domingo, 10 de julho de 2016

Os erros do São Paulo na semifinal da Libertadores. Tornar Maicon um semideus de videogame. E se iludir em relação ao próprio potencial. Agora só resta um milagre em Medellin...

Os erros do São Paulo na semifinal da Libertadores. Tornar Maicon um semideus de videogame. E se iludir em relação ao próprio potencial. Agora só resta um milagre em Medellin...




God of War é um dos jogos de ação mais vendidos no mundo. Nele existe um personagem marcante. Seu nome é Krato. É um semideus dominado pelo ódio, fúria, rancor. Enganado por Ares, Deus da Guerra, ele promove um massacre. Entre os mortos estavam sua esposa e filha. Seu descontrole é tanto que não as percebe. Como castigo, as cinzas de sua família grudam na sua pele, a deixando acinzentada. Kratos decide então matar o próprio Deus da Guerra. E comete inúmeros massacres até chegar a ele. Torcedores são paulinos perceberam uma grande semelhança do personagem careca, de cavanhaque, cheio de músculos e cicatriz no rosto. Ele lembrava Maicon. O que fez o departamento de marketing do São Paulo? Resolveu faturar em cima da idolatria. E criou uma campanha tão pretensiosa quanto juvenil. Maicon se transformou no "God of Zaga". E camisetas com o rosto do jogador,com o número 27 estilizado, passaram a ser vendidas por R$ 69,90. Além disso, criou o Dia do Fico. Quando Maicon foi obrigado a gravar um vídeo anunciando, tal Dom Pedro I, sua permanência no São Paulo. Foi além ironizou o The Strongest. De maneira nada elegante. "Chupa, estrogonofe!" Marketing ou mera molecagem? Esses mesmos marqueteiros ofenderam o torcedor que não tem dinheiro para acompanhar os jogos no Morumbi? O que precisa acordar às seis da manhã no dia seguinte e não pode chegar em casa às duas da madrugada, para acompanhar o jogo no Morumbi, estádio que não possui metrô por perto? E estamparam a provocação "Cadê você aí no Sofá?", com uma oportunista foto de Calleri depois de ter marcado quatro gols contra o Trujillanos.
Os ingressos para o jogo de ontem custavam, para sócios torcedores, entre R$ 150,00 e R$ 400,00. Com 12 milhões de desempregados no país, o departamento de marketing ironiza, despreza inúmeros são paulinos que gostariam de pagar, mas mal têm condições de viver. Enquanto isso, Leco empenhava quase o total do patrocínio master para comprar o jogador. A Prevent Sênior pagará R$ 25 milhões por 19 meses de contrato com o São Paulo. R$ 22 milhões vão para o Porto para pagar Maicon. Fora os 50% de Lucão e Inácio, que são avaliados em mais R$ 8 milhões. No Morumbi, os dirigentes o tratavam como uma reencarnação de Lugano. E garantiam que, nestes quatro anos de contrato, ele se tornará não só capitão do São Paulo. Mas da Seleção na Copa da Rússia.

Fora as milhares de mensagens nas redes sociais de torcedores implorando para o zagueiro ficar. Não voltar para o Porto, de maneira alguma. Campanha endossada por inúmeros repórteres que cobrem e amam o clube. Era como se a permanência de Maicon para disputar a semifinal da Libertadores seria a garantia de título. Essa postura exagerada, tosca, dominou o subconsciente coletivo dos são paulinos. Maicon era respeitado no Porto. Foi capitão do time. Saiu de lá se sentindo tremendamente injustiçado. Por falhar em um gol do pequeno Arouca. E pedir substituição em seguida, alegando contusão. Imprensa, torcida e diretoria do clube português duvidaram da sua lesão. Viram como um ridícula desculpa pelo gol que deu de presente. Houve uma campanha para que ele nunca mais vestisse a camisa do Porto. Por isso veio parar no São Paulo. De repente, a rejeição se transformou em idolatria. E Maicon se sentiu pressionado para retribuir. Já que havia virado Kratos no imaginário popular, não iria permitir que Borja o desafiasse, fizesse o time perder tempo. Não iria reter o jogo. Não. Diante dele, não. E por isso, além de tomar a bola, ele tinha de esfregar sua mão no pescoço do colombiano, para mostrar quem é que mandava. O atacante desabou diante do toque do zagueiro. A torcida são paulina vibrou, orgulhosa. Mas a alegria durou dois segundos. O árbitro Mauro Vigliano deve ser um alienado. E não percebeu que estava diante do general espartano de God of War. E expulsou não o personagem. Mas o capitão do São Paulo na semifinal da Libertadores, não era brincadeira. O Atlético Nacional que já dominava a partida, teria cerca de 20 minutos com um atleta a mais. Maicon caiu em si. Veio o choro, o arrependimento. Percebeu o que fez. Não "assassinou" a família, como o personagem. Mas "matou" a chance de o São Paulo vencer o jogo.

Sem a perseguição de Maicon, ótimo zagueiro, Borja marcou dois gols. E deu uma vantagem fabulosa para os colombianos decidirem a chegada à final em Medellin, onde passaram toda a competição invictos. O que era euforia ontem pela manhã, se transformou na mais profunda angústia no Morumbi. O São Paulo corre o sério risco de enorme prejuízo se não chegar à final. No jogo de ontem, a arrecadação foi fantástica. 61.766 quebraram o recorde de público no Brasil em 2016. E, a preços exorbitantes, bancaram R$ 7.526.480,00, a melhor arrecadação deste país. A segunda havia sido também de um jogo do clube na Libertadores, R$ 4.137.596,00, contra o Atlético Mineiro, nas quartas de final. A previsão é que se o time chegasse à final, arrecadaria mais de R$ 10 milhões. Mas Leco e seus dirigentes estão desesperados. Sabem que as chances são remotas. Maicon já está fora, suspenso. O departamento médico do São Paulo não garante Paulo Henrique Ganso. O tratamento do estiramento no músculo adutor da coxa direita é intensivo. Manhã, tarde, noite e madrugada. Mas a possibilidade de atuar é perto do zero. Os médicos sonhavam em colocá-lo no campo em uma eventual final. Não já na próxima quarta-feira. O risco de entrar, atuar alguns minutos e o músculo voltar a se romper é imenso. O jogador segue insistindo, pedindo para ser liberado para o Sevilla de Sampaoli.

Kelvin está melhor. Mas mesmo assim, não há garantia alguma que suporte a intensidade de uma semifinal. Ainda precisando ser o velocista driblador que Bauza precisa. A única substituição garantida é por ironia, o jogador que foi contratado para dar a esperança de conquista da Libertadores. Diego Lugano. Aos 35 anos, ele voltou para a última temporada de sua carreira no clube que mais ama. Só que seu rendimento ficou abaixo de Rodrigo Caio e Maicon. O uruguaio se tornou mais do que reserva, auxiliar extraoficial de Bauza. O grande líder encarregado de passar vibração, coragem ao time. O jogador que merece o epíteto de "Dios". Sim, isso mesmo, Deus. Lógico que o departamento de marketing do São Paulo fez também a camiseta referente ao jogador. Seu rosto sangrando, com a palavra Dios embaixo. Mais juvenil impossível.

A verdade é que Lugano não tem mais a mesma explosão muscular, o poder de antecipação, o excepcional jogo aéreo. Requisitos que o transformam por anos como capitão da Seleção Uruguaia. A raça, a personalidade empolgante seguem a mesma. Enquanto isso, Bauza sonha com o convite para dirigir a Seleção Argentina. Se for convidado, aceitará imediatamente. A cúpula são paulina sabe. A diretoria segue sem confiar em Denis. E arrependida de não ter comprado um goleiro experiente, de renome, para substituir Rogério Ceni. Ouviu o ex-goleiro que seu reserva poderia substituí-lo. E em amargo silêncio não se conforma. A mística ligação entre São Paulo e Libertadores existe. Foi o clube que redescobriu a importância da competição sul-americana. O tetracampeonato é um sonho latente em cada torcedor. Mas Bauza nunca escondeu. Com a experiência de treinador que conquistou dois títulos com times "no limite", LDU e San Lorenzo, ele avisou os dirigentes. O time precisava de mais reforços. Só que não havia dinheiro. Aidar deixou uma dívida de R$ 272 milhões. Maicon foi irresponsável. Conseguiu uma expulsão infantil. Sabotou o time que já estava sendo pressionado pelo Atlético Nacional. Mas a verdade fria e crua é que o São Paulo se comportou como seu departamento de marketing. Vendeu ilusão. O time está no seu limite na Libertadores. A campanha não foi aos trancos e barrancos à toa. A imprensa também tem culpa. O time acumula cinco vitórias, quatro empates e quatro derrotas. Não é uma caminhada de campeão. Mas o carisma de Bauza, a simbiose entre clube e Libertadores, a superação nos jogos no Morumbi, o departamento de marketing. Tudo se juntou para atrapalhar o julgamento isento. O time bateu de frente no seu limite.
O Atlético Nacional não é imbatível. Mas tem oito vitórias, dois empates e apenas uma derrota na Libertadores. É o melhor time da competição. Tem caminhada campeão. O cenário é terrível. O desânimo, enorme.

Mas não é justo colocar tudo na conta do desatino de Maicon.

O São Paulo era o clube brasileiro que menos crédito tinha quando começou a Libertadores. Teve de suar para conseguir passar para a fase de grupos. A classificação foi um sufoco às oitavas, suando sangue contra o The Strongest na altitude de La Paz. Ganhou e perdeu do Toluca. E do Atlético Mineiro.

Agora está diante de um rival superior.

Já perdeu em casa.

Vai tentar um milagre em Medellin.

Se a façanha não vier, que não queimem a camiseta do God of Zaga.

Que Leco inicie um planejamento racional para a Libertadores de 2017.

E repense esse arrogante departamento de marketing são paulino...



Fonte: Esportes R7
Autor: cosmermoli
Publicado em: 07 Jul 2016 11:11:46

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