quarta-feira, 20 de julho de 2016

De nada adiantou o vexame na Copa de 2014. As lições básicas não foram aprendidas. O Brasil segue preso à Granja Comary. Concentração ultrapassada, sem privacidade. E com a rejeição da população de Teresópolis, enganada pelo governo federal...

De nada adiantou o vexame na Copa de 2014. As lições básicas não foram aprendidas. O Brasil segue preso à Granja Comary. Concentração ultrapassada, sem privacidade. E com a rejeição da população de Teresópolis, enganada pelo governo federal...




Teresópolis... A CBF não aprendeu absolutamente nada com o vexame da Copa do Mundo de 2014. Pelo menos em relação à concentração. O Brasil segue preso à uma das concentrações mais escancaradas, atrasadas do planeta. Segue como quando foi inaugurada, em 1987. O almirante Heleno Nunes, ex-presidente da CBD, adorava a região serrana do Rio de Janeiro. E era amigo da família Guinle, dona da fazenda batizada de Granja Comary. Ele juntou o útil à amizade. O Brasil precisava de uma concentração digna para as suas seleções. E os Guinle viviam grave crise financeira. O almirante convenceu o então ministro da Agricultura, Ney Braga, a comprar a área de 151 mil metros quadrados, com dinheiro público. A partir daí, os problemas da Seleção e dos Guinle estavam resolvidos. Só que o tempo passou. Os campos nos 871 metros de Teresópolis seguem como há 29 anos. Expostos. Segue impossível para qualquer técnico fazer um treinamento fechado. Pelo simples fato de a concentração estar cercada, no meio de um condomínio com inúmeras casas. Qualquer espião de selecionado rival pode ir até às ruas adjacentes e acompanhar os treinos com todos os detalhes. Jornalistas também têm esse acesso. Basta ter a felicidade de enxergar.

A CBF não conseguiu realizar o sonho de Felipão. O ex-treinador implorou para que pelo menos um campo fosse cercado de placas, para impedir a observação do que seria realizado no gramado. Mas a entidade não quis entrar em conflito com os moradores dos condomínios. Muitos deles ameaçavam entrar na justiça contra as eventuais placas. Fora isso, os jogadores seguem presos ao rigoroso clima frio, principalmente no inverno. As temperaturas durante o período que a Seleção Olímpica estará por aqui ficarão entre oito e 18 graus, com a sensação de dois a três graus a menos. Sempre foi assim. O que deixa mais estúpida a preparação. O Brasil se prepara no frio, quando jogará na Olimpíada no clima seco e quente. Fará um único amistoso contra o Japão. Em Goiânia! Depois fará duas partidas valendo pelo ouro olímpico. Onde? Brasília! E finalmente, o último jogo da primeira fase. Salvador! Fora o famoso ruço que todo inverno vem visitar Teresópolis e a belíssima região serrana do Rio. Ruço com ç é o nevoeiro, a neblina que, no inverno, inúmeras vezes impediu a Seleção Brasileira de treinar. Por ser impossível enxergar a bola. Não é piada. Apenas a triste repetição do que acontece há décadas. De nada adianta a CBF avisar que modernizou as instalações. O departamento médico, a fisioterapia, as piscinas aquecidas. As acomodações luxuosas dos jogadores. O básico continua ali, o atraso imposto por uma concentração caríssima. E totalmente ultrapassada. Os treinadores são obrigados a calar. Não têm coragem de enfrentar os presidentes da CBF. E tirar o Brasil daqui. A inutilidade de tanto frio chega a ser revoltante. A principal competição que o Brasil disputa é a Copa do Mundo. E ela é disputada no meio do ano. 90% das vezes em países onde o clima é quente. Como na Europa.

Por exemplo, na Copa da Rússia. Em Moscou entre junho e julho, as temperaturas chegam a 30 graus. É verão, desde que o mundo é mundo. Não se justifica uma preparação no inverno. Como o Brasil se obriga a fazer. Preparadores físicos e fisioterapeutas sabem da inacreditável preparação. Mas se calam. Para manter seus empregos, quando trabalham com a Seleção. Quem teria voz para expor o absurdo seriam os treinadores. Mas também se calam publicamente. A CBF tem um elefante branco de 151 mil metros quadrados na mão. Mas ninguém assume. E todos fingem não ver. Como se fossem tomados por um ruço mental.

Para completar o quadro aqui em Teresópolis, há a rejeição da cidade em relação à Seleção. Os moradores seguem revoltados por terem sido enganados pelo governo federal. Em 2011, Teresópolis estava entre sete cidade serranas atingidas por uma terrível tromba d"água. Morreram centenas de pessoas. Bairros foram devastados. A promessa de reconstrução da cidade, de novas moradias foi esquecida com a crise financeira que domina o país. Manifestantes foram à porta da granja Comary no domingo. E mostravam cartazes com a triste frase. "Não queremos tocha (olímpica). Queremos nossa casa." O aluguel social que bancaria as pessoas atingidas pela tragédia parou de ser pago. A catástrofe deixou 30 mil pessoas da região serrana carioca sem casas. Há cinco anos e meio...

Há também uma crise na educação em Teresópolis. Professores reclamam de falta de pagamento. Da falta de dinheiro para merendas decentes para as crianças nas escolas públicas. Se dizem revoltados pelas mordomias oferecidas aos jogadores na luxuosa concentração. E a cidade trata com enorme indiferença a Seleção. A população se cansou. O clima de decepção com a Copa do Mundo ainda prevalece. Nada de caricaturas e faixas de incentivo para a Seleção pela cidade. O time olímpico está na concentração errada. Na cidade errada. No clima errado. O vexame de 2014 não serviu de lição. Pelo contrário, tudo segue estagnado. Só faltam Mumuzinho e Luciano Huck para interromper os treinos. Mas a promessa é que eles virão. Acompanhados do ruço...




Fonte: Esportes R7
Autor: cosmermoli
Publicado em: 19 Jul 2016 07:35:26

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