domingo, 7 de junho de 2015

A patética felicidade do Corinthians na vitória contra o lanterna do Brasileiro, o inofensivo Joinville. Tite sabe. Sem dinheiro, terá de agir como se treinasse o Veranópolis e não o bicampeão mundial...

A patética felicidade do Corinthians na vitória contra o lanterna do Brasileiro, o inofensivo Joinville. Tite sabe. Sem dinheiro, terá de agir como se treinasse o Veranópolis e não o bicampeão mundial...




O Corinthians terminou a partida de ontem contra o Joinville de forma emblemática. Com todos seus jogadores atrás da linha da bola, quatro zagueiros fixos, três volantes, Jadson e Mendoza como meros auxiliares dos laterais Fagner e Fábio Santos, na marcação. E Vagner Love, perdido, correndo sem rumo, tentando atrapalhar a saída de bola adversária. No final, a comemoração emocionada da equipe, os abraços. No banco, a vibração de Tite. A vitória por 1 a 0 na casa do adversário. "Mostramos que estamos no caminho certo. Vibramos, lutamos. O adversário era difícil. Não importa se jogamos bem ou mal. Valeu a vitória", disse Jadson, o emocionado autor do gol. Seria tudo fantástico, não fosse o detalhe que o Joinville é a pior equipe do Brasileiro de 2015. Lanterna, candidatíssima ao rebaixamento. Em seis partidas, marcou um gol e tomou nove. Perdeu cinco jogos e empatou um. Com a devida liberação do presidente Roberto de Andrade, Tite começou a disputar o Brasileiro do atual Corinthians. Clube que deve quatro meses de direito de imagem a todos os jogadores. Sem dinheiro para investimentos. E rezando para surgir propostas aos seus principais atletas. Tudo por conta do acordo amador feito para ter o Itaquerão.

Nestes seis meses que restam para terminar o ano, títulos da Copa do Brasil ou do Brasileiro não são levados em consideração. Nem por acidente. Pouco importam as ameaças das organizadas que se fizeram ouvir em Santa Catarina. "Ou joga por amor ou por terror." O que pode ser pior no futebol do que entrar em campo sem 60%, 70% do seu salário há quatro meses? O Barcelona dos Trópicos ficou para 2016, quando os dirigentes têm a certeza de que convencerão a Odebrecht a aceitar uma renegociação do contrato. Com um time humilde, desinteressante, sem sonhos, não há como encher o estádio. Muito menos garantir o combinado: o pagamento da obra em 12 anos. Essa é a pressão realista sobre a construtora. Roberto de Andrade já se reuniu com Tite e os jogadores. Explicou logo que daqui por diante seria assim, com o clube em dificuldades financeiras. Pediu que acreditassem no poder de reação, na força do Corinthians. E que tudo seria resolvido. Insistiu na paciência, na dedicação, na colaboração. Mas se eximiu da promessa de pagamento em dia. O clube já perdeu Guerrero. Sheik também não atuará mais com a camisa do clube e deverá atuar também no Flamengo. Elias está sendo pressionado para aceitar voltar à Gávea. Danilo não terá seu contrato renovado. Ralf, Gil e Felipe estão sendo oferecidos como se fossem oferta, oportunidade de redes de lojas populares, em dia de saldão. O destino de Gil deverá ser mesmo a Alemanha, o Wolfsburg. Isso se não surgir uma proposta melhor.

Diante de tudo isso, Roberto de Andrade estava feliz nesta manhã de domingo. Elogiou a amigos o comportamento do time ontem em Santa Catarina. Com muito dinheiro a receber, mas se desdobrando para garantir a importante vitória. O resultado que evitou que a crise aumentasse, depois das derrotas para Palmeiras e Grêmio. Mas nada de brilhantismo tático. As estratégias que aprendeu na Europa no ano sabático. Tite apelou para o que viveu no Guarani de Garibaldi, no Caxias, no Veranópolis, no Ipiranga, no Juventude. Com elencos humildes, sem dinheiro, desenvolveu a união, a parceria, a entrega dos jogadores. Defender, Tite é especialista. Pouco importa os conselhos que ouviu de Carlos Bianchi ou Carlo Ancelotti. Ele conseguiu destaque no futebol brasileiro com equipes fortes na pegada e rápida nos contragolpes. Há a certeza que o treinador não repetirá o que fez, por exemplo, contra o Danúbio. Nos últimos 15 minutos da goleada no Itaquerão, confessou ter ficado deslumbrado, "curtindo" o bom futebol corintiano como qualquer torcedor. Os números no Brasileiro são pífios. Em seis partidas, apenas quatro gols marcados. E cinco tomados.

Aquele dois de abril parece ter acontecido há dez anos. O clima é absolutamente outro no Parque São Jorge. Os jogadores, os dirigentes e o treinador só pensam sobrevivência. Nada de títulos, espetáculos. A missão é fazer o Corinthians não não ficar entre os últimos do Brasileiro. Seguir com uma campanha digna. Se bem que no elenco corintiano, os salários e direitos de imagem quando forem pagos, não serão motivo para preocupações, como acontecia nestas equipes pequenas gaúchas. Como para Cristian e Vagner Love que, mesmo reservas, acertaram receber R$ 500 mil a cada 30 dias. A folha salarial de R$ 10 milhões para R$ 6 milhões ou até R$ 5 milhões. "É uma situação emergencial. Vamos nos acertar", avisa o diretor financeiro Emerson Piovezan para os setoristas do Parque São Jorge. Conselheiros ligados a Andrés Sanchez, responsável pelo acordo com a Odebrecht, tentam preservar a imagem do deputado federal do PT. E lembram de Mario Gobbi. O ex-presidente além de contratar por sua conta Vagner Love e Cristian, também adiantou cotas importantes da Globo. Foram R$ 58 milhões que deveriam ser usados este ano. Mas pagaram contas em 2014. Piovezan circula desde março tentando empréstimos bancários. O clube queria R$ 30 milhões para ter tranquilidade até o final do ano. O máximo que conseguiu foi R$ 7 milhões. Pagos para evitar que o atraso em salários desse a brecha para jogadores usarem a lei para se livrar do Corinthians. Os dirigentes querem que Tite faça algo que ele detesta. Utilize jogadores da base. O técnico entende que a pressão é enorme. A falta de dinheiro, pressão por resultados e time enfraquecido já mexem com os nervos de atletas rodados. Ele acredita que o efeito desse coquetel pode travar atletas inexperientes. Por isso não se anima com os esperançosos campeões brasileiros sub-20 e campeões da Copa São Paulo. A missão que Tite assumiu é sobreviver no Brasileiro de 2015. Não iludir ninguém com títulos, vaga na Libertadores. Como se estivesse comandando o Vereanópolis, quer ter ao menos o grupo enfraquecido tecnicamente nas mãos. E trabalhar sonhando com 2016 bem diferente financeiramente. Por isso tanta vibração, comemoração, felicidade na vitória contra o lastimável lanterna do Brasileiro, o Joinville. Só quem está no Corinthians sabe a dimensão da crise financeira e tensão que o time enfrenta. Graças à incompetência de dirigentes. Eles deixaram o clube refém de um contrato devastador com o Itaquerão. E quem paga a conta é o time...





Fonte: Esportes R7
Autor: cosmermoli
Publicado em: 07 Jun 2015 11:31:32

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