terça-feira, 2 de junho de 2015

Boicote da Europa à Copa da Rússia. Ameaça dos patrocinadores. E medo de ser preso. Os motivos para que Blatter renunciasse à Fifa. O futebol começa a se livrar da corrupção, da propina...

Boicote da Europa à Copa da Rússia. Ameaça dos patrocinadores. E medo de ser preso. Os motivos para que Blatter renunciasse à Fifa. O futebol começa a se livrar da corrupção, da propina...




2 de junho de 2015. Dia histórico para o futebol mundial. A corrupção implodiu a Fifa. O quinto mandato do suíço Joseph Blatter durou três dias. Foi obrigado a renunciar. Ele não suportou a pressão das investigações do FBI e do Departamento de Justiça dos Estados Unidos. E nem da séria ameaça de boicote da Europa de não participar da Copa da Rússia, em 2018. Diante de tanta pressão, o hábil septuagenário teve de se render. Abandona o cargo hoje e convoca novas eleições. Não há data para ela acontecer. O suíço Domenico Scala, do Comitê de Auditoria da Fifa, será o responsável por essa transição. Blatter, sem poder de decisão, se manterá no cargo. O pleito deve acontecer entre dezembro e março. Platini aparece como o candidato mais forte. O príncipe jordaniano Ali Hussein, já se lançou candidato. "Tomei a decisão depois de uma ampla consideração de minha presidência, dos meus 40 anos de Fifa", disse o dirigente, deprimido. Estava claro que não tomava uma atitude que o agradasse. Blatter não poderia simplesmente renunciar e ir embora. Por que assim, o vice mais velho teria de assumir. O uruguaio ex-presidente Eugenio Figueredo está na cadeia, também acusado de corrupção. Por isso, a única saída é o suíço continuar até a nova eleição.

A primeira decisão de Scala parece fantasia. A entidade irá limitar o mandato dos presidentes e de toda a diretoria da Fifa. Acabaram as capitanias hereditárias. Quem chegava a presidente, se agarrava ao cargo como se fosse seu direito divino. A Fifa foi criada em 1904. Tem 111 anos. Quantos foram seus presidentes? Apenas oito. O que mostra como deve ser bom comandar a entidade. O francês Robert Guérin, ficou dois anos. O inglês Daniel Burley Woolfall, 12 anos; o francês Jules Rimet, 33 anos; o belga Rodolphe Seeldrayers, um ano; o inglês Arthur Drewry, seis anos; o inglês Stanley Rous, 13 anos; o brasileiro João Havelange, 24 anos; Blatter, já tinha 15 anos e três dias. A reeleição era ilimitada. O vergonhoso exemplo era copiado pelas Confederações e federações do mundo todo. Agora isso acabou. A medida era algo mais do que obrigatório. Blatter não teve saída. A possibilidade de um torneio paralelo em 2018 foi o golpe fatal. Michel Platini já tinha tudo articulado. Realizaria a competição exatamente nas datas do Mundial. Com as melhores seleções da Europa e os principais países sul-americanos. Seria a verdadeira Copa. Desmoralizaria a competição na Rússia. Seria um caos econômico para o torneio. Os bilionários patrocinadores da Fifa virariam as costas para a competição. Vários deles já estavam dispostos a irem embora, depois dos escândalos. Só a renúncia de Blatter deverá travar esse abandono da Nike, Visa, Coca-Cola, Adidas, McDonald"s e Hyundai Motor. Suas assessorias de imprensa inclusive já haviam divulgado nota mostrando a preocupação. Isso externamente. Internamente, os dirigentes da Fifa estavam sendo massacrados pelos representantes dos patrocinadores.

Todos sabiam que a figura de Blatter precisava ser exterminada. Os Estados Unidos destruíram também a possibilidade do francês Jérôme Valcke. Ele foi desmoralizado pela acusação de haver dado 10 milhões de dólares, cerca de R$ 32 milhões, para Jack Warner, vice-presidente da Fifa e presidente da Concacaf. Esse dinheiro teria sido puro e simples suborno para não só votasse, como trabalhasse pela candidatura da África do Sul para o Mundial de 2010. O secretário-geral e braço direito Valcke era o candidato natural à sucessão. A desgraça de Blatter e Jérôme tem a ver com o processo de escolha dos Mundiais de 2014 e 2022. A imprensa e o governo ingleses não se conformaram com a perda para o Brasil. E começaram a investigar o processo de escolha. E chegou à conclusão que houve corrupção, propina na escolha do país de Lula. Por trás, o interesse de Blatter em ter o controle absoluto do Mundial. O que realmente acabou tendo. A Fifa fez aqui sua Copa mais rentável: R$ 4 bilhões livres de impostos. Tudo pioraria ainda quando, em 2011, os Estados Unidos, perderam a Copa de 2022 para o Catar. Obama estava disposto a difundir ainda mais o futebol no país que comanda. Foi informado que a corrupção e propinas dominavam a escolha dos países-sedes. Foi aí que entraram o FBI e o Departamento de Justiça. Foram três anos de investigação. Muitos dados foram cruzados até que não restassem dúvidas. E foi decretada a prisão de oito membros da alta cúpula da Fifa. Sete no território suíço, entre eles o ex-presidente José Maria Marin. O FBI só esperou que estivessem reunidos no luxuoso hotel Baur au Lac, R$ 12 mil a diária. Eles estão presos em celas individuais e os Estados Unidos querem suas extradições. O ex-presidente da Conmebol, o paraguaio Nicólas Leoz, está com sua prisão domiciliar decretada em Assunção. Os Estados Unidos também querem sua extradição. Nada foi por acaso, como percebeu Blatter. Os Estados Unidos fizeram questão de prender esses membros-chave da Fifa a apenas dois dias da eleição. A intenção foi deixar o clima insustentável para Blatter. Foi onde Michel Platini percebeu que era hora para agir. Ele estava articulando o boicote à Copa de 2018 há muito tempo. Tinha o apoio dos principais países europeus. Um dia antes da reeleição para o quinto mandato de Blatter, o francês agiu. "Na quinta-feira tive uma conversa pessoal com Platini no meu escritório. Ele me disse "vamos tomar um uísque entre amigos", eu respondi "Não, nada de uísque, mas eu te ouvirei". Então ele me disse sério "Sepp, faça o Congresso e ao final anuncie sua demissão. Lhe daremos uma grande festa e você poderá conservar o seu lugar aqui", a revelação foi feita por Blatter. O suíço negou. Mas sabia que seu império estava ruindo. A pressão do FBI e do Departamento de Justiça dos Estados Unidos ameaçavam agora investigar os contratos com os patrocinadores, as empresas que bancam a Fifa. Esse fato mais o boicote à Rússia eram demais.

Vivido, Blatter viu quando o New York Times tinha em manchete ontem a acusação de suborno de Valcke, tudo estava perdido. Não haveria a mínima condição de seguir comandando a Fifa. Ele tem 79 anos. Se mostra cansado, tenso, deprimido. Jornalistas europeus e norte-americanos já especulam que a renúncia teria sido uma troca de Blatter. Um acordo para que as investigações cessem. E que ele e Valcke possam escapar da cadeia. O seu secretário-geral era intocável até ontem. O importante é que aconteceu o inesperado. A corrupção, a propina pareciam que dominariam a Fifa eternamente. Afinal, garantiram presidentes por décadas mandando mais do chefes de Nação. Com acesso a bilhões de dólares, euros, reais, sem transparência alguma na prestação de contas. A corrupção na escolha dos países-sedes de Copa do Mundo foi o Waterloo de Blatter. Mexeu com a Inglaterra e os Estados Unidos. E agora teve de renunciar para não ser deposto ou preso. "A Fifa escolheu África do Sul, Brasil, Rússia e Catar porque possuem governos fracos, submissos, cheios de corruptos. E imprensa fraca, sem representatividade internacional." A análise é do jornalista britânico Andrew Jennings. Blatter levou suas bilionárias Copas para onde queria. Mas sua ambição desmedida e o incentivo à corrupção, à propina custaram sua cabeça...

(A vibração de Romário. O ex-jogador e senador foi enfático diante do pedido de demissão de Blatter. "A melhor notícia dos últimos tempos! A renúncia de Joseph Blatter ao cargo de presidente da Fifa representa o início de uma nova era para o futebol mundial. Todos os gestores corruptos das confederações, mundo afora, sentirão sua queda como um tsunami. Espero, agora, que as águas desta grande onda sejam suficientes para varrer toda a corrupção liderada pela entidade maior do futebol..."



Fonte: Esportes R7
Autor: cosmermoli
Publicado em: 02 Jun 2015 15:10:32

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