala perdida. Estava vigiada. Como toda a cidade. "Seu moço isso é tudo artificial. O senhor pode sair com malas de dinheiro pela madrugada que nada acontece. Parece que estamos cercados de anjos. Só que este céu dura apenas enquanto os gringos estiverem por aqui. Quando esses jogos acabarem, os policiais vão embora. Tudo vai voltar a ser a desgraceira que sempre foi. Aí te roubam até a marmita. Foi assim no Pan, na Copa do Mundo e agora na Olimpíada. Carioca só tem segurança nas grandes competições, quando os gringos estão nas ruas. Seria ótimo se todo ano tivesse uma." O desabafo é do taxista Josias, morador de Manguinhos. E cujo táxi não sai de sua garagem sem a Bíblia, seus santos protetores e um maço de fitas da igreja do Senhor do Bonfim. Dos "gringos" cuidaram 22 mil militares das Forças Armadas espalhados pela Cidade Maravilhosa. Tanques eram vistos pelas ruas. Soldados em cima de cavalos, motos, bicicletas, a pé. A cidade toda nunca foi tão policiada na sua história. Deixou para trás a famosa ECO 92, com seus 15 mil militares. Até o Estado Islâmico não se atreveu a aparecer.


O prefeito Eduardo Paes resolveu de forma bem brasileira o caos no trânsito da cidade. Decretou feriados nos dias mais complicados. Fórmula infalível para facilitar a vida dos turistas. Parar as repartições públicas, dar folga à endividada cidade, afundada nos problemas urbanos. Chamar de comunidade as favelas não amenizam os problemas. Qualquer turista que consiga enxergar e cheirar verá e sentirá o odor de esgotos a céu aberto. Os barracos amontoados, iluminados por fios clandestinos, os "gatos", culpados de tantos incêndios. O descaso dos hospitais e escolas públicas. O sofrimento dos desvalidos. Os viciados em crack perambulando, desorientados, pela periferia. Largados à própria sorte. Mas o turista olímpico foi embora sem saber que facções criminosas dominam inúmeras favelas. E o tráfico de drogas. Não soube porque tudo estava misteriosamente calmo durante os Jogos. Talvez um milagre, quem sabe...

A caríssima maquiagem do Rio de Janeiro valeu para as áreas de competição. Copacabana e Barra da Tijuca. Os lugares de circulação dos turistas mais endinheirados. Quem foi para a Zona Norte da cidade ficou desencantado. Mesmo com os milhões gastos com os militares, as toneladas de tinta olímpica laranja, foi impossível disfarçar as favelas que levam ao maior estádio do mundo. Assim como quem chegou pelo aeroporto internacional do Galeão também foi premiado com a triste visão do abandono dos governantes cariocas. Barracos ladeiam o trânsito caótico. Em cima, urubus voando, justificando o cheiro azedo de algo muito podre. Água estagnada em riachos poluídos. Revoltante. A baia da Guanabara seguiu nojenta. Mesmo com as competições acontecendo. O COI foi cúmplice da incompetência do governo carioca. As medalhas e os filtros das câmeras de tevê encobriram o descaso.

Neste cenário caótico por si mesmo, houve a história mais revoltante da Olimpíada. Nascida da imaginação curta de quatro norte-americanos inconsequentes, cafajestes, moleques. Ryan Lochte, Gunnar Bentz, Jack Conger e James Feige. O quarteto de nadadores decidiu ir para uma balada no domingo. Foram para uma festa na Casa da França, na Lagoa, rica Zona Sul. Ao serem flagrados bêbados na Vila Olímpica, os quatro juraram que se defrontaram com a famosa "violência carioca". Teriam sido vítimas de assaltantes. Bandidos com distintivos policiais pararam o táxi que onde os quatro estavam. Fingiram uma blitz e os roubaram. Prato cheio para a imprensa do mundo todo. A criminalidade do Brasil virou manchete na Ásia, na Europa e, principalmente, nos Estados Unidos. Os americanos escaparam da zika, da dengue, da malária, mas acabaram vítimas da marginalidade. Os nadadores agradeciam nas redes sociais a Deus por estarem vivos. Familiares davam entrevistas desesperados, chorando. O mundo se compadecia. Mas o ministro da Defesa Raul Jungmann e o próprio presidente interino Michel Temer exigiram providências de Eduardo Paes. E a farsa juvenil foi facilmente desmascarada. Muitos nadadores costumam descontar toda a pressão que sofrem no período de competição. E vão para bebedeira homéricas logo depois que disputam suas provas. Isso é clássico. Como esses quatro. Foram à uma festa na Cada da França. Beberam até não mais poder. E, na volta para a Vila Olímpica, foram depredar o banheiro de um posto de gasolina. Urinaram no chão, quebraram espelhos, saboneteiras. Mas o quarteto americano foi flagrado. Seguranças exigiram que pagassem pela depredação. Os nadadores se negaram. Tentaram fugir.

Mas dois seguranças apontaram armas a eles para receber. O posto não ficaria no prejuízo. Exagero, sim. Que poderia ser relatado à polícia. Mas os americanos preferiram apostar na mentira. Ao chegarem alcoolizados na Vila Olímpica, tinham de dar uma desculpa aceitável. E Ryan Lochte criou a história da falsa blitz, que seria facilmente engolida pelos veículos de comunicação do mundo. "Pararam nosso táxi e esses sujeitos saíram com um distintivo da polícia, sem o luminoso nem nada além desse distintivo da polícia, e nos tiraram do carro. Sacaram as armas e disseram aos outros nadadores que se deitassem no chão. Eles fizeram isso. Eu me recusei, não tínhamos feito nada errado, então não ia me deitar no chão", disse Lochte. Para a própria mãe, garantiu que um dos bandidos encostou a arma na sua cabeça. No primeiro instante todos acreditaram. Finalmente o escândalo que iria desmoralizar a Olimpíada. Mas o ficcionista não contava com algo óbvio. O Rio pode estar abandonado pelo governo, como estão as grandes cidades do país, mas existem câmeras de segurança chinesas espalhadas pela cidade. E toda a farsa caiu por terra. As imagens falaram mais alto. Mostraram a depredação no posto de gasolina. O quarteto chegando com carteira e celulares e brincando, sorrindo na Vila Olímpica. Tudo muito nítido. O que revoltou inúmeros órgãos importantes de imprensa. Eles tiveram de voltar atrás. Lochte não imaginou que havia colocado um país contra o outro. O governo brasileiro não seria ridicularizado tão facilmente, depois de investir tanto na segurança da Olimpíada. Uma mentira não macularia o histórico sucesso, que frustrou muitos que previam o caos. Por isso tudo foi colocado a limpo e divulgado pelo mundo.
É ingenuidade pensar que o motivo da mentira era apenas o medo das namoradas. Havia muito dinheiro em jogo. Marcas importantes rendiam cerca de 12 milhões de dólares, cerca de R$ 38 milhões ao "novelista". Ele é uma estrela norte-americana. Tem nada menos do que 12 medalhas olímpicas. Era considerado o maior exemplo do esporte, depois que Michael Phelps foi flagrado fumando maconha. Só que o teatro criado teve consequências gravíssimas para a imagem, para a vida de Lochte. Seu passado nas farras veio à tona. Combinação fatal com a irresponsável fantasia que tentou criar. Resultado: perdeu ontem todos seus patrocinadores. Speedo, Ralph Lauren, os cosméticos Syneron Candela e a marca de colchões Airweave não querem mais ligação com o nadador. Ryan Lochte pagou pelo fez. Tentar encriminar o Rio durante a Olimpíada. Ele deveria ter se aconselhado com o taxista Josias. Saberia que enquanto há qualquer competição ou evento internacional de grande porte, a cidade se torna uma das mais seguras do mundo. Reykjavík, capital da Islândia, perde longe. O problema é depois que os gringos vão embora.

Mas aí o descaso das autoridades é problema nosso.

Dos brasileiros, dos cariocas.

Não choca o mundo.

A partir de hoje, tudo mudou.

Os 22 mil militares deixam o Rio.

Não há gringos para proteger, só brasileiros.

Bêbados irresponsáveis podem apelar para namoradas.

Histórias de falsa blitz nas ruas cariocas agora "cola".

Volta para o Rio, Ryan Lochte...



Fonte: Esportes R7
Autor: cosmermoli
Publicado em: 23 Aug 2016 07:05:10

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