terça-feira, 9 de junho de 2015

"Não vamos investigar apenas a corrupção no futebol brasileiro, a CBF. Vamos a fundo na Copa do Mundo no Brasil. Desta vez não vai acabar em pizza." Silvio Torres, relator da CPI da Nike em 2000...

"Não vamos investigar apenas a corrupção no futebol brasileiro, a CBF. Vamos a fundo na Copa do Mundo no Brasil. Desta vez não vai acabar em pizza." Silvio Torres, relator da CPI da Nike em 2000...




"A sensação que eu tenho é que sempre estivemos certos. Os personagens são os mesmos. Ricardo Teixeira, Nike, pessoas ligadas à transmissão do futebol, empresas que negociam com patrocinadores, dirigentes da Fifa, da Conmebol, da CBF, federações. "Os esquemas são os mesmos. A corrupção, propinas, falta de transparência. A grande diferença é que houve uma investigação profunda do FBI que não deixa dúvidas. Por isso o Marin e mais sete altos dirigentes da Fifa estão presos. Essa participação mudou todo o cenário. No mundo e no Brasil. "A Bancada da bola, políticos que sempre protegeram os dirigentes da CBF, está enfraquecida desta vez. Não por causa da opinião pública. Mas pelas provas, que são contundentes. "Desta vez, depois de 15 anos, acredito que será feito justiça. A CPI vai chegar ao seu final e chegar a esta estrutura viciada que sempre comandou o futebol no Brasil. Demorou, mas a hora é esta." Esta é a convicção e esperança do deputado federal Silvio Torres (PSDB-SP) ao blog. Ele sabe o que diz. Foi o relator da CPI da Nike, em 2000. Os políticos resolveram investigar a relação entre a empresa de material esportivo e a CBF. Todo o processo foi vergonhoso. A Bancada da Bola conseguiu protelar a CPI por vinte meses. Ela deveria ter acontecido logo após a Copa de 1998. A intenção foi diminuir a revolta que dominava a opinião pública diante da perda da final do Mundial.

Foram meses de revelações, contratos mal explicados, a desconfiança de que pessoas importantes pagaram ou receberam propina. Ricardo Teixeira foi o principal personagem de investigações. E o que mais recebeu acusações. Só que ele conseguiu sobreviver no comando do futebol brasileiro. Os políticos que o protegiam conseguiram desmoralizar o Congresso Nacional. Eles simplesmente se ausentaram, não deram quorum para a votação final do relatório, que nunca chegou a ser aprovado. As acusações não foram formalizadas. Não atingiram Ricardo Teixeira. Só que a vergonha chegaria a um nível inacreditável e que, infelizmente, nós esquecemos nestes 15 anos.

Todas acusações foram reunidas. Seriam publicadas no livro CBF-NIKE. Os autores, os deputados Aldo Rebelo e Silvio Torres. O público teria acesso ao que foi apurado contra o comando do futebol neste país. Só que o processo 2002.001.028004-5 na 41ª Vara Cível do Rio de Janeiro, impediu. Ricardo Teixeira conseguiu a censura, a divulgação, a impressão e venda do livro. Foi além. O ex-presidente da CBF impediu também que ele chegasse à Internet. Com a vitória na justiça federal, a impressão que ficou foi terrível. A de que esses poderosos homens que controlam o futebol no Brasil eram inatingíveis. Entrevistei Silvio na Record News. Parte com o excelente e generoso Heródoto Barbeiro. E parte sozinho. Deputado, por que acreditar que esta nova CPI que o Romário está propondo atingirá a cúpula da CBF? Porque a Bancada da Bola está enfraquecida. As revelações que o FBI fez são fortes demais. O esquema de propina, de corrupção não deixa dúvidas. O Marin e outros setes dirigentes da Fifa não estão presos por acaso. Assim como a renúncia do Blatter. O Marin era até o ano passado o homem que comandava a CBF e o Comitê de Organização Local da Copa. Muitos contratos bilionários do Mundial foram mal explicados, despertam desconfiança. Os estádios são a parte aparente. Mas o grosso do dinheiro que saiu do Brasil para a Fifa estava nesses contratos que ninguém teve acesso. Antes do Marin, o Ricardo Teixeira e sua filha comandavam o COL. Isso será investigado. A CPI desta vez não acabará em pizza. E chegará à Copa do Mundo. Muita gente que está tranquila, acreditando que enriqueceu com a Copa e escapou, vai ter uma surpresa.

Se o senhor não fosse deputado, mas um cirurgião e o futebol do Brasil um corpo humano doente, com câncer. Onde estariam os tumores? A sujeira, a corrupção? Sempre houve muita brecha para a corrupção. Porque nunca ninguém controlou a CBF. Como nas ligações que envolvem as empresas de marketing. Nas organizações dos torneios. Esses contratos sempre foram sigilosos, escondidos, proibidos. Negociados entre poucas pessoas. A CBF usando o escudo que é uma empresa privada sempre fez o que quis. Ela se apossou do futebol brasileiro, da Seleção. E bilhões de reais envolvem tanto o futebol neste país como a Seleção. Direitos de transmissão, patrocinadores, amistosos, torneios. Tudo isso ficou na mão da diretoria da CBF. Foram décadas que os dirigentes usaram o futebol brasileiro sem dar satisfação para ninguém. Passou da hora de tudo vir à tona. Se houve alguém que se beneficiou de modo ilegal, vai ter de pagar. O senhor sempre foi muito ligado ao futebol. Tentou levar adiante uma CPI em 2007 para investigar a ligação entre MSI e Corinthians. Não conseguiu. A Polícia Federal brasileira instaurou 13 processos contra Ricardo Teixeira que não deram em nada. A participação do FBI, denunciando o esquema de propina para o Marin, envolvendo a Copa do Brasil, foi decisiva e o anima para instalar esta nova CPI? Foram três anos de investigação do FBI. Os Estados Unidos tiveram acesso às ligações dos dirigentes da Fifa. E atingiram em cheio a CBF. Não há contestação. As provas obtidas pelo FBF serão o ponto de partida para as nossas investigações. Iremos além. Nos fixaremos na CBF. Tornar público cada contrato. Entender quem ganhava o quê e porquê. Agora há condição política para fazer o que sempre sonhamos: revelar o que está por trás da organização do futebol neste país.

Por que o senhor acha que os dirigentes dos principais clubes do país são tão omissos? A CBF os obriga a fazer o que ela quer. E sem contestação. Por causa das dívidas. Os principais clubes neste país devem mais de R$ 6 bilhões. R$ 4 bilhões só para o governo. Então precisam se sujeitar ao que a televisão e a CBF estão dispostas a pagar. Por isso não contestam nada o que acontece. Querem saber apenas de quanto será sua parte. Este cenário é excelente para quem comanda a CBF. Não há interesse em fortalecer de verdade os clubes. E nem dar satisfação. Por isso gente como o Ricardo Teixeira ficou 23 anos comandando a CBF. Essa estrutura tem de mudar. O senhor tentará ser o relator novamente desta nova CPI? Acredito que será o Romário. Nós vamos tentar evitar que sejam feitas duas CPI, duas Comissões Parlamentares de Inquérito. Uma na Câmara Federal com os deputados e outra com os senadores. Isso seria muito confuso. O ideal será a CPMI, a Comissão Parlamentar Mista de Inquérito. Com deputados e senadores trabalhando juntos. Estou muito animado. A hora é agora para investigar a CBF e moralizar o futebol brasileiro. Trazer o que as pessoas de bem sempre desejaram: transparência. Desta vez não vai acabar em censura e pizza. E vamos avançar na Copa. O O Brasil perdeu muito dinheiro. A Fifa lucrou quatro bilhões de dólares limpos. Foi o Mundial mais lucrativo da história da Fifa. Os estádios são apenas a parte aparente. De onde saíram esses quatro bilhões de dólares sem impostos? Os contratos do COL ainda estão aí, esperando para serem investigados de verdade. O FBI e os Estados Unidos mostraram como se faz. E agora a Bancada da Bola não vai nos travar...



Fonte: Esportes R7
Autor: cosmermoli
Publicado em: 09 Jun 2015 10:19:21

Nenhum comentário:

Postar um comentário