quarta-feira, 17 de junho de 2015

Paulo Victor, com a perna quebrada, transportado em um carrinho de pedreiro, no CT do Flamengo. E se ele tivesse um infarto? CBF, Sindicato e Bom Senso unidos. Na omissão. Este é o país do atraso...

Paulo Victor, com a perna quebrada, transportado em um carrinho de pedreiro, no CT do Flamengo. E se ele tivesse um infarto? CBF, Sindicato e Bom Senso unidos. Na omissão. Este é o país do atraso...




A foto é chocante. E ganhou o mundo pela Internet. O goleiro titular do clube mais popular do Brasil com a perna quebrada. Sendo transportado no CT em um carrinho de mão, usado por pedreiros para transportar tijolos, entulho, lixo... Foi assim que Paulo Victor, com a perna quebrada, deixou o Ninho do Urubu. Exposto no carrinho de mão, que chacoalhava na lama e buracos no apertado acesso do campo até o estacionamento. Só haverá asfalto neste trecho, na melhor das hipóteses, no final do ano. A contusão do goleiro foi causada pelo péssimo estado do gramado do Ninho do Urubu. Cheio de falhas, desnível, tipos de gramas diferentes e buracos. Muitos buracos. Paulo Victor saiu de carrinho para evitar um gol de Thallyson. Seu pé direito se enroscou em um buraco no gramado. E recebeu o impacto do chute fortíssimo do atacante. O tornozelo preso foi um alvo perfeito para a bola em alta velocidade. O buraco serviu como alavanca. A fíbula, antigamente conhecida como perôneo, sofreu uma fratura com a pancada. Já caiu gemendo, gritando. Saiu do campo carregado já de forma constrangedora. Carregado nos ombros dos roupeiros. Com a perna quebrada, que deveria estar imobilizada, balançando. Inacreditável. Diante da pancada, o departamento médico ainda comemora. Tudo poderia ser muito pior para Paulo Victor. Fossem os sindicatos dos jogadores atuantes, dirigentes da CBF se preocupassem de verdade com o futebol e a Federação Carioca não fizesse apenas política, o Ninho do Urubu seria interditado. Não é possível que jogadores fiquem expostos, treinando, em um CT desse vergonhoso nível. Ainda mais no clube com mais torcedores deste país.

A diretoria do Flamengo faz um trabalho brilhante. Luta contra décadas de irresponsabilidade, incompetência e corrupção de diretorias passadas. Quando Eduardo Bandeira de Mello assumiu, o clube era o maior devedor do país, R$ 750 milhões. Com uma política de contensão de gastos e transparência, conseguiu diminuí-la em R$ 200 milhões. Ou seja, o débito é de R$ 570 milhões. Atitude elogiável. Mas há ajustes urgentes a fazer. Graças à sua popularidade, o Flamengo foi o clube brasileiro em 2014 que mais teve receitas. Patrocinadores, arrecadação, televisão, sócio-torcedores e várias outras fontes de rendas menores conseguiram movimentar R$ 347 milhões. A prioridade de Bandeira de Mello é diminuir ao máximo as dívidas. Sonha com um segundo mandato onde elas possam talvez chegar a R$ 200 milhões. O que seria um feito fantástico. O clube se tornaria muito mais administrável. Se por acaso CBF e governo chegarem a um acordo em relação ao refinanciamento com a Receita Federal e impostos, não é delírio pensar em zerar os débitos. A atual administração deu um exemplo fabuloso neste país mergulhado em corrupção. O conselho fez uma profunda reforma nos seus estatutos. O principal ponto aprovado: um presidente ou vice-presidente eleito que, sistematicamente e de forma deliberada, sonegar impostos ou praticar apropriação indébita poderá ficar inelegível por cinco a 15 anos. E mais: responder com bens particulares, mesmo após o término dos mandatos, se comprovado que houve prejuízo ao patrimônio e à imagem do Flamengo.

Os orçamentos anuais passaram a ter limitações de despesas. Principalmente com o futebol. Os balanços serão os mais transparentes. E trimestrais. Além de colocar rédeas nos dirigentes irresponsáveis, o caminho da corrupção se tornou dificílimo. Toda essa modernidade, responsabilidade e honestidade sofrem um golpe desmoralizante com o Ninho do Urubu. A história do CT é vergonhosa. O terreno foi comprado há 31 anos, em 1984, quando Zico foi vendido para a Udinese. O então presidente do Flamengo, George Helal pagou 300 milhões de cruzeiros ao Aviário Soaves. A áreas, enorme. Terreno de 1.600 metros quadrados em Vargem Grande, Jacarepaguá. O sonho de Helal era construir seis campos, com alojamento, refeitório, centro de fisioterapia e até escola para 200 garotos. Além do time profissional. Mas desde 1984, as administrações empurraram com a barriga o sonho do mais moderno CT do Brasil. Maquetes e mais maquetes foram mostradas para jornalistas e conselheiros. O time principal treinava na Gávea mesmo e os garotos onde fosse possível. O Ninho do Urubu não foi só esquecido. Quase acabou trocado pelas instalações do CFZ, clube que pertencia a Zico e ficava no Recreio dos Bandeirantes. Até a ISL, falida empresa de marketing, envolvida em diversos casos de corrupção na Fifa, já esteve à frente do Ninho do Urubu. A área foi aterrada. Era cortada por dois rios. Na época de grandes chuvas, elas inundavam os campos que os dirigentes começaram a construir na década de 80. O ex-presidente Kleber Leite, dono da investigada Klefer, levou o time profissional para um centro de treinamentos na Barra da Tijuca, em 1997. Por falta de pagamento, o clube é despejado em 2000. O time passa a treinar no CFZ de Zico. Nem se lembra do abandonado Ninho do Urubu. Depois vai para a Gávea.

Quem fez o maior estardalhaço e realmente começou a forçar os dirigentes a construir o CT foi Vanderlei Luxemburgo em 2010. Ele tem o sonho de ser o presidente do Flamengo. E viu o estúpido desperdício da área parada. Mas as obras no CT rubro negro sempre foram lentas, desinteressadas. Além disso havia problemas que inimagináveis em 1984. Como os ambientais. O Flamengo teve de conseguir 39 licenças para começar a trabalhar de verdade no seu centro de treinamento. Além disso, os dirigentes usaram o terreno como garantia de uma ação do Banco Central. Ele assegura que a verba dos patrocinadores não fique retida para pagar dívidas. Tudo sempre foi provisório. As obras foram retomadas há dois anos, graças ao dinheiro de patrocinadores. Mesmo assim, tudo é lento, amador. Chuvas e ventanias já derrubaram árvores. Elas caíram sobre os campos e derrubaram instalações elétricas. Absurdo.

Já passou da hora de Eduardo Bandeira de Mello investir de verdade no Ninho do Urubu. É vergonhoso para o Flamengo ter um CT tão tosco. Expor seus jogadores a contusões em campos irregulares, transportados em carrinhos de pedreiro. O irônico é que a Gatorade chegou a doar carrinhos elétricos para transportar machucados. Eles estão no Ninho do Urubu. Mas guardados. As trilhas enlameadas, cheias de buracos e declives, o melhor é mesmo o carrinho de mão. Detalhe, Paulo Victor teve de ser transportado a uma clínica para saber o que havia acontecido. Para fazer um simples raio-X. Mesmo com 1.600 metros quadrados, ainda não há instalações médicas para os atletas. O jogador levado ao carro particular do médico Márcio Tannure. E não em uma ambulância. Assim são tratados os profissionais do Flamengo.

Eduardo Bandeira de Mello precisa seguir com sua respeitável política. Enfrentar as dívidas e travar o caminho dos desonestos na Gávea é fantástico. Mas tem a obrigação de investir em um Centro de Treinamento decente para os jogadores profissionais. E se Paulo Victor tivesse sofrido um infarto? Um AVC? Como seria atendido? Sairia carregado em um carrinho de mão do gramado? Iria para onde? O que fariam os três médicos e um fisioterapeuta que estavam de prontidão? O Ninho do Urubu é um pequeno retrato da irresponsabilidade do futebol brasileiro. É assustador imaginar que há vários clubes importantes onde a situação é até pior. E ninguém se importa, fiscaliza, denuncia. Se entre os profissionais essa é a situação, melhor nem pensar na base, ao que estão expostos os garotos... Bom Senso, sindicatos de atletas e CBF estão unidos em relação aos Centro de Treinamentos. São cruelmente omissos. Deveriam ter o mesmo pôster nas suas sedes. Paulo Victor, com a perna quebrada, em um carrinho de pedreiro...




Fonte: Esportes R7
Autor: cosmermoli
Publicado em: 17 Jun 2015 11:25:17

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