sábado, 21 de maio de 2016

O futebol brasileiro rejeita o nordestino como treinador. Na elite, entre vinte clubes, só há um, Givanildo. Entre os cinco maiores clubes nordestinos, nenhum. "Puro preconceito", decreta Givanildo...

O futebol brasileiro rejeita o nordestino como treinador. Na elite, entre vinte clubes, só há um, Givanildo. Entre os cinco maiores clubes nordestinos, nenhum. "Puro preconceito", decreta Givanildo...




Depois de 15 anos, o América voltou a ser campeão de Minas Gerais. Com um time humilde em nomes, mas extremamente competitivo, desbancou o Cruzeiro nas semifinais. Causou a demissão de Deivid. Foi campeão em cima do Atlético Mineiro. Desmoralizou Aguirre, tirou do uruguaio a moral para continuar no cargo depois da queda na Libertadores. O clube sem grande estrutura ou investimentos, voltou da Série B em 2015. Deixou times populares e com mais dinheiro como Bahia e Náutico. Mesmo com todo esse sucesso, seu treinador não foi nem cogitado para assumir qualquer clube grande do país. Nem mesmo em Minas Gerais. O Atlético Mineiro apelou a Marcelo Oliveira. E o Cruzeiro cruzou o oceano para buscar o português Paulo Bento. Aos 67 anos, Givanildo Oliveira tem a resposta na ponta da língua. Preconceito. Sente a discriminação. Não por ser negro, como reclamam muitos. Mas pelo lugar onde nasceu e se fez homem. Pernambuco. "Infelizmente, ainda existe preconceito em relação aos treinadores do Nordeste. É simplesmente a falta de oportunidades, a falta de acreditar no profissional. Não falo só por mim. Falo por tantos treinadores que fazem grandes trabalhos, mas não são chamados. O futebol nordestino tem pouca visibilidade." Se é preconceito ou não, o número de treinadores nordestinos na Série A é estarrecedor. O Atlético Mineiro tem um um treinador da cidade mineira de Pedro Leopoldo; o Atlético Paranaense e o Botafogo, dois cariocas nascidos na cidade do Rio de Janeiro; a Chapecoense, um paulista, filho de Piracicaba; o Corinthians, um gaúcho de Caxias do Sul; o Coritiba tem um curitibano; o Cruzeiro, um português, de Lisboa; o Figueirense, um legítimo filho da cidade mineira de Mutum. O Flamengo segue com um paulistano; o Fluminense, com um curitibano; o Grêmio, tem um gaúcho de Porto Alegre; o Internacional tem um filho de Santa Rosa, cidade gaúcha; um curitibano comanda o Palmeiras; a Ponte Preta tem um campineiro; o Santa Cruz mantém um catarinense, de Criciúma; o Santos, um paulista de Araraquara; o São Paulo, um argentino de Granadero Baigorria; o Sport tem um carioca da cidade do Rio de Janeiro; e o Vitória, um paulista, de Ribeirão Preto.

Há um desequilíbrio total em relação aos homens que comandam o futebol de elite neste país. A região Sudeste prevalece. São dez treinadores, a metade da Série A. Cinco paulistas, três cariocas e dois mineiros. A região Sul tem sete. Três gaúchos, três paranaenses e um catarinense. Um português e outro argentino. E um nordestino. Não há qualquer treinador da região Norte. E nem da região Centro-Oeste. Givanildo foi um ótimo volante. Marcava forte, tinha muito boa visão de jogo. Começou no Santa Cruz, seu auge foi no Corinthians, vice campeão brasileiro de 1976 e campeão Paulista de 1977, quebrando jejum de 23 anos. Teve uma marcante passagem pelo Fluminense. Terminou a carreira no Sport. Foi convocado 13 vezes pela Seleção Brasileira. De temperamento forte, detestava holofotes, mas adorava comandar. A passagem para treinador foi algo natural. Muito rígido com os jogadores, mas atento às mudanças táticas europeias. Seu América agrega o que pode com elenco limitado. Marca pressão, os setores são muito bem coordenados, a dinâmica de jogo é intensa, a compactação também, assim como a recomposição. A falta de técnica apurada dos jogadores dificulta o toque de bola. Mas a movimentação da equipe é muito competente. O título mineiro e a volta para a Série A não foi por acaso.

Givanildo mereceria nova chance em grande clube brasileiro do Sul ou do Sudeste. Só que, aos 67 anos, ele não tem mais espaço para ilusão. Tem certeza que o convite não virá. Ele sabe do que fala. Sua carreira como treinador é impressionante. Tem 33 anos. E vida de nômade. Trocou de time 43 vezes. Em 34 oportunidades estava em clubes nordestinos ou nortistas. Oito vezes em times médios ou pequenos da região Sudeste. Teve uma única e rápida passagem por um clube grande da região Sul. O pernambucano durou apenas 12 jogos no Atlético Parananense em 2006. Muito se comenta sobre a ausência dos treinadores negros no país. O número na elite também é de cair o queixo. Apenas dois. Roger no Grêmio e Givanildo no América Mineiro. Se os treinadores forem chamado para um congresso na China, a impressão que todos terão é que o Brasil fica encravado na Europa. Os negros representam 54% da população. Sobre a incrível falta de oportunidades ao negros como treinadores já foi muito debatida. Mas sobre o esquecimento aos nordestinos não. Mas o irônico em tudo isso é que a situação começa nos próprios times nordestinos da Série A. O Sport depois de dispensar o catarinense Paulo Roberto Falcão foi atrás do carioca da gema Oswaldo de Oliveira. Não olhou para nenhum pernambucano.

O mesmo caminho foi seguido pelo Vitória. O time baiano aposta todas as suas fichas no paulista de Ribeirão Preto, Vagner Mancini. A diretoria nem avaliou qualquer treinador da região Nordeste, não. A CBF divulgou em fevereiro que o país tem 23.238 jogadores de futebol profissional. Cerca de 30% são nordestinos. A prática mostra que é mínima a possibilidade deles chegarem a treinadores da elite do país. Essa é a realidade. Não há um grande treinador nordestino que possa se considerar injustiçado, fora da festa maior do futebol do país. Doriva, paulista, cidadão de Nhandeara, comanda o Bahia na Série B. Alexandre Gallo, paulista de Ribeirão Preto, é o treinador do Náutico, também na Segunda Divisão. A falta de oportunidade aos nordestinos já vem dos grandes clubes da própria região. Os cinco maiores clubes nordestinos, de Pernambuco e Bahia, não apostam em treinadores da região. Acreditam que importar comando de treinadores paulistas, cariocas, gaúchos e paranaenses é melhor. "Puro preconceito", alega Givanildo.

E lógico que chega à Seleção. Treinadores nordestinos foram raridade. Em 1959, o pernambucano Gentil Cardoso passou como um meteoro. Já o alagoano Zagallo comandou o Brasil nas Copas de 1970, 1974 e 1998. Mas ele saiu muito cedo da cidade de Atalaia. E fincou suas raízes no Rio. A ponto de se definir como o mais "carioca dos alagoanos". Depois de Gentil e Zagallo, mais 27 treinadores chegaram à Seleção. Nenhum da região Nordeste. Só mais uma incoerência neste país tão cheio de contrastes. Como bem sabe Givanildo...




Fonte: Esportes R7
Autor: cosmermoli
Publicado em: 21 May 2016 10:39:39

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