quarta-feira, 20 de julho de 2016

O lastimável fim de carreira de Jean Chera. O primeiro jogador que a Internet convenceu o mundo: era o Messi do Mato Grosso. Melhor que Neymar. "Nunca foi o Pelé branco. Infelizmente"...

O lastimável fim de carreira de Jean Chera. O primeiro jogador que a Internet convenceu o mundo: era o Messi do Mato Grosso. Melhor que Neymar. "Nunca foi o Pelé branco. Infelizmente"...




É um manual de como o amor pode estragar uma carreira. Não há a menor dúvida para quem o conhece, do quanto Celso amava e era orgulhoso do seu filho Jean Carlos. Desde os primeiros passos amava a bola de plástico que seu pai lhe deu. Orgulhoso com a incrível habilidade do menino, o pai o incentivava todos os dias a brincar com a bola. A dominá-la, a driblar as cadeiras, aprimorar os chutes. Como muitos e muitos outros homens que sonham com uma carreira que pode trazer fortuna e fama ao filho. E à família. Conforme crescia, o dom natural de Jean Carlos era algo extraordinário. Fora do comum. Vera, pequena cidade do Mato Grosso. Ele um dos primeiros atletas a usar a força da Internet, do Youtube. Em vez de dvds que só empresários viam, suas jogadas passaram a ser observadas pelo mundo todo. Tanto que Marcelo Teixeira, então presidente do Santos, se apressou em trazer o garoto para a Vila Belmiro. Desembarcou com nove para dez anos. A assessoria de imprensa santista bombardeou as redações. A mando de Teixeira. O Santos queria usar a imprensa para anuncia aos clubes europeus que tinha uma joia. E com dom para fazer vale o apelido que enchia o pai de orgulho, Messi do Mato Grosso. Fazia justiça à sua perna esquerda, capaz de jogadas fabulosas para a idade. Seu prestigio era maior do que o de Gabriel, atacante atrevido. E de um tal Neymar, três anos mais velho. Jean Carlos viu a Umbro confeccionar uma chuteira com seu nome. Algo incrível para um garoto. Repórteres faziam fila para entrevistá-lo. Ele despertava muita curiosidade. E trazia nos jornalistas a exagerada certeza que estavam entrevistando o "novo Messi". Foi assim com 12, 13, 14, 15 anos. Até que chegou a hora de assinar seu primeiro contrato profissional. Marcelo Teixeira não era mais presidente do Santos. E o futebol também não era o mesmo encantador. Seu pai alegava que o talento continuava lá, só que havia muita inveja. O filho não recebia passes. Era boicotado pelo restante do time. Tanto que virou reserva. E Celso não se conformou, cobrando, xingando os treinador da base. Na hora de acertar o primeiro contrato, a pedida foi assustadora. R$ 75 mil no primeiro ano. R$ 100 mil no segundo. E R$ 130 mil no terceiro. E mais R$ 1 milhão de luvas. Luis Álvaro não queria pagar nem metade. Pensava em algo como R$ 40 mil. Recebia R$ 20 mil até os 15 anos.

Diante da resistência de Celso, que ameaçou ter várias propostas da Europa, Laor resolveu que o garoto estava dispensado. Que fosse embora do Santos. "Quem tem a boca grande, não come nada. Não vamos fazer loucuras. E nem ficar refém de ninguém. Não tenho a mínima certeza que ele vai mesmo virar um grande jogador. Pode ir embora. O que seu pai pediu, não pago." E Celso pegou o filho pela mão e foi embora da Vila Belmiro. Para quem sonhava com o Barcelona, Real Madrid, Bayern, Milan...O destino era muito mais modesto. O Genoa da Itália. Mas logo nos primeiros treinamentos, decepcionou. E não foi contratado. O que correspondeu às informações que Laor tinha e o fez enfrentar Celso. Treinadores e preparadores físicos da base garantiram que Jean Carlos não iria se firmar como grande jogador. Os motivos? Mimado desde os dez anos, não aprimorou sua forma física. Se limitou a treinar sua perna esquerda. Não sabia cabecear, usar a perna direita. Não queria saber de marcar. Não tinha intensidade.

Sem velocidade, força física, era facilmente anulado por atletas muito piores tecnicamente do que ele. E não adiantava forçar porque o pai acreditava que seu filho estava certo. Tudo não passava de perseguição e inveja de tanto talento. E também uma maneira de a diretoria desvalorizá-lo para conseguir assinar contrato. Não quis ver a realidade. Seu filho parou no tempo. Não se aprimorou. E muito pior. Acabou prisioneiro do passado. Vítima do que já havia feito como garoto. Como muitos jovens atores que perdem a graça, o talento quando crescem. A depressão costuma ser grande amiga, conselheira nestes casos. Depois que saiu do Santos, Jean Carlos acumulou fracassos e mais fracassos. Passou e foi dispensado por Flamengo, Atlético Parananense, Cruzeiro, Oeste de Itápolis, Universitatea Craiova (Segunda Divisão da Romênia), Paniliakos (Terceira Divisão da Grécia), Buelna (clube que disputa torneios regionais da Espanha).

Voltou ao Brasil e passou pelo Cuiabá, time da Terceira Divisão do futebol brasileiro. Também não se firmou. Há muito que seu pai havia deixado de acompanhar o filho. Jean Carlos se aventurou só na Romênia, na Grécia e na Espanha. Sem Celso, Modesto Roma ofereceu uma chance a Jean Carlos. Com apenas 21 anos, ele voltava ao clube que virou as costas, cinco anos atrás. Só que o presidente foi claro. Oferecia R$ 900,00, a chance de treinar. Acabou emprestado para a Portuguesa Santista. Para disputar a Quarta Divisão do Campeonato Paulista. Lento, sem conseguiu mostrar a habilidade de menino, outra vez decepcionava. Teve uma contusão. Torceu o tornozelo esquerdo. Ele inchou. Precisava fazer tratamento médico para voltar a jogar. Só que se cansou. Pegou suas coisas. Virou as costas para o contrato.

Pegou sua namorada grávida de oito meses, colocou os móveis de sua casa para vender, os anunciava no facebook. E decidiu morar no Mato Grosso. Quer acompanhar o nascimento do filho, que nasce em agosto. E depois decidirá se retoma ou não a carreira de jogador. Seus amigos e familiares garantem que parou de vez. Aos 21 anos, Jean Carlos terá seu segundo filho. Se decidir ficar pelo Mato Grosso, poderá perceber. Verificar se a genética reproduziu seu talento. Quem sabe, comprar uma bola de plástico. Treinar o filho, como pai fazia. Mas sem perder a noção da realidade. Fazer com que as pessoas parem de fazer uma cruel relação. Entre o sobrenome Chera e a desilusão. "Nunca fui o Pelé branco, infelizmente..."




Fonte: Esportes R7
Autor: cosmermoli
Publicado em: 19 Jul 2016 12:01:02

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