quinta-feira, 7 de julho de 2016

Leonardo mostra porque ainda é incompatível com a CBF de Marco Polo del Nero. Sabe que não há o menor interesse em modernizar o futebol deste país. A revolução deveria acontecer nos clubes. Mas os dirigentes são acomodados, presos aos vícios do coronelismo...

Leonardo mostra porque ainda é incompatível com a CBF de Marco Polo del Nero. Sabe que não há o menor interesse em modernizar o futebol deste país. A revolução deveria acontecer nos clubes. Mas os dirigentes são acomodados, presos aos vícios do coronelismo...




Fernando Prass é o goleiro titular do time Olímpico. Rogério Ceni acaba de voltar como auxiliar do demitido Dunga, na fracassada campanha do Brasil na Copa América Centenário. Juninho Pernambucano virou comentarista da Globo. Paulo André está muito mais silencioso no Atlético Paranaense. Os principais articuladores do movimento Bom Senso estão engajados no sistema. As críticas e as articulações contra o atraso da CBF e o calendário imposto pela TV Globo desapareceram. Nem ameaça de greve por melhores reivindicações de trabalho dos jogadores. Tudo segue muito parecido com 30 de setembro de 2013, quando o Bom Senso FC nasceu. Só as vozes perderam a veemência, se acalmaram. Até quem assinou a petição exigindo a demissão de Marco Polo de Nero recebeu um beijo na face e o comando da Seleção Brasileira. Não é Tite? Apenas uma pessoa segue fiel ao que aprendeu. A que servia de Norte para o movimento. E que esteve cotado para assumir a coordenação da Seleção. Só que, na última hora, Marco Polo foi aconselhado a se conter. Ele poderia produzir estragos irreparáveis na estrutura do futebol brasileiro. Estragos para aqueles que se acostumaram a agir como no tempo do coronelismo. Fazendo as próprias leis. Fingindo que o mundo moderno não existe. Leonardo. Ele acaba de dar uma entrevista muito interessante à Folha. Além das lições que deveriam ser decoradas, deixa claro porque não foi chamado por Marco Polo. Sua visão é incompatível. Seria uma revolução grande demais. Ela vai acontecer. Está acontecendo. Mas paulatinamente, amarrada aos fracassos do Brasil. Por não se adaptar, o futebol imita o país, e vai ficando para trás. Com o estigma de defensor do atraso. Desperdiçando gerações. Sem entender seque o que está acontecendo...

Alguém da CBF conversou com você, fosse um convite ou troca de experiências? Nunca fui procurado. Talvez porque minhas posições tenham sempre ficado bem claras e sejam distantes do que existe hoje. Mas veja. Não quero falar que a CBF é isto, aquilo. Temos de sair um pouco da fase de lamentação. Temos de ir para a fase da ação. Pessoas de outros segmentos têm conversado com você? Talvez a CBF não tenha me procurado porque minha volta ao Brasil não é fácil. Importante também dizer isso. Não sou candidato a nada. Estou muito enraizado na Europa. Mas participar é bom. As pessoas me procuram muito hoje, sim. Os clubes, o Bom Senso, pessoas que querem aprovar leis, jogadores, treinadores. Você não é candidato a nada. Mas se fosse presidente da CBF, o que faria? Partiria de um projeto dos clubes. Não existe futebol forte sem clube forte e campeonato forte. Hoje, a CBF teria essa missão. Mas seria importante se ela ajudasse a criar uma liga. Mesmo os clubes não trabalham isso. Então o presidente da CBF precisa ser o cara que mude o futebol brasileiro. A visão hoje é política, não é esportiva nem econômica, o que freia nossa evolução. A política nos impede de ser atuais. A situação política atual permite esse avanço?
Independentemente da posição do presidente da CBF ser delicada, ele poderia ser o piloto de uma nova estrutura do futebol. Já convivi com muitas esferas de poder. Sei como é difícil ceder. Mas hoje nosso futebol está cada vez mais deteriorado. É momento de ceder um pouco. De ser o criador de um projeto que estimule os clubes a serem gerenciados de outra maneira. É um problema a estrutura dos clubes também ser política. Seus dirigentes não são escolhidos porque têm formação, porque estudaram, prepararam-se. São políticos também, o que é muito ruim.

No Brasil, o "negócio" é visto muitas vezes só como exportação de atletas. É possível criar torneio relevante que reduza a obrigação de exportar? É possível, porque somos o Brasil. Não quero ficar sentado nos louros do passado. Pode ter um produto vendável, com qualidade. Sabemos produzir, mas não conseguimos mais. Mas é necessário partir de um projeto dos clubes. Só os clubes podem salvar o futebol brasileiro. Qual o primeiro passo? No início, tem de haver uma mudança da estrutura jurídica de todos os clubes. E a criação de uma entidade que regule esse novo campeonato. Hoje, a notícia que acontece no Brasil não sai nem na Argentina. A China está investindo na Europa e não no Brasil, porque o Brasil não tem estrutura nem credibilidade. Para investir, precisa mudar a estrutura jurídica [refere-se à criação de clubes empresas ou outros mecanismos que permitam a entrada de capital estrangeiro]. A China é só um exemplo. O importante é ser sempre atual para captar os investidores do momento. Isso tudo tem de passar pelos clubes, mas a CBF tem de ser a aglutinadora de um mercado de clubes que hoje só brigam por política. Você acha que um dirigente hoje investe mais na relação política ou nas divisões de base?

De quanto tempo o Brasil precisa para voltar ao topo? Leva tempo, mas o maior problema é conseguir que todos pensem assim. Jogadores, dirigentes, federações, imprensa, torcedores. Estamos todos divididos. Não quero saber do passado. A Justiça pode querer saber disso. Mas daqui para a frente, o objetivo precisa ser fazer outro futebol. Você detalhou a crise do futebol brasileiro. A crise da seleção é do mesmo tamanho?
A seleção é sempre consequência do futebol brasileiro, não o contrário. Hoje, o jogador médio do Brasil é pior do que o médio das grandes potências. E isso passa por formação. Oito de 11 jogadores são bem formados na Europa. Eles fazem a diferença. Temos de aumentar a nossa média com nova metodologia de treinamento. O país dará vexame na Rússia?
Pode chegar com o mesmo time, acertar o ambiente, criar coisas positivas e vencer. Mas se tiver dez competições, não vai ganhar cinco como acontecia no passado. A formação aqui é muito apressada. O brasileiro vai para a Europa e diz: "Aqui se treina melhor, aqui me recupero mais rápido". Não que o Brasil não saiba. Mas precisa ter metodologia. O jogador na Europa conhece mais o jogo. A gente não tem cultura do treinamento. Então, um menino na Europa, aos 15 anos, pode ter menos talento, mas tem mais competitividade. O que representou o 7 a 1?
O 7 a 1 acabou colocando tudo isto em evidência. Nunca discutimos profundamente nossos problemas, porque não tinha acontecido uma catástrofe. O 7 a 1 levou nossa auto-estima. E a auto-estima nos fez ganhar muito. Convencia até os adversários de que éramos melhores. Mas há outras coisas a pensar sobre a Copa no Brasil. Que voz os clubes tiveram na organização da Copa do Mundo? Nenhuma. Nenhuma. Como você faz o maior evento, que pode trazer mil benefícios e nenhum clube se senta na mesa. A Alemanha usou a Copa para fazer da Bundesliga o segundo campeonato mais importante da Europa. Fez centros de formação e aumentou a média de audiência em televisão e no estádio. São as maiores da Europa. Tudo a partir de um evento. Estamos na idade da pedra de gestão. Hoje se tiver um jogo da Champions League e outro do Brasileirão, as pessoas assistem à Champions. Você é pessimista? Isto tudo não sonho. O Brasil pode fazer. Mas hoje não tem união de todos os setores. A gente não sai do lugar por causa disso. Se eu fosse presidente da CBF, eu faria tudo a partir dos clubes.




Fonte: Esportes R7
Autor: cosmermoli
Publicado em: 02 Jul 2016 10:08:56

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