segunda-feira, 22 de junho de 2015

Amarilla foi escolhido pelo Boca em 2013. Escutas revelam não só a podridão da Conmebol. Mas a incompetência e a ingenuidade dos dirigentes corintianos. Confiaram no presidiário Marin...

Amarilla foi escolhido pelo Boca em 2013. Escutas revelam não só a podridão da Conmebol. Mas a incompetência e a ingenuidade dos dirigentes corintianos. Confiaram no presidiário Marin...




"Ninguém queria este louco de merda." E o maior reforço que o Boca teve no último ano foi Amarilla." As frases do falecido Júlio Grondona não deixam dúvida. O ex-presidente da AFA, acusado de várias denúncias de corrupção, estava por trás pela escalação do paraguaio Carlos Amarilla no duelo decisivo entre Corinthians e Boca Júniors em 2013. O bom árbitro Amarilla estava completamente transtornado naquela partida no Pacaembu. Não marcou dois pênaltis claros para o Corinthians. E anulou dois gols legais. No final, o Boca Júniors se classificou com o empate em 1 a 1, já que havia vencido o time paulista em Buenos Aires. A estranha arbitragem do paraguaio sempre foi questionada pelos dirigentes e jogadores. Não só do Corinthians, em todo continente sul-americano. Mas a divulgação de 11 escutas feitas pelo Cana América de Buenos Aires acabaram com as dúvidas. Grondona impôs a escalação do juiz. Pelo tom de suas declarações, para ajudar o Boca Júniors. A revelação mostra como a Conmebol é uma entidade sujeita à corrupção, à pressão dos dirigentes "mais poderosos, mais espertos". Grondona conversava com Abel Gnecco, representante da AFA no Comissão de Arbitragem da Conmebol. Ele usou a força do então presidente da AFA sobre o paraguaio Carlos Alarcón, diretor da Comissão de Arbitragem da Conmebol. Gnecco e Grondona escolheram Amarilla para apitar em São Paulo. Era o juiz que o Boca desejava. "Gostam aí na Argentina do Amarilla?" Olha, se não gostam dele, não sei. Eu gosto, bota ele e deixa de me encher o saco. Para Alarcón, me bota o Amarilla e para de encher. Bom, assim foi, o pôs e bom... e saiu bem porque, bom, tem que ser assim", relatou, orgulhoso, o próprio Gnecco para Grondona.

A diretoria atual do Corinthians e o próprio técnico Tite ficaram revoltados com a revelação. Sabiam que Amarilla não teve uma arbitragem normal. É possível que o clube proteste, reclame formalmente para a Conmebol. Mas nada voltará atrás. Os erros absurdos em favor do Boca Júniors não voltarão atrás. Os dirigentes e técnico corintianos ficam mais revoltados porque tinham a certeza de que o time poderia seguir até a disputa do título. Consideram possível enfrentar de igual para igual o Atlético Mineiro, campeão em 2013. Os prejuízos são enormes até hoje. Se realmente o time fosse bicampeão da Libertadores e tivesse disputado outra vez o Mundial, o elenco seria muito valorizado. E pelo menos mais R$ 30 milhões estariam nos cofres. Só que tudo isso ficará no campo da imaginação. Amarilla não permitiu. A revolta no Parque São Jorge cresce quando se analisa com calma a denúncia. Em um meio tão corrupto como esse, o Corinthians não teve respaldo nos bastidores. O então presidente Mario Gobbi foi ingênuo. Não cobrou o presidente da CBF, José Maria Marin, a pressionar a Comissão de Arbitragem da Conmebol. A antiga diretoria corintiana não tinha nem ideia de quanto o árbitro paraguaio era desejado pelos argentinos. Muito menos Marin. Houve o encontro fatídica da ingenuidade com a incompetência. "O que aconteceu aqui, ele (Amarilla) veio, roubou a gente na cara dura, foi embora e tirou a gente da Libertadores. E não vai acontecer nada com ele. Isso é uma vergonha", protestou Emerson Sheik após a desastrosa atuação do Amarilla. O então diretor de futebol, e hoje presidente do Corinthians, Roberto de Andrade parecia ter adivinhado o que havia acontecido.

"O Amarilla veio apitar com uma encomenda, e devolveu certinho: tirou o Corinthians da Libertadores. Não existe dúvida. Não há como negar o que estou dizendo. O Amarilla deveria estar preso, mas conseguiu escapar ontem. E não foi só o juiz. Os bandeiras pareciam estar mal colocados de propósito." Mesmo indignado, ele não quis acionar a Conmebol, protestar formalmente contra Amarilla. "É perda de tempo. Se eu preencher um documento, vou gastar o papel e a tinta da máquina à toa. O que posso é falar sobre o sistema falido do futebol sul-americano, do brasileiro e do paulista. O mundo inteiro viu as imagens, e nem um dirigente sequer se manifestou a favor do Corinthians pelas barbaridades que o juiz fez. Da nossa parte, são palavras ao vento, um desgaste que não traz solução, infelizmente. Só nos sobra indignação." Esse foi o grande problema. Não houve a prevenção. Em uma disputa tão importante entre o clube mais importante da Argentina e o clube mais popular do estado mais rico do Brasil, não há como ser ingênuo, incompetente. Se Roberto de Andrade acreditava piamente que o juiz foi encomendado, como o Corinthians e a CBF permitiram? O que fica claro é o lamaçal no qual está afundado o futebol sul-americano. Como acreditar nas próximas escalações da Libertadores? Como a diretoria do Internacional pode estar tranquila para os duelos contra o Tigres pelas semifinais? Por trás de cada erro de um árbitro nesta competição tão importante será que não há a pressão de algum dirigente?

Carlo Alárcon continua escolhendo os juízes das principais competições desta pobre América do Sul. Ele é membro do Comitê de Arbitragem da Fifa, inclusive. Além de seguir como diretor da Conmebol. Mesmo com mais esse escândalo, ele segue tranquilo. E deverá escolher quem apitará os jogos decisivos da Copa América. Vale lembrar a sequência do desabafo de Roberto de Andrade após a eliminação do Corinthians da Libertadores de 2013. Com grande participação do Amarilla. "Futebol se ganha dentro de campo, com transparência e honestidade. Quando não é assim, podem dormir na porta da Conmebol, que não vão atender. Aqui, no Corinthians, ninguém é bobo, todos sabem que é necessário ter um relacionamento. Mas, quando você não é o escolhido, esquece, não vai mudar. Quem sabe é a vez de o Kalil (então presidente do Atlético Mineiro) ser campeão? Não foi a do Corinthians." Qual foi a equipe campeã daquele ano? O Atlético Mineiro. Coincidência, óbvio... Nada menos do que 11 escutas que foram reveladas ontem. E mostram a influência de Grondona na escolha dos árbitros nos principais torneios da Conmebol. O FBI e o Departamento de Justiça dos Estados Unidos revelaram formalmente que Grondona recebeu 15 milhões de dólares, cerca de R$ 46 milhões em 2013. Esse dinheiro seria propina para que a Datisa ficasse com os direitos da Copa América de 2015, 2016, 2019 y 2023.

O então presidente da Conmebol era o paraguaio Nicolás Leoz. Ele ficou 27 anos presidindo a entidade. O FBI e o Departamento de Justiça dos Estados Unidos exigem a sua extradição. Há provas que ele recebeu propina para votar no Catar como sede da Copa de 2022. Além de suborno da Datisa para ter o controle da Copa América. Era esse tipo de gente que comandava a Libertadores da América. Quem determinava os árbitros dos jogos decisivos. Por anos e anos foi assim. Em 2013 tudo talvez tenha ficado mais claro. "Vamos acompanhar de perto o que aconteceu. Fomos vítimas no caso. Vamos aguardar e ficar atentos. É um motivo para ir atrás e tirar a limpo. O Corinthians não vai deixar de lado uma coisa tão séria como foi", brada aos ventos, o gerente de futebol, Edu Gaspar. Nada voltará atrás. E ele sabe disso. Mas tem de desempenhar o seu papel neste episódio vergonhoso... O episódio só mostra o quanto a diretoria corintiana foi ingênua. Principalmente Mario Gobbi. Ele deixou o agora presidiário José Maria Marin defender o interesse do seu clube na Conmebol.
O presente por tanta confiança foi Carlos Amarilla. Restou a lamentação eterna pelos dois pênaltis não marcados. Mais os dois gols anulados. De propósito? Grondona morreu? Abel Gnecco e Carlo Alárcon estão vivos. Por que ninguém quer ouvi-los? Trite e corrupto futebol nestes trópicos. O Corinthians pagou pela ingenuidade e incompetência dos seus dirigentes...




Fonte: Esportes R7
Autor: cosmermoli
Publicado em: 22 Jun 2015 13:00:02

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