sexta-feira, 20 de maio de 2016

Guilherme descobriu. O Corinthians é dominado pelas organizadas. Desde 2007, quando Andrés Sanchez se tornou presidente. Jogadores precisam dar satisfação às organizadas. Para acabar com a hipocrisia, melhor colocar nos contratos...

Guilherme descobriu. O Corinthians é dominado pelas organizadas. Desde 2007, quando Andrés Sanchez se tornou presidente. Jogadores precisam dar satisfação às organizadas. Para acabar com a hipocrisia, melhor colocar nos contratos...




"A gente trata aqui como nossa casa, como família. Fico mais no clube do que em casa. Ter esse tipo de abordagem dentro da nossa casa, do nosso lugar sagrado, é estranho. Só no futebol isso acontece. A galera fica um pouquinho triste, não é natural isso." Esse foi o desabafo do desavisado Guilherme. Ele ainda não tinha sido aconselhado pelos dirigentes e assessores a disfarçar, não comentar. Não abrir a boca com a imprensa. Dirigentes da Gaviões da Fiel exigiram uma reunião com os jogadores e os cobraram pelos fracassos no Paulista e na Libertadores. Pediram mais empenho, dedicação, raça no Brasileiro e na Copa do Brasil. Os jogadores tiveram de ouvir as reivindicações e prometer fazer o que os torcedores pediram. Guilherme pode ter estranhado, mas o Corinthians é um clube que as organizadas têm e sempre terão acesso desde que o grupo comandado por Andrés Sanchez esteja no poder.

"Havia um grupo de elitistas mandava no clube e nos chamavam de baixo clero. Pois bem, o baixo clero, que representa as torcidas corintianas tomou o poder. E, de agora em diante, o Corinthians voltará à sua origem humilde. Voltará aos seus torcedores", discursou Andrés ao ser eleito presidente corintiano. O irônico é que ele pertenceu ao grupo da elite. Era o homem do futebol de Dualib na chegada da MSI. Suas palavras berradas aos jornalistas foram ditas em 2007. Há nove anos, ele vem cumprindo sua palavra. O Corinthians é o clube mais escancarado do país. Não à sua torcida. Mas apenas às chefias das principais organizadas. O corintiano normal que tentar entrar no clube ou no CT não conseguirá. Já a cúpula das uniformizadas tem livre acesso. Basta pedir uma reunião e ela será feita.

Andrés foi fundador da organizada batizada de Pavilhão 9, em homenagem ao pavilhão mais violento da extinta penitenciária do Carandiru. Roberto de Andrade escolheu como diretor adjunto de futebol, Eduardo Ferreira. Ele é conhecido no Parque São Jorge como Edu da Gaviões. Ele era assessor de imprensa da torcida organizada. Até o ex-presidente e delegado, Mario Gobbi, permitia que as chefias das organizadas fizessem o que desejassem. A invasão do CT do Corinthians em fevereiro de 2014 foi deprimente. As inúmeras câmeras que estão fixadas na entrada do Centro de Treinamento não registram sequer uma imagem dos torcedores. Eles eram mais de cem. E circularam caçando os jogadores. Três deles conseguiram cercar Guerrero. "Eles esganaram o nosso atacante", confirmou Gobbi. Depois de ter o seu pescoço apertado, o peruano conseguiu fugir. Enquanto alguns tomavam isotônicos dos jogadores e outros roubavam celulares dos funcionários, a maioria caçava dois atletas em especial. Emerson Sheik e Pato. Queriam cobrar o jogador que deu um beijo na boca de um amigo e colocou nas redes sociais. Quanto a Pato, a raiva era sua falta de empenho. Cantando, gritavam que queriam quebrar suas pernas. Os jogadores ficaram escondidos nos vestiários. Colocaram armários contra as portas para impedir a invasão.

O Corinthians agiu como se nada tivesse acontecido. Guerrero foi aconselhado a não prestar queixa contra membros das organizadas. A influência voltou a ser ainda mais explícita, quando Gobbi autorizou os chefes das organizadas a darem uma prensa em Sheik. Ele teve de jurar que nunca mais beijaria homem nenhum enquanto estivesse no Corinthians. E a garantir que não era homossexual. "Não sou são paulino", disse Emerson, arrancando risos dos torcedores. Para entender o Corinthians é preciso entender seu organograma. O oficial é o mesmo dos outros clubes. Presidente, diretoria, conselheiros, sócios e torcedores. O extraoficial e verdadeiro: Andrés Sanchez manda como se o clube fosse dele. Roberto Andrade, André Luiz Oliveira, Mané da Carne são seus escudeiros. Surge a cúpula das organizadas. Depois, vem a diretoria e conselheiros afinados com Sanchez. Depois, a frágil e acovardada oposição. Depois os sócios e torcedores comuns. A oposição tem uma postura omissa até por medo físico. Qualquer reunião do Conselho Deliberativo é infestada de torcedores organizados. Porque muitos são sócios e alguns conselheiros. Roque Citadini, Paulo Garcia, Osmar Stabile deixaram de ser efetivos no clube. Evitam confrontos com os torcedores organizados. A postura perpetua o poder do grupo de Andrés Sanchez no poder.

Quanto aos jogadores, aqueles com mais tempo de clube, sabem que precisam ouvir cobranças das organizadas em cada eliminação de campeonato. São aconselhados a não reclamar. Guilherme já foi advertido para que não entre em conflito com os torcedores. Andrés Sanchez já destinou toda a parte da arrecadação de um confronto com o Flamengo para o Carnaval da Gaviões. Ajuda nos desfiles, nos jogos, nas viagens e até em caso de detenção dos torcedores é obrigação do Corinthians. Como no caso de Oruro, na morte de Kevin Spada, a dedicação foi total. A única pessoa que não se dobra, não aceita falar com os membros das organizadas se chama Adenor Leonardo Bacchi. Ele deixou muito claro a Roberto de Andrade e a Andrés que não dá satisfação aos torcedores. É absolutamente radical contra essa interferência. Acredita que prejudica os jogadores, não acrescenta nada de bom. Mas respeita. Sabe que, se quiser continuar treinador do Corinthians, a situação é essa. E ponto final. O Corinthians tentou esconder a cobrança dessa semana dos torcedores. Mas ela vazou no Parque São Jorge. E Guilherme, além de confirmar, deixou escapar sua indignação. Cássio, Fagner, Uendel, Elias e Giovanni Augusto se explicaram para o vice-presidente da Gaviões, Digão. Edu Gaspar e Alessandro, representavam oficialmente a diretoria. Foi feito um pacto de empenho. Os jogadores corintianos garantiram "fazer de tudo" para ganhar o Brasileiro ou a Copa do Brasil. Talvez os dois. Digão ficou satisfeito com o que ouviu.
Essa situação bizarra vai prevalecer enquanto o "Baixo Clero", comandado por Andrés seguir mandando. E a oposição, acovardada, com medo da truculência dos torcedores organizados, não agir. Portanto, qualquer jogador contratado pelo Corinthians tem de saber. Quem manda no clube é Andrés Sanchez. E a qualquer momento pode ser obrigado a dar satisfação às organizadas. Seria melhor que estivesse no contrato. Acabava a hipocrisia...




Fonte: Esportes R7
Autor: cosmermoli
Publicado em: 20 May 2016 15:20:12

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