segunda-feira, 30 de maio de 2016

Na vitória contra o fraco Panamá, o Brasil mostra o time da Copa América. Sem o talento, e os privilégios, de Neymar. Dunga montou uma equipe competitiva, previsível. De coadjuvantes esforçados...

Na vitória contra o fraco Panamá, o Brasil mostra o time da Copa América. Sem o talento, e os privilégios, de Neymar. Dunga montou uma equipe competitiva, previsível. De coadjuvantes esforçados...




Dunga mostrou versatilidade tática. Fez o Brasil entrar 4-1-4-1, passar para o 4-4-2 e terminar a partida contra o Panamá no 4-2-3-1. Na preparação esdrúxula da CBF, venceu o único amistoso antes da Copa América Centenária por 2 a 0, em Denver, nos Estados Unidos. Mas mostrou que, sem Neymar, o time é absolutamente comum. Mediano. Sem brilhantismo. Representa a atual geração de jogadores nascidos boa, mas com um grave defeito. Sem protagonistas. Só coadjuvantes. "Eu vivi na pele (essa cobrança). Falavam que minha geração não era tão boa, só que minha geração ganhou Sul-Americano, Mundial, Copa América, Copa das Confederações, primeira medalha olímpica. Essa geração está faltando ganhar título para se confirmar. São todos jogadores de grande qualidade, tanto na parte defensiva quanto ofensiva, que têm qualidade técnica", dizia Dunga, tentando valorizar, de qualquer maneira, seu time sem brilho. Sem Neymar. Dunga sabia que seria assim. Desde que o Barcelona mandou a CBF escolher levar Neymar para a Copa América ou Olimpíada, o treinador tinha certeza que sofreria. Teria que enfrentar uma competição sem o principal jogador brasileiro. Desde 2010, os técnicos da Seleção sofrem dessa dependência assumida. Em nome do seu talento, se submeteram, principalmente Dunga, aos caprichos de um garoto milionário de 24 anos, completamente mimado. Ao contrário do que acontece no Barcelona, quando tem orgulho de jogar pelo time. Faz a Seleção jogar por ele. Qualquer esquema cuidadosamente estudado é mudado. A equipe atua em função do capitão, camisa 10, cobrador de todos as faltas e pênaltis. É o preço... Dunga e Gilmar Rinaldi preferiram preservá-lo para a Olimpíada. Na luta pela inédita medalha de ouro, que o Brasil não possui. Com os Jogos acontecendo no Rio, a conquista pode até compensar a fraquíssima participação nas Eliminatórias e até um eventual fracasso na Copa América Centenária. O presidente Marco Polo del Nero já foi convencido por Gilmar Rinaldi que a competição é menos importante. E que a avaliação se Dunga deve ou não continuar merece ser feita na Olimpíada. Até porque será a primeira competição desde 2010 que Neymar não participa. Ou seja, até que o presidente da CBF mude de ideia, o treinador tem o direito de errar.

Mas desconfiado da própria sombra, quando o assunto é sobreviver no comando da Seleção, Dunga está seguindo suas convicções para tentar vencer seu primeiro título desde que retornou. E no único amistoso antes da Copa América, demonstrou o que se pode esperar do Brasil, órfão de Neymar. Gilmar Rinaldi escolheu os fraquíssimos panamenhos, 52º no ranking da Fifa. Participaram dez vezes de Eliminatórias e nunca conseguiram participar de uma Copa do Mundo. Seriam sparrings perfeitos para uma vitória que desse confiança às vésperas do início do torneio. Dunga deixou claro que agora a aposta é no conjunto. Ninguém tem privilégios. O seu Brasil não tem brilho, não empolga, não faz ninguém vibrar de emoção. Pelo contrário. É um time burocrático. Que deseja vencer sendo competitivo. 4-1-4-1 foi o primeiro esquema que utilizou. E o que pretende seguir utilizando na Copa América. O Brasil pretende marcar forte primeiro. Ganhar as intermediárias. Atuar de forma compacta. Com rápida recomposição. Velocidade nos contragolpes, principalmente pela direita, com Daniel Alves. Apostar na visão de jogo de Renato Augusto, nas arrancadas de Philippe Coutinho, nos dribles, sem exagero, de Willian. Na frente, Gabriel deverá ser titular. Tem muito mais recursos que Jonas. Como se pôde notar no amistoso em Denver, os jogadores se submetem a fazer exatamente o que Dunga pretende. Marcam com afinco a saída de bola adversária, ninguém fica parado, sem função, esperando a bola chegar. Sem Neymar, não há privilégios. Mas também não há surpresas. As trocas de passes são previsíveis. As infiltrações de Elias são raríssimas. Ele e Luiz Gustavo precisam marcar.

Dunga não encontrou lugar para Lucas Lima no time titular. Ele quer jogadores com maior poder de marcação sem a bola. Uma heresia. Por falar em escolhas que não se sustentam, há a de Jonas. Embora tenha brigado pelo título de maior artilheiro da temporada pelo Benfica, Gabriel tem muito mais recursos. Mesmo assim, Jonas não só começou o jogo de ontem, como fez o primeiro gol, no segundo minuto de partida. Daniel Alves levantou, Douglas Costa evitou que a bola saísse. Ele fez um cruzamento venenoso, Elias não conseguiu o desviou, mas a bola sobrou para Jonas encher o pé. Brasil 1 a 0. O gol não era a perspectiva de uma goleada. Pelo contrário. Os panamenhos comandados pelo veterano técnico colombiano Hernán Gomez, trataram de seguir marcando forte. Atuaram quase o tempo todo em um 4-5-1 clássico. O Brasil não teve repertório para buscar uma goleada. O time brigou muito. Correu. Dunga buscou variáveis táticas. Philippe Coutinho trocava de lado com Willian, Renato Augusto era o mais cerebral da equipe, buscando lançamentos e inversões. Daniel Alves e Douglas Santos (ótima surpresa) apoiavam e reforçavam o ataque. Jonas corria, corria, corria... No intervalo, Dunga tirou Luiz Gustavo e colocou Hulk. O esquema passava a ser o tradicional 4-4-2. Com Elias preso à frente da zaga. O Brasil seguiu criando muito pouco. Pior, se irritando e retribuindo os pontapés dos panamenhos. A Seleção sentia enorme falta de imaginação, variáveis. O treinador aproveitou para testar outro esquema. Colocou Lucas Lima e Gabriel. Forçou um 4-2-3-1. O placar seguia magro demais para Dunga não ser contestado. Só que Baloy quis retribuir os dois anos que passou pelo Grêmio e Atlético Paranaense. Ele falhou de forma bizarra em cruzamento de Daniel Alves. Acabou ajeitando a bola para Gabriel marcar 2 a 0, aos 27 minutos. Presente que deve ser agradecido, o Brasil estava com um problema crônico de montagem ofensiva.

Ao final do amistoso, Dunga estava aliviado com a vitória. Animado com Gabriel. Mas a imagem que sua Seleção deixou é de um time competitivo. E absolutamente normal. A marcação forte deverá ser suar marca na Copa América. Contra Equador, Haiti e Peru deverá bastar na primeira fase. Depois, quando começarem os mata-matas será o problema. Falta talento. O Brasil ainda sofre abstinência de Neymar. Por maior que seja seu egocentrismo. Mas é o que os jogadores deste país têm a oferecer. Luta, disposição, gana, correria, dedicação. Variação tática. Competitividade. Nada de privilégios. Só que nenhum brilho. Muito menos empolgação. Esse é o Brasil que disputará a Copa América Centenária. Equipe de coadjuvantes esforçados. Previsível.

O time de Dunga sem Neymar...




Fonte: Esportes R7
Autor: cosmermoli
Publicado em: 30 May 2016 04:12:04

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