quarta-feira, 24 de junho de 2015

Há um ano, Felipão virou as costas para Roberto Firmino. Ficou com Fred, Jô e Kardec. O Liverpool comprou o 'rejeitado' por R$ 141 milhões. Aos poucos, o 7 a 1 está sendo explicado...

Há um ano, Felipão virou as costas para Roberto Firmino. Ficou com Fred, Jô e Kardec. O Liverpool comprou o 'rejeitado' por R$ 141 milhões. Aos poucos, o 7 a 1 está sendo explicado...




"Precisamos ver o Roberto Firmino. Ele está jogando muito na Alemanha. Pode ser uma boa opção para o ataque. Ele é jovem, habilidoso, rápido, artilheiro. Faz um sucesso danado no Hoffenheim." Assim, entusiasmado, Carlos Alberto Parreira falava aos jornalistas sobre o atacante brasileiro. A Seleção vivia a felicidade do brilho falso da Copa das Confederações. O então coordenador sempre foi apaixonado pelo futebol germânico. E muito atento às novidades europeias. Tática e também as revelações brasileiras. Parreira mostrou vídeos de Firmino a um desconfiado Felipão. Ele estava muito satisfeito com Fred e Jô. Nem passava pela sua cabeça chamar para a Copa um jogador que nunca havia atuado pela Seleção. Ainda mais com 22 anos, que nunca havia atuado pela Seleção Brasileira. Não deu chances nos amistosos, quando a fórmula de pebolim 4-2-3-1 já não era tão eficiente. Parreira insistia que era necessário pensar em outros jogadores. Atletas capazes de mudar esse esquema se fosse necessário durante o Mundial de 2014. Mas Felipão estava resistente. Acreditava ter encontrado a fórmula mágica que garantiria o hexa. E além disso, era fiel ao grupo campeão da Copa das Confederações. O que havia humilhado o maior adversário, a Espanha, por 3 a 0. Ele não enxergava a decadência do time ibérico. Nem sonhava com a força alemã. Mas Parreira pressionava. Os relatórios sobre Firmino eram cada vez melhores. Até que Felipão em uma de suas visitas à Europa finalmente resolveu ir ver o garoto na Alemanha. Já era 10 de abril de 2014. Ele acompanhou o treinamento do Hoffenheim e depois conversou longamente com Firmino.

Encontrou um garoto completamente tímido, travado com a deferência. O treinador da Seleção havia ido até o seu clube só para vê-lo. Felipão se deixou levar pela péssima impressão. Ele já não queria apostar na inexperiência de Firmino na Seleção. A previsível falta de convicção do jovem alagoano foi o que Scolari precisava para se convencer. Virou as costas sem medo. Na lista dos atacantes brasileiros, Fred e Jô. E entre os sete reservas, que poderiam ser chamados se um deles se machucasse ou não rendesse o que Scolari esperava nos treinos, estava Alan Kardec. Para agonia de Parreira. Ele não quis entrar em atrito. Respeitou a hierarquia. Mas desejava Firmino. Pelo menos entre os 30. Nem isso conseguiu.

A imprensa alemã recebeu com imensa decepção a lista de Felipão. O desprezo a Firmino foi inexplicável. Jogador rápido, inteligente, habilidoso e artilheiro. Com grande movimentação. Não só na área, mas no ataque. Capaz de abrir defesas. O menino que começou no CRB, passou pelo Figueirense, teve seu potencial desenvolvido no máximo por lá. Parreira e Gallo também sabiam. Mas veio a Copa do Mundo. Fred foi um desastre. Fez de tudo. Brigou, xingou, se irritou. Deixou crescer bigode. Só não percebeu que seu estilo, fixo, parado na área, não combinava com o futebol moderno. Pelo menos há dez anos. Marcou um só gol, contra a pobre seleção camaronesa. Jô nem isso. Sua movimentação conseguia ser pior. O reserva, nos treinamentos, lembrava Fantomas. Quem tem mais de 40 anos lembra do lutador...

Veio a humilhação dos 7 a 1 da Alemanha. O 3 a 0 da Holanda. Felipão e Parreira demitidos. Dunga não cometeu o mesmo desperdício. Sabia que Roberto Firmino não poderia ser deixado de lado. E em outubro do ano passado, o convocou para os amistosos de Turquia e Áustria. Teve a sapiência de não se deixar impressionar pela timidez fora do campo. O que importava era sua capacidade dentro do gramado. Sua movimentação, visão de jogo, convicção na hora dos arremates. Mesmo perdendo gols. Como o incrível que desperdiçou contra a Colômbia. Vale destacar seu posicionamento na área. Ele ainda tem defeitos, lógico. Como desenvolver o cabeceio. A pressa em definir alguns lances. Mas é inegável seu enorme potencial. É um dos melhores meias-atacantes brasileiros. Pode muito bem não ser o jogador mais adiantado em qualquer esquema. Se adapta em qualquer lado da intermediária ofensiva. Filho de uma família humilde, cresceu em Maceió. Em uma vila muito pobre, no conjunto habitacional Virgem dos Pobres, próximo à Lagoa Mundaú. A principal atividade dos moradores é vender sururu, um molusco semelhante à ostra. O local é muito perigoso, dominado por facções criminosas e pelo tráfico. Seu tio Marcinho, ex-jogador do CRB, o levou para testes. E o talento mudou a vida do menino tímido.

Um dentista, Marcellus Portella, foi avisado do talento do garoto. E resolveu empresariá-lo. O levou para testes no São Paulo. Firmino, intimidado, não conseguiu se firmar. Mas sua sorte mudaria. Jurou a Marcellus que não seria recusado mais em lugar algum. Mais seguro, passou na peneira do Figueirense. Marcando, no primeiro treino, dois gols de bicicleta. Foi destaque na Copa São Paulo. Mas se firmou em Santa Catarina, foi campeão estadual, artilheiro. Acabou como destaque do time na Série B de 2010. A torcida só o criticava pelo preciosismo, excesso de dribles em jogadas fáceis. Mas foi justamente esse talento que convenceu os alemães a investirem R$ 10 milhões no jovem de 19 anos. Só que para alçar vôos maiores, já tinha um empresário de verdade. Eduardo Uram, senhor de mais de 120 almas, logo se apossou de mais uma em 2009. E seus contatos na Europa foram fundamentais para a transferência ao Hoffenheim. A adaptação passou por punições só por atrasos. Ao perceber que poderia estar jogando sua grande sorte fora, Firmino se conscientizou. Desde então seu desempenho tem sido excelente. Desde 2011, fez 151 jogos pela Bundesliga e Copa da Alemanha. Marcou 47 gols. E deu 21 assistências. Marcas fabulosas para o modesto time. Não é por acaso que foi cobiçado por gigantes europeus. Atlético de Madrid, Manchester United, Bayern, PSG. Houve um leilão milionário. E ele acabou hoje.
O Liverpool resolveu bancar nada menos do que 29 milhões de libras, cerca de R$ 141 milhões. É a segunda contratação mais cara da história do tradicional clube britânico. Só perde para Andy Caroll, atacante inglês, que custou 35 milhões de libras, cerca de R$ 170 milhões. E foi enorme decepção, marcando apenas seis gols em duas temporadas. Foi repassado ao West Ham, com 20 milhões de libras de prejuízo. Mas a direção do Liverpool tem a certeza que se livrará do trauma com o brasileiro. Houve uma enorme festa na diretoria do clube ao vencer a disputa com o rival Manchester United. A disputa foi libra a libra. Por tudo isso é incrível quando se analisa o que aconteceu na Copa do Mundo do ano passado. Não que Roberto Firmino fizesse o Brasil ser campeão sozinho. Mas como é que se despreza um atacante que está jogando tão bem por três temporadas na Alemanha? A falta de visão, de intercâmbio, de vontade de buscar novos conhecimentos dos principais treinadores brasileiros, como Luiz Felipe Scolari, são assustadores. Cada vez mais fica claro o motivo de o Brasil apenas exportar pés e não cérebros. Os grandes clubes europeus precisam do talento dos nossos jogadores. Mas dispensam, com razão, o obscurantismo, o atraso dos nossos técnicos...




Fonte: Esportes R7
Autor: cosmermoli
Publicado em: 24 Jun 2015 10:52:34

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