sexta-feira, 5 de junho de 2015

O secreto plano de sobrevivência de Marco Polo. Acabar com os mandatos ilimitados na CBF e Federações. Dar um basta aos privilégios de Corinthians e Flamengo nas cotas de transmissão. "Ele é um mafioso", garante Zezé Perrella...

O secreto plano de sobrevivência de Marco Polo. Acabar com os mandatos ilimitados na CBF e Federações. Dar um basta aos privilégios de Corinthians e Flamengo nas cotas de transmissão. "Ele é um mafioso", garante Zezé Perrella...




Marco Polo del Nero é muito mais inteligente do que o arrogante Ricardo Teixeira. Mais articulado que o deslumbrado e encarcerado José Maria Marin. Del Nero quer continuar como presidente da CBF. Sabe que a pressão é imensa. Decidiu que quer sobreviver. Ou no pior dos casos, não ter um inimigo como sucessor, se for obrigado a renunciar. Se não fosse tão lento e omisso, o governo brasileiro já poderia ter interferido na entidade, mesmo ela sendo privada. Destituído a diretoria e democratizado à força a organizadora do futebol neste país. O ex-presidente Marin está preso na Suíça, com os Estados Unidos fazendo de tudo por sua extradição. O FBI e o Departamento de Justiça norte-americano têm provas de corrupção do ex-presidente da CBF. Seu vice era Marco Polo. Mesmo que não tenha participado de nenhum ato criminoso, o desgaste do dirigente é evidente. Tendo de entrar escondido dos jornalistas ontem no treinamento da CBF, na granja Comary. Situação ridícula para um dirigente tão poderoso. Marco Polo é membro do Comitê Executivo da Fifa. Sabe que a entidade será reformulada depois dos escândalos e prisões de altos executivos, como Marin. E, esperto, ele que se antecipar. O dirigente quer posar de democrata. E mudar os estatutos da entidade. Tocar em um ponto fundamental, digno das piores ditaduras militares. A limitação dos mandatos dos presidentes da CBF. Desde que a entidade se chamava CBD, homens usufruíram do cargo de presidente, sem limites. Não por acaso, a família Havelange foi quem mais se perpetuou do poder. João ficou 17 anos. Já seu ex-genro, Ricardo Teixeira, acumulou absurdos 23 anos. Marco Polo é um homem prático. Embora sua distração seja namorar modelos que poderiam ser suas netas, sabe a idade que tem. 74 anos. Se conseguir ficar até o final de seu mandato, terá 78 anos. Caso consiga se reeleger, abandonará a milionária sede da CBF, no Rio, com 82 anos. Já poderia largar sossegado o cargo e se preocupar só em passear de barco com suas mulheres, capas de revistas masculinas. Ou seja, Marco Polo quer se antecipar ao que a Fifa tornará obrigatório: a limitação dos mandatos dos presidentes de federações e confederações no mundo todo. Um mandato, com a chance de apenas uma reeleição. E ponto final. No atual estatuto da CBF, o presidente poderia ficar por várias encarnações seguidas. Não há limitação. A mudança proposta por Del Nero seria muito bem recebida pela sociedade, agradaria o governo Dilma e o Bom Senso.

Mas ele sabe que muita gente pode achar pouco. Afinal ele tinha uma ligação umbilical com José Maria Marin. Aprovou o balanço do ex-dirigente, com contratos suspeitos que o acabaram levando para a cadeia na Suíça. Se tudo der errado e acabe destituído do cargo da CBF, ele não quer ver o vice da Região Sul, Delfim Peixoto, como seu sucessor. De jeito algum. Não confia no dirigente. O atual estatuto prevê que o vice mais velho assume em cargo de renúncia do presidente da CBF. Foi o que aconteceu em 2012, quando Ricardo Teixeira, pressionado pelo escândalo de propina da ISL teve de renunciar. Marin herdou todo o seu poder por ser o vice mais idoso. Marco Polo quer mudar esse pedaço do estatuto. Deseja impor uma hierarquia que independa de idade. E, no seu caso, opte pelo vice do Centro-Oeste, Marcus Vicente. Ele é presidente da Federação do Espírito Santo. Deputado federal pelo Partido Progressista e representante assumido da Bancada da Bola em Brasília. Tem profunda ligação com o presidente do Senado, Renan Calheiros e com o presidente da Câmara Federal, Eduardo Cunha.

Vicente é muito fiel a Marco Polo. É o homem das alianças políticas no Planalto. A pessoa incumbida de mudar a Medida Provisória que Dilma Rousseff tentou impor em março. Impondo regras até administrativas para a liberação do financiamento de R$ 4 bilhões de dividas dos clubes com o governo. Até estourar o escândalo da Fifa, Marco Polo era absolutamente contra a limitação dos mandatos de presidentes da CBF, Federações e clubes. Além disse, Vicente terá de buscar alianças para travar a CPI de Romário, que pretende derrubar Marco Polo da presidência da CBF. Ele já trabalha arduamente para buscar aliados contra o desejo do ex-jogador. Vicente será fundamental em duas reuniões importantíssimas para o futuro do futebol brasileiro. A primeira será na segunda-feira, com os presidentes dos clubes. Marco quer assegurar aos dirigentes a liberação do dinheiro de Dilma. Mas vai tentar convencer que os dirigentes aceitem contrapartidas. Como a limitação de mandatos e gastos com o futebol. Entrar em consenso para que os gastos com os elencos não ultrapassem o que arrecadam. Vai pedir mais transparências nas contas. E tentar que aceitem punições em caso de atrasos de salários, calotes em jogadores. Se conseguir isso, o dirigente espera ganhar admiração popular, agradando até o Bom Senso.

Como contrapartida, além do financiamento do governo dos R$ 4 bilhões em 20 anos, Marco Polo prometerá que a CBF e Federações descontarão muito menos dinheiro das arrecadações dos jogos. E mais, até mesmo articular com a Globo a redistribuição das cotas de transmissão, o que é o desejo da maioria das equipes. Acabar com o privilégio a Corinthians e Flamengo. Este é uma exigência do presidente do Vasco, Eurico Miranda. O presidente deseja, na verdade, travar o nascedouro de uma liga independente dos clubes. Mostrar que a CBF pode ainda ser muito útil na organização do futebol brasileiro. Tudo isso na segunda-feira. Na quarta-feira, será a vez de Marco Polo se reunir com os presidentes de Federações. Ele vai tentar mostrar a necessidade de limitação dos mandatos, algo que os dirigentes não queriam nem ouvir. Vários deles adoram se perpetuar no poder. O presidente da Federação do Acre, Antônio Aquino, já está a caminho de completar 31 anos no poder. José Gama Xaud vai além. Ele é o presidente da Federação de Roraima. Chegou ao cargo há 45 anos.

A grande arma de convencimento Marco Polo outra vez será o dinheiro. Marin chegou a distribuir "ajuda" de R$ 30 milhões por ano às federações. O atual presidente deverá destinar uma quantia maior. A CBF já dá para cada federação R$ 50 mil mensais. Mais R$ 15 mil a cada um dos 27 presidentes como "ajuda de custo". Esses valores serão aumentados. Fora todos os agrados de viagens em competições importantes e reuniões no Rio de Janeiro. O balanço oficial da CBF registra que em 2014, a receita bruta foi de R$ 519 milhões. Com patrocínios arrecadou R$ 359 milhões. Marco Polo sabe o quanto serão importantes esses próximos dias para a sua sobrevivência. Quer travar o nascimento da Liga dos Clubes, manter seus eleitores fiéis: os clubes e os presidentes de federações. E ainda ganhar pontos importantíssimos junto à opinião pública, posando de democrata. "O Marco Polo está fazendo de tudo para continuar na CBF. Ele é um mafioso. Tinha de renunciar. Mas pode fazer o que quiser para tentar ficar no cargo. Não escapará da CPI", promete o ex-presidente do Cruzeiro e senador, Zezé Perrella...




Fonte: Esportes R7
Autor: cosmermoli
Publicado em: 05 Jun 2015 05:07:16

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