quarta-feira, 3 de junho de 2015

Para desviar o foco do desmanche, que sabotou o Cruzeiro, Gilvan faz o óbvio. Demite Marcelo Oliveira e contrata o ilusionista Vanderlei Luxemburgo. Pobre futebol brasileiro...

Para desviar o foco do desmanche, que sabotou o Cruzeiro, Gilvan faz o óbvio. Demite Marcelo Oliveira e contrata o ilusionista Vanderlei Luxemburgo. Pobre futebol brasileiro...




A diretoria do Cruzeiro havia feito trabalho excelente. Digno de orgulhar quem acompanha futebol. Resumindo de forma rasteira: pegou o dinheiro das vendas de Montillo e de Diego Souza, investiu pouco, o que pôde. Marcelo Oliveira e Alexandre Mattos fizeram um trabalho de garimpagem excelente. Contrataram jogadores com potencial desprezado, tiveram paciência e Marcelo Oliveira soube dar liga. Montou o melhor time dos últimos anos neste território nacional. Não ganhou dois Campeonatos Brasileiros seguidos à toa. Feito inédito. Não só para o clube celeste, mas para o futebol mineiro. Gilvan Tavares foi o responsável por bancar Marcelo Oliveira, de passado atleticano. Os dois enfrentaram ameaças de morte de vândalos das torcidas organizadas do Cruzeiro. Tiveram rara coragem. E apesar do medo de seus familiares, seguiram em frente. Tiveram o prazer depois de serem aplaudidos, beijados, reverenciados pelos mesmos criminosos que prometiam matá-los. A crise chegou para todos neste país. O clube não ficou de fora. Os títulos e as convocações para a Seleção Brasileira despertaram a atenção de empresários e de clubes do Exterior. Pelo planejamento traçado por Marcelo Oliveira e Alexandre Mattos, 2015 seria o ano da melhor colheita. Com o time entrosado, experiente, vivido, e com as cicatrizes da eliminação da Libertadores de 2014 no peito. Seria a hora de fazer história. Lutar de verdade pelo título continental. Só que Gilvan, sucessor do comerciante Zezé Perrella, tinha outros planos. Já estava amargurado pela derrota nas urnas. A torcida virou as costas à sua pretensão em ser deputado estadual pelo Partido Verde. Teve apenas 34 mil votos. A derrota ganhou o apelido de ingratidão.

Foi quando chegaram as propostas. E o desmanche aconteceu. Sem piedade. Everton Ribeiro (Al-Ahli), Lucas Silva (Real Madrid), Ricardo Goulart (Guangzhou Evergrande), Samudio (Libertad), Egídio (Dnipro), Nílton (Internacional), Marlone (Fluminense), o artilheiro Marcelo Moreno voltou para o Grêmio. Sem dó. Gilvan não enfrentou empresários e jogadores que desejavam sair. Bastasse dar um aumento até o final da Libertadores. Vender e só entregar em agosto. Fazer alguma coisa. Justificar estar na presidência de um clube tão poderoso. Ser fiel ao plano traçado por Alexandre Mattos. Respeitar o trabalho vitorioso, excelente de Marcelo Oliveira. Brigar para que Everton Ribeiro, Ricardo Goulart e Lucas Silva pelo menos ficassem até agosto. Sim, ter coragem, firmeza e enfrentar até o Real Madrid. Ou o Cruzeiro não é um clube que orgulha o Brasil? Não há motivo para ficar de joelho diante dos bilionários espanhóis. Mas não. A diretoria os deixou sair para "fazer caixa", "aproveitar a oportunidade". A velha desculpa de "quando o jogador quer sair não há como segurar". A cantilena convenceu os torcedores. E expôs Marcelo Oliveira. Ele tinha de montar uma equipe vencedora em plena disputa da Libertadores. A pressão foi enorme, muito maior do que em 2013. A eliminação constrangedora diante do River Plate em pleno Mineirão e o péssimo início do Brasileiro teria de pesar em alguém. A imprensa, os companheiros de diretoria e os torcedores/eleitores ingratos já estavam murmurando. A anestesia, a fantasia que tudo seria igual a 2013 havia acabado. Todos começavam a questionar Gilvan e o desmanche. A melhor saída: desviar o foco. Mostrar a porta da rua para Marcelo Oliveira. E contratar o campeão nacional das desilusões. O acumulador de demissões: Vanderlei Luxemburgo.

Esperto, Gilvan sabe. O técnico não consegue nada de significativo desde 2006. São nove anos colecionando fracassos. Seguindo o mesmo enredo. Sua festa particular do ridículo. Chega como se fosse o mesmo homem do final dos anos 90, quando era o melhor técnico do Brasil. Quando não se preocupava em montar site para vender vinho, implante de cabelo, montar instituto para "revolucionar" o futebol no país, posar de manager, viajar ao Exterior só para jogar pôquer. Nada disso. Ele era um trabalhador muito dedicado aos treinos, observação dos adversários, interessado pelas novidades táticas europeias. Disciplinador. Adorava ter o elenco nas mãos. Mas depois se acomodou. Criou um personagem. E passou a viver do passado vencedor. Nunca pensou que seria milionário. Não teve estrutura psicológica para ser o grande técnico que se tornou. Amigos interesseiros foram a sua ruína. Sua entourage apenas fez questão de tratá-lo como um enviado dos céus. Não teve coragem de mostrar os erros, a necessidade de renovação.

Se preocupou em fazer alianças com poderosos. Dar beijinhos públicos em jornalistas, políticos, dirigentes. Seus projetos viraram motivos de piada. Nos últimos anos, a história é sempre a mesma: alvoroço na chegada, promessa que fará um trabalho vitorioso novamente, cobrança pública nos maiores ídolos do clube, vitórias inúteis e enganosas no começo. Mas depois, vem a acomodação precoce. O afrouxamento. Vem o ego o empurrando para tomar decisões restritas aos dirigentes. Jogadores percebem a falta de foco, a impaciência. Chegam as derrotas. A raiva pelo questionamento. A briga com quem comanda o futebol. A demissão. A saída pela porta dos fundos. A coletiva magoada longe do clube. E, lógico, a cobrança da multa por mais uma vez ser enxotado. Desde 1980, Luxemburgo fez 36 trocas de clubes ou seleções. Virou um nômade com a tatuagem da decepção na testa. A sua volta ao Cruzeiro é um truque claro dos dirigentes. Eles querem passar a sensação que estão resgatando o treinador da Tríplice Coroa de 2003. Quando venceu o Mineiro, o Brasileiro e a Copa do Brasil. Libertadores? Não. Ele nunca conseguiu esse título. Nem chegou sequer à final, em 35 anos de carreira. Só que Vanderlei da Silva Luxemburgo é um homem muito mudado de 12 anos atrás. Está mais milionário. Menos participativo, vibrante. Está cansado. Inseguro. Vitaminas garantem a reposição hormonal. Não parece ter 63 anos, ser avô. Envelheceu na alma.

Seu discurso emocionado, sua convocação aos torcedores, à imprensa mineira já estão decorados. Fez o mesmo no Atlético, no Grêmio. É fácil. Todos contra o "eixo do Mal", São Paulo e Rio de Janeiro. A promessa de renascimento. Como fez no Fluminense, no Flamengo. Fará o que Gilvan precisa neste momento. Tirar o foco do fracasso, da sabotagem do trabalho de Marcelo Oliveira. Poucos param para lembrar que a estrela maior na Tríplice Coroa não foi Vanderlei, mas um tal de Alex. As capas e manchetes do ótimos jornais mineiros estamparão Luxemburgo com sua melhor expressão. As veias saltadas na testa, enquanto promete, jura, avisa, o projeto vai dar certo. Dirá da felicidade de estar "de volta" à sua casa. De onde nunca deveria ter saído. Só vai esquecer que foi expulso da Toca da Raposa por Zezé Perrella. Como seria despejado de sete clubes desde 2004. Duas vezes do clube que realmente ama, o Flamengo. Em 2010, foi mais cruzeirense do que nunca, encaminhou como pôde o Atlético Mineiro ao rebaixamento. Mas titubeou. Mas ao ouvir a torcida celeste gritando seu nome depois de uma derrota para o Cruzeiro por 3 a 1, o treinador retribuiu. E mostrou o quanto o coração está ligado à Tríplice Coroa. Deu uma inesquecível "banana" aos cruzeirenses. Esse é Vanderlei da Silva Luxemburgo, o ilusionista. Exatamente o homem com o perfil que Gilvan Tavares precisava. E assim caminha o futebol brasileiro. Com seus tristes personagens...




Fonte: Esportes R7
Autor: cosmermoli
Publicado em: 03 Jun 2015 09:38:15

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