quarta-feira, 10 de junho de 2015

E se, após a conquista da Champions, Neymar colocasse uma faixa com os dizeres "100% Maomé?" Revelasse que o seu sucesso se deve ao Alcorão? E que passaria a se chamar Mohamed?

E se, após a conquista da Champions, Neymar colocasse uma faixa com os dizeres "100% Maomé?" Revelasse que o seu sucesso se deve ao Alcorão? E que passaria a se chamar Mohamed?




Barcelona campeão da Champions League de 2015. Não dá chance para a Juventus em Berlim. Neymar marca o terceiro gol dos catalães, nos descontos, o que confirma o título. Vitória catalã por 3 a 1. É a senha para o início a uma festa apoteótica. O árbitro turco Cüneyt Çakir não quis nem reiniciar a decisão. Os espanhóis confirmam a conquista da Tríplice Coroa: já haviam acumulado o Campeonato Espanhol e a Copa do Rei. As câmeras se fixam em Neymar. Aos 23 anos, o brasileiro alcançou Messi e Cristiano Ronaldo, terminou a Champions como artilheiro também, com dez gols. Sabendo que seria um dos protagonistas da festa, ele coloca na testa uma faixa branca com a frase "100% Jesus". Virou o assunto mais comentado no twitter do mundo, no sábado. Foi massacrado. O planeta vive um triste período de intolerância religiosa. O Estado Islâmico é o maior exemplo. Suas execuções sangrentas, cruéis, descabidas, o massacre na redação da revista Charlie Hedbo. São apenas a ponta do iceberg. Na África, o conflito entre muçulmanos e cristãos provoca massacres. Muitos não merecem sequer a atenção da grande imprensa. A faixa de Gaza e seus bombardeios constantes entre israelenses e palestinos. A simples faixa de Neymar provocou grande constrangimento na direção do Barcelona. Desde 2013, o clube é patrocinado pela Qatar Airways. A empresa pagou 171 milhões de euros, cerca de R$ 593 milhões, para estar estampada na camisa do clube catalão por cinco anos. O Catar é um país com maioria da população muçulmana. O gesto do brasileiro não foi aceito. Nem será repetido. No desfile que o time fez em carro aberto, comemorando a conquista, a faixa 100% Jesus já não estava mais na cabeça do jovem atacante. Pelo contrário. Ele estava usando um boné. Nas tevês, rádios e editoriais de jornais espanhóis, a censura ao gesto de Neymar. Sua vida pessoal foi exposta e questionada. Lembraram que ele é evangélico. Frequenta a igreja Batista Peniel, em São Vicente desde a infância. Doa parte do salário como dízimo até hoje. E que, desde criança, usa a faixa "100% Jesus" para comemorar títulos. Como no Campeonato Paulista pelo Santos. Ou ainda menino, no futebol de salão da Portuguesa Santista, com 12 anos.

Recordaram que ele tem na pele marcada em tatuagens sua devoção. Uma cruz na mão direita, a palavra "blessed" que significa "abençoado" na nuca e, pouco antes de começar a Copa de 2014, tatuou "Fé" no braço esquerdo. Também foi lembrada a declaração que deu em 2013. A revelação que estava entre o Barcelona e o Real Madrid. E que "conversou com Deus". Foi aconselhado a escolher a Catalunha. "Conversei com a família e me voltei para o meu coração, que escolheu esse lugar (Barcelona). Conversei muito com Deus também. Nas minhas orações, pedi para que me ajudasse a escolher o caminho certo." Depois de todas essas lembranças, começaram os questionamentos. Misturando religião, vida pessoal e sua transferência do Santos para o Barcelona. A começar pelo próprio filho Davi Lucca, que veio ao mundo sem ter o jogador ser casado. Suas saídas pela noite, seu namoro com Bruna Marquezine, foram considerados "promiscuidade" e "que nada tem a ver com a obsessão com a igreja evangélica que prega a virgindade e a monogamia", como escreveu o espanhol German Aranda no jornal El Mundo. Em parte do texto, Aranda lembra que gostaria de questionar Neymar sobre as relações homoafetivas, em um país como o Brasil, onde centenas de gays são mortos todos os anos pela homofobia.

Na tevê e rádios, jornalistas ironizaram como alguém tão religioso está envolvido em uma transação obscura. Sua venda do Santos para o Barcelona é um escândalo que não só derrubou o presidente Sandro Rosell. Mas pode colocar o ex-dirigente na cadeia, ao lado do seu sucessor Josep Bartomeu. O próprio clube catalão também é réu no processo de sonegação. A previsão é que a promotoria peça sete anos de cadeia para Rosell e dois para Bartomeu. Além de multa. Até agora a acusação de sonegação chega a cerca de R$ 44 milhões desta transferência. O Santos entrou com um processo na Corte Arbitral da Fifa contra o Barcelona, Neymar e seu pai. A acusação: a negociação envolveu mais dinheiro. E ele não chegou à Vila Belmiro. Além disso, o fato do pai de Neymar ter recebido 10 milhões de euros, cerca de R$ 34 milhões, como sinal dos catalães. Ainda em 2011, dias antes da final do Mundial de Clubes no Japão. Decisão que reuniu Santos e o próprio Barcelona. O jogador foi muito questionado se havia qualquer ligação com o clube da Catalunha. Ele sempre negou. Irônicos, jornalistas de Madrid lembraram esta semana que, religioso, Neymar não poderia mentir. O seu pai deveria ter omitido do próprio filho o depósito de R$ 34 milhões do Barcelona. Por dois anos... A direção do Barcelona não comprou briga direta com sua estrela. Mas a partir do que aconteceu na Champions, as manifestações religiosas estão proibidas com a camisa do clube. Fora do ambiente de competição, ele pode fazer o que quiser. Desde que respeitando a conduta discreta recomendado aos jogadores da Catalunha.

Ricardo Teixeira já havia proibido os cultos na concentração da Seleção Brasileira. Ele acreditava que houve exagero na Copa da África. A determinação valeu para José Maria Marin e agora permanece com Marco Polo del Nero. A Fifa decidiu proibir manifestações religiosas nos Mundiais. A gota d"água foi toda a Seleção de Scolari rezar de joelhos após a conquista da Copa de 2002 no Japão. Foi feita uma roda. E no meio dela, um câmera da Fifa mostrando a oração para o mundo todo. Nem Neymar se atreveu a confrontar a entidade. Quando o Brasil venceu a Copa das Confederações em 2013, nada de faixa "100% Jesus" na testa do principal jogador brasileiro. Também graças a um brasileiro, a Uefa também passou a agir. Em 2007, após a conquista do Milan diante do Liverpool, Kaká mostrou a camiseta branca com os dizeres "I belong to Jesus" para as câmeras de televisão. A empresa de apostas esportivas Bwin, patrocinadora na época do time italiano, ficou revoltada. Na época, Kaká era a grande estrela e, em vez de mostrar a camisa com o logotipo da empresa, divulgava sua religião. A partir daí, as manifestações passaram a ser proibidas. Foram oito anos sem polêmicas Até sábado em Berlim, com Neymar e sua faixa. Depois da conquista da Champions, Neymar entendeu. A pessoa é livre para manifestar sua fé onde quiser. É louvável que assim seja. Mas não há como menosprezar fingir que não exista a intolerância, o incômodo de outros religiosos fervorosos.

Talvez só imaginando. Se, em Berlim, Neymar tivesse colocado na testa uma faixa com os dizeres "100% Maomé". Pregasse que o Alcorão é o seu segredo de seu sucesso na vida. E avisasse ao mundo que passaria a adotar um nome muçulmano. Sua religiosidade seria questionada no Brasil, país de esmagadora maioria cristã? Seria considerado fanático? Editoriais comparariam seu comportamento fora dos gramados. As baladas, a transação entre Santos e Barcelona, lembrariam do filho fora do casamento. Tudo seria analisado sob os rígidos preceitos muçulmanos. Seria justo? Por que o jogador não coloca a faixa quando seu time fracassa? Ele continua sendo religioso também nas derrotas. Ou não? O exagero veio à tona na capa da Placar, mostrando Neymar crucificado. Religião e futebol não devem se misturar no gramado. Essa combinação só estimula a intolerância...




Fonte: Esportes R7
Autor: cosmermoli
Publicado em: 10 Jun 2015 12:31:28

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